OS CEGOS

[CAMPISTA CABRAL]

   Dizem que Orlando roubou a lua, enforcou a terra e engoliu o mar. Dizem ainda que fez tudo de forma natural. E ninguém percebeu que a lua não estava no céu, que a terra não respirava e que o mar já lá não estava... Dizem que tudo se passou em uma noite. Dizem. Mas dizem qualquer coisa. Mas dizem tantas coisas! E ninguém acreditou. Mesmo não havendo lua para os namorados. Mesmo não havendo terra para plantar. Mesmo não havendo o mar para sorrir. Ninguém estava preocupado com isso.
   Dizem que andavam pelas ruas e não olhavam o céu, não olhavam o chão, não olhavam o mar. O que se via era a fumaça, os prédios, os carros, o corre-corre, a gritaria...
   Dizem que Orlando era poeta, mas não se sabe ao certo. Dizem.
   Dizem que se acotovelavam nas lojas, que reclamavam do preço das roupas, do preço de tudo, mas compravam, compravam tudo e compravam todos, mais e mais.
   Dizem que Orlando roubou as canções e escondeu os sonhos. Dizem.
   Não havia lua, terra, mar, canções e sonhos.
   E ninguém estava preocupado com isso. Caminhavam. Caminhavam e reclamavam. Dizem.
   Até que um dia, Orlando dobrou as folhas e apagou tudo.
   Dizem que ninguém mais nada via. Mas caminhavam às cegas. Caminhavam.

[Alice Santos]

..." Dizem que ninguém mais nada via. Mas caminhavam às cegas. Caminhavam."

Cada vez mais se caminha assim. Às cegas. É verdade. Dizem e com razão. Ninguém vê para onde caminhamos, o rumo que leva o nosso planeta. Ninguém vê... ou ninguém quer ver. Cego é mesmo aquele que não quer ver.

Alice Santos

[CAMPISTA CABRAL]

O que é estarrecedor nisso tudo é que caminham! Não têm olhos, não têm sonhos, não têm absolutamente nada, mas caminham... Para que lugar? Fico a pensar nos meninos e meninas do meu país: sem estudo, sem perspectivas, sem grandes coisas na vida. Caminham, simplesmente...
Um grande abraço!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

"Tanto foram os sinais que aprendi andar às cegas". Tanto são os sinais que aprendemos andar às cegas. É uma explosão de informações sem fim, mas sem formação. Eis a deformação. Dos ouvidos, da boca, do nariz, da pele. Dos olhos e dos olhares. Eis a degradação moral. A Canção de Rolando não mais. Cânticos? Nem os da Cecília Meireles e nem os bíblicos. Alimentos frescos? Cheiro de flores? Sentir a brisa? Nada disso. Estamos perdendo os sustentáculos da alma. E, se são os olhos suas janelas, não há como se sustentarem, posto que as paredes estão ruindo. Andemos, pois, às claras ou às cegas. Paremos para descansar e sonhar. Prossigamos a jornada.

Grande abraço e mais uma vez parabéns.

Oswaldo Eurico Rodrigues

[Goreti Dias]

Se dizem que "roubou as canções e escondeu os sonhos", fico preocupada. Precisamos deles para prosseguir essa jornada.
Abraço

[CAMPISTA CABRAL]

O grande problema é este: muitos de nós andamos às cegas! Pior, não percebemos!

Um grande abraço!

[Goreti Dias]

É sempre assim. Pior ainda é que, como diz o ditado, não queremos ver!

[CAMPISTA CABRAL]

E insistentemente não vemos! Nos machucamos e sangramos e, ainda assim, não vemos!