CONTO DE NATAL

[CAMPISTA CABRAL]

   Não se trata de um conto comum...
   Embora o tema seja recorrente.
   Não é um conto. Antes de tudo, um pequeno relato. Uma pequena descrição? Pormenores da escrita. Veja bem!
   O narrador diria que fazia frio. Muito frio. Calçada quase vazia a não ser pelos três mendigos que andam em círculos pedindo uns trocados. Fazia frio, muito frio.
   Mas acontece que não fazia frio.
   O narrador diria que homens e mulheres estão dentro de suas casas, no calor de seus quartos comemorando natal, desejando boas festas e bebendo e sorrindo.
   Sabemos que nem todos sorriem e nem desejam nada a ninguém...
   O narrador diria ainda que os cantos de natal pareciam emoldurar as ruas e a cidade. Tudo sereno. Tudo canção. O velho alfaiate e seus dois meninos. Dona Letícia e seu marido, o Quincas - verdureiro e fanático por cartas - Amarílis e seu violão. Era cantora amadora. Cantava e era bela.
   O narrador se esquece que a história não se faz de açúcar ou goles de chá nem melodias amorosas. A história se faz com as coisas que se tem.
   Uma rua e uma cidade. Não faz frio. Nem todos sorriem e nem se abraçam. Os mendigos querem um trocado, mas também querem um lugar para dormir. Deitar a cabeça sabe? Não há canção. Há vozes, muitas vozes na rua. De dentro das casas amarelas, verdes, brancas, descascadas. Há vozes. Pessoas que se amam. Pessoas que se odeiam. Homens só. Mulheres e televisão. Há poetas nos sobrados antigos. Mas dormem. O livro está fechado. Não faz frio e, por isso mesmo, não há neve. Nunca houve neve. O narrador diz que há... neve farta, tão branquinha... As crianças pela manhã jogaram amontoados de neve umas nas outras.
   Não há neve!
   Mas o narrador insiste que a vida é um conto maravilhoso. E, no conto maravilhoso, há uma estrela e um menino. Uma história. Um deserto. Camelos e reis. E conta-se essa história nas casas em que se bebe e se deseja o melhor. Crianças lambem os doces e se encantam com a árvore de natal. Homens e mulheres se beijam e se abraçam demoradamente. votos e mais votos de felicidade. Rua e canção. Amor.
   Eu não sou o narrador. Sou quem escreve. Mas não escrevo. Leio apenas.
   Todos ouvem atentos a história do menino que nasceria para mudar o mundo...
   Descanso o livro sobre as minhas pernas e observo a rua... Três mendigos andando em círculos...
   Fazia ou não fazia frio?
   Uma história dentro de mim. Outra história fora de mim...

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Cabral, olha que conto mais interessante!

Cabe bem a nossa realidade sem neve e sem as idealizações (ou com elas?) que se fazem nessa época do ano. Fico pensando onde estão as tempestades, os abacaxis, os aromas de damas-da-noite, os cultos religiosos de agradecimento, as esquetes nas praças e igrejas, os fogos e as pessoas de casa em casa desejando "Feliz Natal". Todos estão soterrados pela neve, abafados pelo "Jingle Bell" e levados pelas renas do Papai Noel não se sabe para onde.

Grande abraço e parabéns por este brinde às letras das taças de Campista Cabral.

Oswaldo Eurico Rodrigues.

[CAMPISTA CABRAL]

Obrigado Oswaldo! O conto em questão é uma forma de tentar dizer o natal de um jeito mais atrevido, fora do convencional! Estamos soterrados de neve! Pior, aqui não faz frio!!!! Um imenso abraço para ti e curta as férias porque passam rápido!!!!

[Goreti Dias]

A história fora de si será a de que o Menino não mudou o Mundo. Pena!
Mas gostei do seu invulgar conto
Abraço

[CAMPISTA CABRAL]

Apenas uma tentativa de dizer o conhecido de outra forma. Lembra-se do texto sobre o narrador? Uma brincadeira com isso também!!! (risos)

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Curtirei não tanto quanto gostaria, mas curtirei.

Grande abraço...

[CAMPISTA CABRAL]

Aproveite-a com sabedoria!!! (risos)

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Com certeza...

[CAMPISTA CABRAL]

Amadureça a ideia da revista! Ano que vem conversaremos!!!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Que ótimo!

[CAMPISTA CABRAL]

Mas é para concretizarmos algo!!!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Com certeza! Envia um e-mail para mim para que possa pensar nisso durante as férias.
Grande abraço...

[CAMPISTA CABRAL]

Há muitos brasileiros por aqui que poderiam estar conosco neste projeto! Escreverei por e-mail!!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

E de Portugal e outros países também, não? Talvez seja mais rico.

[CAMPISTA CABRAL]

Digo em relação aos brasileiros pela quesão concreta (eles estão próximos de nós, ou seja, podem nos ajudar com a mão na massa, literalmente falando) Agora, com certeza, o apoio e a presença de nossos companheiros portugueses e africanos seria maravilhoso!!! Pense nisso. O José Silveira mora em Niterói!!!