Figas de Saint Pierre de
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« em: Setembro 23, 2009, 20:08:21 » |
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Um quarto, duas camas, quarto de banho completo, duas mesas, numa uma jarra com flores. Sobre uma bandeja uma garrafa, com água e respectivo copo. Quarto pintado de azul, cortinas abertas, cor celestial que entrava e banhava a cama, onde a doente se encontrava, confortada por freiras, prestes a ser operada ao canal cárpico. Logicamente, esperava ser operada por um “santoâ€, que fizesse o Céu esperar. A doente, já a soro, que vinha lá do alto, em pingue pingue, monótono, estava impaciente, devido ao facto da operação estar marcada, na terra, para as 14 horas. Muito antes, e em jejum desde o dia anterior, já tinha feito todos os exames e análises preparatórios.. Restava-lhe esperar pelo senhor Doutor e ir de “carrela†para o bloco. Na televisão do quarto passavam lindas imagens de locais paradisÃacos, para férias, mas a doenteja já se sentia-se torturada, pela espera e já via tudo negro e todo aquele azul ia já a caminho dum cinza muito escuro! Às 15 horas, uma Irmã, vestida de azul, informou que o senhor doutor, afinal, só viria à s 16h. A doente mostrou seu descontentamento à irmã celestial, que conhecedora das fraquezas humanas, disse: - Sabe como é. Isto de doutores são como os polÃticos, prometem, prometem! A doença pega-se! Vai ver que ele terá uma boa desculpa - disse a sorrir, a freira.
Finalmente o Doutor chegou, mas, para desilusão da doente, foi tratar de um caso mais urgente: operação à coluna de um outro seu doente! Grande desapontamento, porque o canal cárpico tinha sido preterido! Todo aquele azul do quarto foi passando para amarelo de impaciência e verde de desespero! Um crucifixo, pregado na parede, parecia dizer: - "Tem paciência. Aguenta que é serviço. Há anos que aqui estou e nem soro me dão, apesar das esmolas que em meu nome metem ao bolso!" Realmente, vendo bem, o que era um simples canal cárpico, comparado com uma subida ao calvário e uma crucificação sem anestesia?
Pelas 17h, entrou uma mensageira da cozinha, indagando o que é que a doente e acompanhante queriam para o jantar. - "Jantar? Afinal, disseram-me que seria operada à s catorze horas e que à s dezasseis já me poderia ir embora..." Teria que ficar a noite no hospital! Que chatice! Até porque o marido não lhe tinha trazido pijama. Que maçada! O telefone tocou. Era uma amiga que perguntava se a operação tinha corrido bem. Que não, disse a doente. Que ainda não tinha sido operada. Do outro lado adivinhava-se o som da frase: - "Oxalá que corra tudo bem". Frase várias vezes repetida. Finalmente, perto das 18h lá foi a doente, de maca e com moral fraca. O quarto azul ficou à espera da ressurreição. Quando regressou ao quarto, ainda um bocado anestesiada, não reconhecendo aquele vulto no quarto, perguntou-lhe: - "Romeiro, quem és tu?" - "Sou aquele que não trouxe pijama", respondeu o marido, brincando, Vou dormir, se calhar nu, neste quarto azul. O soro continuou o seu pingue pingue. A televisão anunciava descida nos preços das viagens! O canal cárpico já estava desentupido. O sangue nele circulava livremente. Depois foi só pagar, não as viagens de sonho, mas o pesadelo da conta! Não em pingue pingue, como o soro, mas numa só dose! Diria que de cavalo! Contudo, aquele quarto azul e as irmãs celestiais deixaram uma antevisão dos serviços no ParaÃso. Como serão no Inferno? .........................xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.... ........................ Figas de saint pierre de lá buráque, Gondomar .
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