NunoMiguelLopes
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Não vou gostar nada do dia de hoje, pois não?
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« em: Dezembro 16, 2009, 14:03:51 » |
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Jimmy McNulty é o tal detective farto de jogar numa equipa perdedora. Não é o exemplo do decoro nem da disciplina, mas é dedicado ao ponto de lixar todos os outros aspectos da sua vida com o mesmo denodo com que lixa a sua reputação junto das chefias. Ele bebe, mas quem não bebe? É imaturo, também. Falta-lhe graciosidade na forma de interagir com as hierarquias mais altas. Investigar os Barksdale é ideia sua, mais outra que não agrada a ninguém no Departamento, pelo que lhe passa por cima para ir cochichar ao ouvido do tal Juiz Phelan, e mesmo só este tendo motivos pessoais para querer lixar os cornos ao Departamento é que lhe faz a vontade. O mau perder de McNulty ganhará assim a forma de uma bola de neve e porá em movimento uma engrenagem há muito tempo adormecida, desinvestida, desacreditada.
Para governar este milagre de fazer o Departamento dar ares de mobilidade ao Juiz Phelan, é escolhido, com alguma manha, o tenente Cedric Daniels, dos Narcóticos. Daniels tem uma pose de militar e uma seriedade austera, mas o seu passado faz parte de relatórios internos perniciosos e o futuro da sua carreira ainda é uma ambição sua, suficiente para que as chefias o considerem fácil de manipular. Gosta de fazer as coisas bem feitas, não é de admirar que alguns dos homens que lhe vão parar ao colo lhe causem má impressão, com McNulty à cabeça dessa lista. Vai ver-se entalado entre o entusiasmo contagioso de McNulty e a inércia preferencial dos seus superiores.
Com Daniels, vêm três elementos da sua equipa nos Narcóticos. Kima Greggs será a mais valorosa desse trio. É uma mulher numa guerra de homens, capaz de dispensar pancada como os homens, de beber tanto quanto eles, enfim, de fazer o mesmo trabalho com igual, se não maior, eficácia.
Herc e Carver, que são como que siameses de pais diferentes, ainda não completamente separados, e fazem um pouco a descompressão que nem as más maneiras de McNulty conseguem oferecer ao espectador. São brutos, porradistas, e não muito inteligentes. Contudo, incrivelmente úteis nas ruas violentas de Baltimore. São o músculo da unidade. Os capangas a serviço da PolÃcia.
Lester Freamon é um veterano detective há muito tempo confinado à prateleira que é a Secção de Penhores onde, basicamente, passou boa parte da carreira a fazer-se de morto. Apresenta-se um homem calado, aparentemente habituado ao pano de fundo, confortável nesse papel. Tem ouvido para o detalhe. Pouco gosto pelo alarido. Mostra serviço fazendo o trabalho sem terem de lhe pedir que o faça. Dos quatro veteranos que desaguam na unidade criada às pressas será o único que vale a ponta dum corno. Dos outros, não faz falta falar.
Falemos de Roland Pryzbylewski, “Prezâ€, para facilitar, genro de um Major da PolÃcia que, não querendo encolerizar a filha, distribui os disparates do jovem por unidades onde ele possa causar o menor estrago possÃvel. Prez é amigo do gatilho. Mosquinha morta que ganha asas com uma arma. Não fosse o crachá, seria um sociopata. Rapidamente, por causa da sua inclinação para a brutalidade, vê-se confinado ao gabinete e à s palavras cruzadas. Daniels tenta livrar-se dele, sem sucesso.
Sydnor é a compensação por Pryzbylewski. Agente bem preparado para o ambiente urbano de Baltimore, corajoso e empreendedor, chega mais tarde à equipa de Daniels e não tem problema em integrar-se. Acredita na missão e que pode fazer a diferença. É dos poucos que faz o trabalho policial ainda com o bem da comunidade em mente.
Bunk Moreland, não fazendo parte da equipa, é presença assÃdua nas investigações por se tratar de um dos melhores detectives de HomicÃdios que o Departamento tem. Como o clã Barksdale não se coÃbe de recorrer ao assassÃnio para manter o seu império de drogas intocável, as averiguações de Bunk cruzam-se frequentemente com as da equipa de Daniels. Também é o melhor amigo de McNulty. Pode-se dizer, ao inÃcio da série, o único amigo que resta ao irlandês.
O Major Bill Rawls dos HomicÃdios não é amigo de McNulty. É um dos muitos superiores hierárquicos que McNulty desrespeitou quando foi falar com o Juiz. É um trepador, como quase todos no comando da PolÃcia de Baltimore. Só faz aquilo que beneficiar a sua carreira e mesmo isso, contrariado.
Acima deste está o Comissário Ervin Burrell, outra bela peça no puzzle estático-burocrático do Departamento cujo traseiro o Juiz Phelan, instigado pelas queixinhas de McNulty, faz o favor de pontapear. Acossado pela magistratura e pela imprensa, Burrell só a muito custo, e temendo pela vitalidade da sua carreira, levanta o dito da cadeira para fazer seja o que for. Quase tanto quanto os criminosos, os verdadeiros polÃcias de Baltimore têm de combater Burrell na tentativa de restituir à cidade alguma noção de ordem.
Quem se esforça por fazer passar um caso ou outro pela barra dos tribunais é Rhonda Pearlman, a assistente da Procuradoria. Sabe que o jogo está viciado mas persiste na sua missão e é a principal aliada de McNulty, embora nem sempre de modo voluntário ou consciente. Ela e o detective têm um passado truculento e uma amizade que, sendo sincera, também terá a sua porção de conveniência. Mais para o lado dele, claramente.
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