Uivam por ti meus poros.

[22segundos]

Uivam por ti meus poros.

Uivam por ti meus poros,
As portadas com que me sistemizo.
Eriçam-se por ti meus pêlos,
As lanças com que (indolente) me eternizo.

Ah! Uivam por ti meus poros,
Ah! Gritam lancinantes no breu,
Florestas duras, labirísticas, negras
Levem (desafiantes) o meu suplício ao céu.

E te grita a epiderme louca,
E te implora a salvação em salmo,
Sim, matas-me em paulatino tormento,
Obreiro concentrado (tão imperturbável!), calmo.

E fervilhas-me pela pele,
Milhões de cataclismos atómicos,
Rodas-me a mente em carrossel,
Big bangs, inícios cósmicos.

E formigas-me pela derme,
E aos poucos penetras tão fundo,
Maremotos, terramotos - cataclismos,
Mudaram-me a face ao mundo.

E onde começo, onde acabo,
o que sou em alteridade,
A pele, a minha fronteira,
Tem a tua identidade.

Perdi-me da minha alcateia,
Estou sem nada, sózinha aqui,
Amor, vem-me recolher o corpo,
Amor, toma-me toda p'ra ti.

Ah! Porque me esventras o corpo?
Ah! Porque me acabas assim?
Uivam (perdidos) por ti meus poros,
Uivas chorando em mim.

E subo ao planalto mais alto,
E atiro o pescoço ao infinito,
Lunares brilhos me embalam,
me desafiam e me suportam o grito.

Ah! Recomeças-te-me o mundo,
Ah! Génesis, mitose original,
Quando te insinuaste nos poros,
(Fulminaste-me, pulverizaste-me)
Fundiste-me no universo total.
Ah! Novo cosmos, nova vida,
Ah! Novo tudo, um novo eu,
Sabes-me, bebes-me tão fundo,
(Escorres-me pelos poros)
O que sou já não é meu.

22segundos

[Goreti Dias]

Atirar o pescoço ao infinito e fundirem-se assim é uma dadiva!
Um beijo

[22segundos]

Cara Goretidias:

E não é ao infinito que se confidencia o que não se confessará jamais a viv'alma? É esticar o pescoço para o gritar melhor. Quanto maior o grito maior o gosto a libertação.
Obrigado,

22segundos.