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Autor Tópico: Rendez-Vous (13)  (Lida 1956 vezes)
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NunoMiguelLopes
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Não vou gostar nada do dia de hoje, pois não?


« em: Novembro 25, 2009, 21:58:11 »

13. “Visita guiadaâ€

As duas operacionais da Athenacorp lideraram o par de astronautas da Schola Belicus e o intelectual independente até à arcada por onde haviam entrado. Atravessaram-na. A porta fechou-se e a parede que resultou desse encerramento dava ideias de nunca ter existido ali uma porta. Os cinco caminharam através de um corredor longo e amplo, decorado com extremo bom gosto e que exalava a sacarina fragrância de um orçamento profusamente gasto no mais ínfimo detalhe. Imagens gravadas nas paredes, recordações das expedições bem sucedidas de Athena, e mesmo das menos frutuosas. Paisagens alienígenas onde os cientistas da Athenacorp haviam sido os primeiros a chegar, panoramas espaciais com segredos à mostra, rostos sorridentes de quem se tornara estupidamente rico apenas uns momentos atrás. Em ordem cronológica.

«O corredor da fama» comentou Autumnsun. Caminhava apressado, tentando acompanhar o passo mais prolongado de Sulandra e absorver todas aquelas imagens com as lentes holomáticas. Para mais tarde recordar. «Memórias expostas como troféus.»

«Isso choca-o, Autumnsun?» Perguntou Sulandra.

«Que a ciência possa ser tão cheia de si?» Autumnsun sorria. «Mais que isso, diverte-me.»

«Esta é a nossa casa. É aqui que descansamos, planeamos, celebramos as nossas vitórias e, sim, é aqui que temos o nosso museu e admiramos os nossos troféus. E porque não, Autumnsun?» Sulandra olhou-o, descomplexada. «Memórias não passam de troféus. Temos de saber onde caçá-las. E, a propósito, as lentes que está a usar não funcionam a bordo da Fortuna.»

«Como?» Autumnsun travou o passo.

«As nossas contra-medidas substituem tudo o que elas registam aqui dentro por paisagens deliciosas de flores coloridas a perder de vista» revelou Sulandra. Sorriu. Para ela, era quase uma piada entre amigas. «Da cidade perdida de Bin’ndar-Kia, julgo eu. Espero que nos perdoe, Autumnsun, mas a nossa privacidade na Athenacorp é intocável. Achei que era melhor dizer-lho já, não queria que tivesse um desgosto quando fosse descarregar as imagens para um ecrã luminoso. Você compreenderá…» Sulandra olhou então para o astronauta-soldado, que vinha a fechar a pequena excursão. «Receio que essa arma que aí traz também não funcione, astronauta Berrylight…»

«Não receie, porque não preciso realmente dela» garantiu Berrylight. Já tinha dado por isso. Que a arma não funcionava. A carga desaparecera. Saltava aos olhos do veterano que a Athenacorp empregava tecnologia de logovírus. Talvez mais avançada ainda. Mas Berrylight conhecia oitocentas e trinta e quatro maneiras de eliminar quaisquer problemas que surgissem. E apenas trinta e nove dessas maneiras incluíam disparar fosse o que fosse. Sobravam-lhe muitas soluções.

«Ainda bem, ainda bem» disse Sulandra. Mas o tom era já outro. Já pusera tudo em pratos limpos. A bordo da Fortuna, os astronautas da Schola Belicus era meros convidados. Tudo se passava nos termos de Athena.

Chegaram a um elevador. Entraram todos e, sem instrução aparente, começaram a subir. Parecia. A atmosfera a bordo da Fortuna era a de energias estranhas a fazerem amizade umas com as outras. Ideias altamente criativas no sentido de objectivos ambiciosos. Para Autumnsun, era muito excitante estar ali. Depois de tudo o que lera e ouvira falar da Fortuna, da Athenacorp. Arqueólogas da história universal, que iam atrás de mitos e traziam-nos pelo braço. Mostravam-nos à luz da ciência humana só para provarem que o impossível era bem capaz de ser verdade nos confins do espaço. Mas Autumnsun conseguia perceber que para lá dessa fachada de glória, existia um lado obscuro nas operações da Athenacorp. Uma necessidade demasiado presente de guardar segredos. Conhecia há tempo suficiente a importância de resguardar as suas próprias ideias para perceber que ali se passavam coisas duvidosas. Sentia-o em cada um dos seus duzentos e noventa ponto de Quoficiente de Inteligência.  Autumnsun removeu os óculos do rosto e guardou-os no uniforme. Eram inúteis. Mesmo como acessório de moda.

O elevador parou, ou talvez nunca se tenha realmente movido, e eles saíram para outro corredor. Este, mais apertado. O apurado sentido de orientação de Berrylight dizia-lhe que agora caminhavam na direcção contrária, num ambiente obscurecido. Sentia-se observado. Estatuetas de civilizações alienígenas ladeavam os astronautas, fazendo as vezes de sentinelas atentas. Não havia nada de bonito nelas. Ãdolos de sistemas religiosos demasiado distantes e demasiado familiares. Aziagos. Agressivos.

«Que imagens são estas?» Perguntou Stonewall, olhando para uma com duas cabeças, pavorosas, disformes e inumanas, que pareciam sorrir-lhe em uníssono. Mas era um sorriso completamente errado. Era o sorriso de algoz, com água na boca, ante as presas que se passeavam diante dos seus sete olhos, ingénua.

«Algumas destas magníficas peças estão já totalmente descodificadas» afirmou Sulandra. Havia orgulho na sua voz. «Pertencem às culturas de espécies alfa que se terão extinguido mais ou menos por volta da nossa Grande Expansão. Temos dezenas de equipas a desvendar as linguagens de mais de trezentas culturas alienígenas extintas. Não é fácil, mas temos tempo. Temos todo o tempo que quisermos.» Apontou para uma imagem de um ser com diversos membros superiores. «Esta aqui representa um demónio da mitologia duma espécie alfa nos Sistemas Centrais. Toda a cultura dessa civilização, e boa parte da sua história universal, foram já desvendadas pelas nossas cientistas. O planeta chamava-se Delassia, e os seus habitantes eram Royu Sintor. Curiosamente, Sintor tinha o mesmo significado para eles que a nossa palavra “centauroâ€. Fascinante, não?»

«Sem dúvida alguma.» Stonewall acenou afirmativamente. Estavam parados em frente à mesma escultura ameaçadora.

«Desconfiam de algum tipo de ligação com os nossos idiomas?» Quis logo saber Autumnsun.

«Estamos a investigar essa possibilidade» confessou Sulandra. «Mera coincidência, ou algo mais complexo? Será que existe uma linha comum a todas as espécies inteligentes deste Universo, uma base fundadora que serviu para criar todas as alfa-culturas a partir de uma única noção?»

«A Fortuna defende as filosofias Criacionistas?» Perguntou Autumnsun, fitando por momentos a mulher, bem mais alta que ele. A estátua causava-lhe calafrios. Devia ter mais de três metros de altura, e todos os seis membros terminavam em horríveis garras. Não era fácil distinguir a expressão do seu rosto. Autumsun catalogou-a como “medonha†e não pensou mais nisso. «Imaginaria que, como cientistas...»

«…temos de levar muito a sério todas as hipóteses» concluiu Sulandra. «Eu, pessoalmente, adoro todas as teorias. Nenhuma delas acerta em tudo o que diz, mas a realidade é feita de pedacinhos verdadeiros de todas. Todas as teorias são verdadeiras, se meditarmos sobre o que elas nos ensinam. Não acham?» Sulandra encolheu um ombro. «Enfim. Eu podia dizer-lhes o nome deste demónio, mas é melhor não. Parece que tentar pronunciar o nome dele provoca vómitos aos seres humanos. Além disso, os Royu Sintor espalharam milhões de estátuas iguais a esta por todo o seu planeta, e acreditavam que se o nome fosse pronunciado, as estátuas ganhariam vida e comeriam as estrelas.» Sulandra passou os olhos pelas visitantes. «Não há razão nenhuma para testarmos as crenças duma raça alienígena há muito desaparecida. A minha irmã é intransigente quanto a isso. Há que respeitar a memória.»

«A Arqueologia está regulamentada por Domus Regia e pelo Concelho Científico» observou Stonewall. Continuaram a andar. «Já para não mencionar aqueles valores tão metafísicos como a ética… Como é que os cientistas da Athenacorp esperam respeitar a memória de civilizações alfa extintas se andam por esse Universo fora a saquear-lhes as ruínas?»

«A comunidade científica não é uma sub-raça escrava de quem Domus Regia espera somente que lhe proporcione conhecimentos sobre o que se passou no Universo a dada altura» replicou Sulandra, visivelmente agastada com a observação do navegador da Cry of the Angelus. «Apesar de, arqueólogos universairs, sermos tratados como se fôssemos, pelo Concelho Científico e pelo Schola Belicus.»

«A Arqueologia Universal é uma ciência especial» comentou Autumnsun. «Sem regras, não é muito diferente da profanação. Talvez os Royu Sintor não gostassem muito de saber que uma das suas estátuas sagradas não passa agora de ornamento nos corredores das pessoas que andaram a pisar-lhes as sepulturas.»

«Porque é que os investigadores não deverão ter direito a uma porção das descobertas, Autumnsun?» Sulandra abriu os braços. «A Athenacorp segue as pistas, corre os riscos, pousa em planetas infestados por vida selvagem hostil, locais onde nem as Brigadas de Desinfestação da Schola Belicus ousa pôr os pés. Muitas vezes as nossas expedições são encomendadas pela Fundação, ou pela Companhia, ou pelo Concelho Científico. Para a Athenacorp é óbvio que os cientistas têm de ser recompensados de alguma forma. E se esta estátua não estivesse aqui, seguramente estaria nas galerias de Domus Regia.» Sulandra emitiu um evidente riso escarninho. «Isso é que seria um desrespeito.»
« Última modificação: Dezembro 16, 2009, 13:18:51 por NunoMiguelLopes » Registado
Goreti Dias
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« Responder #1 em: Dezembro 03, 2010, 13:54:56 »

Continuo a seguir com atenção. Para quando a publicação em livro?
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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
Agosto 14, 2023, 16:53:06
Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
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Boa noite feliz para todos.
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Boa tarde a todos.
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Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
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Boa feliz noite para todos.
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Boa noite para todos.
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Boa noite feliz para todos.
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Bom domingo para todos.
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