www.pedrojorge-toe.blogspot.com (desponta da técnica do filme e BD Basin (Sin) City)
Estrada, riscos, alcatrão, pé atrás de pé, caminhava há vinte horas, as sapatilhas arruinavam-se, num recife de plástico descoalhado, as nuvens, as nuvens… Surgiam toros esfolados, na mediocridade celestial diurna, passara a noite frÃvola, fervia o dia, no verão árido, árvores abatidas ali e acolá, secas, ruÃdas, remoÃdas, com caruncho, os minerais expurgados, um bruxo os atirara, de mãos enrugadas, no estéril deserto, coberto por uma gabardina, impermeável; as linhas da vida não passavam, só répteis por ali, animais de sangue frio, por isso ele caminhava há vinte horas e um milésimo de segundo, as sapatilhas arruinavam-se, num recife de plástico descoalhado, as nuvens, as nuvens… e um raio solar Ãnfimo.
Estou há vinte e uma horas num andar de um arranha-céus, desfazem-se nuvens na minha frente, lá fora vejo a imensidão da multidão, construções arrastando-se por cadeias de apartamentos, habitações, milhões de pessoas e vindo isto aos meus olhos interrogo-me se não estaria eu já com o televisor que encomendei há dois dias para o meu escritório no qual iria exibir as apresentações dos meus produtos ligado e a atestar a fidelidade de reprodução, a procurar uma imagem virtual melhor para o mundo em que me encontro. Em suma a portentosa divisão em que me encontro pode ser cerrada e o exterior resumir-se a um deserto cujas areias rodopiam em hélices ou espirais, e no seguimento em vez de me encontrar num arranha-céus escalono-me num primeiro andar, rasteiro, a tentar subir um degrau e não o topo do mundo, o edifÃcio mais alto de Chicago.
Nas últimas três horas, houve um colapso, as 22 horas pessoais foram arrastadas vagamente para as vinte e três horas e também porque a vida são dois dias não interessa muito o número dois, posto que entre o 0 e o 2 há um conjunto infinito de números, mas já que se falou em números inteiros, que se salte para o inteiro seguinte a vinte e dois, e não para os irracionais e para o vinte e um já referido por um sujeito que não interessa ser conhecido pois nunca alguém o tentou conhecer, não era agora que se tentaria fazê-lo… ia a suceder o trilho, abriu os olhos, os minerais subiram à s mãos do feiticeiro, surgiu a cidade, desprovida de crenças em feitiços, o deserto era irreal. Destacava-se astronomicamente um edifÃcio e mantinham-se as mesmas nuvens feitas com os fios das vinte horas e das vinte e uma horas, em números inteiros passa-se muito pouco, torna-se tudo inteiro e há medo de se partir qualquer objecto, por conseguinte as nuvens não mudaram, nem os sonhos. Era uma cidade, a sua agitação era próxima à de um deserto, à monotonia. E se não houver diferenciação, por mais diverso que seja, o que observa, alheio a qualquer movimento do outro lado do vidro, da retina, assente na sua feitiçaria vinda da selva e dos povos indÃgenas, paga por eles para ser cumprida em absoluto ferver de água, um fervilhar que se dá à temperatura do zero absoluto, irá percepcionar como se estivesse num zero absoluto. Desse prédio destacava-se uma janela que tinha interior, na janela uma massa de sujidade, nessa massa de sujidade um micróbio e não abrandando, ou perdendo caracterÃsticas, esta filiação de destaques continua até ao… no interior, o exterior para si, para lá da janela, de frente a um topo a centenas de metros de altitude, mirado diagonalmente, via um sujeito que parecia olhar para aquela janela como se de um visor se tratasse…
Nem paguei a conta, nem recebi a factura para pagamento, nem a entrega, nem conta há então, só posso ver a cidade e nas profundezas, pois o mundo é aqui em cima, vejo um tipo descabelado, à graça do vento desértico originada pelo delineamento que os prédios lhe dão, estou apavorado, sinto-me abandonado, vago, desprovido de alguém que me socorra daquele olhar inquisitivo, oriundo de um mundo que me contavam em fábulas e contos de ficção infantis, mas ainda assim me abraso em medo, babo-me de angústia, vacilo de temor, ponho as mãos nos joelhos, interrogo-me se devo rezar, estou há 24 horas aqui e percebe-se que ele veio de fora da cidade e sem vir de táxi porque a sua gabardina não tem bolsos e não sendo deste paÃs só pode ter embarcado até ao aeroporto que permite tal coisa, passaporte só na entrada e então caminha há 23 horas até aqui, desde os confins desta metrópole.
Os relógios tocaram as 17 horas, para os dois, contando com a relatividade e tempo humanamente perceptÃvel.
Tummmmmmmmmmmmmmm e este barulho sim, o do relógio, era um bruxedo, uma bomba atómica que atingia a cidade inteira, pessoas incontáveis, além dos dois… e destituÃdo de necessidade de inédito no noticiário… era o vazio, o deserto.