PÉRGOLA

[António Lóio]

                      PERGOLA

Da pérgola da Foz olho o mar e o céu duma só cor e os meus passos rompem as recordações envoltas na solidão cinzenta dos meus dias. Envolta em nevoeiro vislumbro-te passeando no molhe. Acenas-me e ao estugares o passo o teu rosto abre-se num sorriso. Debruçado na amurada vejo-te aproximar, sensual e linda e soletro no teu ventre a poesia dos teus vinte anos. Provávelmente irás estranhar os meus cabelos grisalhos, mas o meu corpo e os meus braços, já velhos, ao sentir-te, ir-se-hão recordar dos teus seios firmes, do roçar dos teus cabelos loiros e do teu perfume de mulher. Vou ao teu encontro, certo do teu perdão e naquele amplexo dum Verão já passado, vejo, como um moribundo em regressão, os quadros vivos da nossa adolescência sem futuro. Desencontradas, as nossas vidas foram fenecendo na ausência, adornando recordações enevoadas, distraídas nos nadas.
Por isso, hoje, ao vires ao meu encontro, apesar do vazio entre os meus braços, ouço-me dizer-te o que nunca mudou. Amo-te.

[Goreti Dias]

Muito terna e envolta em ilusão e mistério. Se a vida fosse assim, capaz de voltar atrás...
Um belíssimo texto, bem construído, de belas sonoridades a fazer lembrar um mar de águas calmas.
Bj

[António Lóio]

Goreti
Agradeço os teus comentários às minhas recordações que com o passar dos anos se vão colorindo, dado o cinzentismo do presente.
Bj
Tom

[margarida]

Muito bonito!

[António Lóio]

Margarida
Obrigado pela leitura e amizade
Bj
Tom

[Osni Carmo Rodrigues]

O amor está presente em nossa vida enquanto existimos e a intensidade pode ser regulada por nós. Isso é uma arte. Não é nada fácil. Há muita verdade no que diz. Gostei.

Abraço.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Maravilha de texto, Tom.

Abraço

[António Lóio]

Osni e Oswaldo
Obrigado pela leitura e apreciação.
Há uns tempos passei na Foz do Douro, junto á pérgola e senti aquilo que descrevi o melhor que soube.
Abraço
Tom