pedrojorge
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« em: Janeiro 11, 2008, 21:33:42 » |
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Os homens levantaram-se primeiro enquanto as mulheres acabavam de comer, falaram em assuntos particulares. O empregado esquadrinhou-os com o seu olhar distante, por mero acaso, para se inserir no mundo. — Porque é que a sua filha e o meu não vieram? — Perguntou Carried directamente sem hesitar. — Sinto que algo se passa de errado. — Não. O marido da minha vizinha morreu e eles andam a ajudá-la. Sabe que nas cidades não é muito vulgar ajudarmo-nos? — Pois. Mas somos os seus pais e eles deveriam ter mais cuidado. — Eles também andam muito ocupados com o casamento, os preparativos, e eu também, até tirei folga uns dias para lhes preparar tudo. — Sei que esta conversa não é muito apropriada, mas tem que perceber: eles não vieram ver-nos! — Fale com a sua esposa… Não queria que criasse um clima de mau estar entre nós, queria que estes dias fossem agradáveis. — Uma certa reacção misteriosa sobressaltou do íntimo de Carried aquando do: fale com a sua esposa. — Desculpe a nossa antecipação em julgar há bocado. — Não faz mal, eu é que tenho de me desculpar. Acho que neste mês poderemos vir a tornarmo-nos grandes amigos. — Também estudei, sabe, acho que isso vai ajudar. — Infiro que sim. A sua esposa levantou-se seguida da filha. Carried pareceu transmitir-lhe uma mensagem sem qualquer sinal de tudo estar resolvido, pois logo que se levantou demonstrou um ar mais livre e harmonioso. Talvez seja mesmo do seu tipo de pessoas esclarecerem todos os problemas assim, directamente, e já estar tudo programado, ou estarem habituados a serem assim, a razão pela qual a mulher previu que estava tudo bem entre eles. — O jantar estava divinal. — Proclamou a filha de Carried a soluçar. Saíram de relâmpago como se lhes apetecesse respirar o ar exterior. Continuaram a caminhar e acabaram por andar às voltas pela cidade a passear, como se o receptor fosse a única pessoa que queriam ver ou conhecer. Falaram dos mais variados assuntos e a filha tentou produzir algumas palavras em inglês com mais regularidade. Finalmente aproximaram-se de casa, um edifício. David vivia num lote com cinco quartos, suficientes para acolher a família. Subiram as escadas sem recuar ou olhar para trás. Tocaram à campainha. David prognosticou algo de errado quando a porta não abriu. — Já são onze… — Grande diferença de fuso horário! — Eles deviam estar em casa, não percebo. — Revolveu o cabelo similarmente ao que costuma fazer nos momentos em que não sabia o que fazer. — Vou ter de descer para ir buscar a chave que tenho escondida no carro. — Disse-o porque não tinha medo, estas pessoas seriam da sua família e não poderia ser tão desconfiado, embora se perguntassem quantos carros tinha... Desceu tão rápido como um foguetão e depois regressou com a chave na mão, abriu a porta. A casa estava exactamente igual, parecia que tinham-na abandonado para ir de encontro a uma notícia que chegara num momento imprevisível e que também o era, ainda que a sensação de que apenas saíra e fora visitar a casa da vizinha fosse esquisita, apesar de ela andar sempre a caminhar até lá, dia após dia depois da morte do seu marido a mulher de David, Lara, andara sempre em sua casa a aconchegá-la com frases enaltecedoras. Ela também fora a primeira a saber da morte: viu a vizinha ajoelhada no meio da chuva a tentar esconder as lágrimas que enchiam o seu rosto, abeirou-se dela e abraçou-a com toda a força mesmo sem a conhecer muito bem. — Ela pode estar em qualquer lugar! — Insinuou Carried. — Penso que não, quando ela sai fundamenta sempre os locais para onde vai. — Telefone-lhe. — Por enquanto vou só ver a casa da minha vizinha. — Saiu a correr preocupado, angustiado, a prever o pior. O telefone no exacto momento em que ele atravessa o corredor toca e como já se afastava no fundo da tribuna do andar não o ouviu, nem os visitantes a chamá-lo. Por outro lado os visitantes não tiveram coragem de atender. — Atendemos? — Perguntou a filha suspensa pelo susto depois da mãe lhe contar a situação. — Não. Não sabemos falar espanhol. Se for urgente já volta a ligar. David esperava impacientemente à porta de casa da senhora Lopez. Permaneceu silencioso até que a ventilação, que sobressaltou das gretas da porta, o acordou.Continua
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