ELEFANTES

Foi assim que tudo começou entre mim e os elefantes. Quando eu era criança, a televisão apresentava um programa chamado “Mundo Animal”. As imagens eram em preto e branco porque só as pessoas mais abastadas é que tinham televisão em cores. Gostava muito desse programa porque gosto muito de bicho. Sempre quis ter um elefante em casa, mas os governos não permitem a compra e nem a venda desse animal. Mesmo se fosse permitido o comércio de da espécie entre pessoas físicas para guarda doméstica, meus pais não teriam dinheiro para comprar um e muito menos para sustentá-lo porque comem cerca de duzentos quilos de comida por dia. É muito! Onde conseguiria tanto para acabar com essa fome toda? Não tinha jeito. Aprendi a me conformar com a idéia de não ter um elefante meu amigo espirrando água em cima de mim com a tromba e jogando bola comigo. Então a televisão me mostrava sobre os bichos da África (tanto que quase não conhecia nenhum do Brasil, a não ser as garças aqui do bairro, os morcegos que entravam em minha casa e os insetos. Às vezes algumas pessoas mais velhas vindas do interior ou de outros estados falavam de bichos que só vim a conhecer mais tarde nas aulas magníficas do Prof. Jorge Antônio na escola onde estudei durante o Ensino Fundamental). Os elefantes para mim eram astros, embora o considerado por todos como rei fosse o leão. Como sou muito desconfiado, comecei a perguntar para o meu pai se aquilo que a TV mostrava era verdade. Ele me disse que pesquisasse sempre tudo e checasse as informações. Foi esse o meu procedimento. Passei a ler e perguntar na escola sobre os animais. Até hoje ainda não sei tudo. A cada dia descubro, coisas novas. Meu sobrinho me ajudava muito, mas agora está começando a ficar grande e a descobrir outras coisas e outros interesses. Normal criança gostar de bicho, mas adolescente, no que ele está quase se transformando, pensa em esportes e outras coisas mais. Ele, por exemplo, joga futebol, gosta também de arquitetura e desenho. Quando pequeno falava que eu parecia um “tiiinxanti” (elefante no jeitinho dele falar aos dois anos de idade). Sou magro, mas perto dele era imenso. Outras pessoas eram hipopótamos (engraçado era pronunciar corretamente hipopótamo). Só eu era “tiiinxanti” a levá-lo montado no meu pescoço. Coisa difícil era esconder dele minhas miniaturas. Ele adorava meus elefantes que vim juntando dos amigos que me presenteavam. A minha coleção está estacionada. Recomeçarei qualquer dia desses. Minha curiosidade e amor pelo gigante africano, porém, não acaba. Meu somatório de informações pouco a pouco vem crescendo ao longo dos anos.
Esse amor aos grandes mamíferos é algo difícil de explicar. Talvez se dê pelo porte majestoso que muitos animais ostentam ao andar. O elefante (africano principalmente) parece o rei deles. Para mim o rei é ele que não tem predadores além do homem. Não o leão, que de majestade só tem a juba, simulacro de coroa. O paquiderme colossal não. É imponente por essência. Faz-se respeitado sem ameaçar. Tem memória privilegiada e estrutura social organizada. Para mim eles são um símbolo da memória ancestral de um continente há tanto apagado de seus valores.