O problema não está no facto de o jornal ser em papel ou em formato digital, acho que está no contacto que se tem com o suporte de onde se lê.
Existe uma tecnologia ainda em desenvolvimento, mas que já esta a ser comercializada, que vai ditar a forma como se irá ler no futuro. Falo da tecnologia que está a ser inserida nos "e-books".
Os dispositivos portáteis (os notepads, notebooks, netbooks e alguns telemóveis de ultima geração) permitem descarregar e ler arquivos mas são pouco cómodos para a leitura. A vida das células de bateria é curta (se bem que já existem dispositivos que duram varias horas a trabalhar) também não ajuda. A luz emitida pelo ecrã incomoda na leitura e os reflexos distraem a concentração. Existe também o problema de sermos incomodados pelos e-mails que nos enviam e pelas notificações do S.O. a pedir permissão para fazer updates (se calhar deveríamos dizer ao Mr. George Monbiot que essas defenições se podem desligar temporariamente).
Aqui entram os "e-books", pedaços de deu para leitores havidos e aventureiros dispostos a estourar 500€ por um (as perspectivas são boas no futuro, dentro de 2 anos poderá ser passível ter um por 100€)
Pesam umas míseras gramas (entre 150 a 250gr), robustos ao choque, de utilização intuitiva (sistema de navegação por janela), podem descarregar arquivos digitais (podemos assinar uma revista ou jornal, que ele guarda automaticamente) podemos colocar livros digitais no cartão de memória, abrir páginas de internet (esta "feature" só existe em alguns) e a vida das células de bateria dura e dura. E a tecnologia que incorporam (electronic ink) é perfeita para a leitura, uma vez que simula o papel a nível visual. Como podem ver na imagem que se segue, o ecrã não é luminoso. Significa que podemos agarrar-nos aquilo durante horas, o cansaço ocular será o mesmo que ler em papel. Contras, tem um. A falta de cor nessa tecnologia, uma vez que o ecrã só apresenta escalas de cinzento, mas por ser tão bonito, ele está perdoado.
Muitos argumentos contra esta evolução poderão aparecer. Eu, pessoalmente, adoro o cheiro do papel (o cheiro dos livros velhos é magico), o tacto, o peso, o desfolhar, os pormenores das lombadas e dos relevos na capa. O marcador de página, o desembrulhar um livro que recebemos como prenda, os volumes massivos das enciclopédias que impõem respeito, o espaço criado nas bibliotecas e os ambientes que rodeiam as estantes... Mas isso não se vai perder por se usar um "e-reader", pelo menos de um dia para o outro.
Temos de aprender com as evoluções do passado. O CD substituiu o vinil, que substituiu o disco de goma-laca e que por sua vez substituiu o cilindro de cera. Alguém usou os cilindros de cera? Eu não e não lhes sinto a falta. Ultrapassados, tornaram-se obsoletos. Mas ainda hoje se fazem edições especiais de Vinil e não só para velhos apreciadores. Arch Enemy, uma banda de Death Metal Melódico que é usualmente ouvida por "putos", editou pelo menos dois. Os Metallica, mais conhecidos, têm toda a discografia disponível em vinil (será que se tem que colocar um peso na agulha para ela não saltar do sitio, devido as descargas sonoras?)
Estas "lutas" já são velhas. Quando o rádio apareceu, também se pensou que o papel deixa-se de existir. Quando a T.V. apareceu, pensou-se que a rádio fosse ao ar. Com o aparecimento da internet (e do youtube, especialmente) ditou-se o fim certo de tudo, especialmente do telefone. No entanto, está tudo (quase) na mesma. As pessoas ouvem rádio e lêem o jornal, enquanto a T.V. está ligada para ver como se encontra o trânsito.
E na escrita?
O papel substituiu a argila e a tábua, e foi bom. A prensa tipográfica substituiu a escrita manual e difundiu o conhecimento mais rapidamente que no passado e a preços mais acessíveis a mais pontos do mundo, impulsionando o mundo no século dos descobrimentos do método cientifico e natural.
Usaram-se ossos, pedra, paus, facas, penas e metal para escrever. Hoje, usamos canetas.
Tivemos de esperar quase 500 anos até que uma nova revolução cultural da escrita tivesse o seu lugar na história. Eu digo que vale a pena abraçar os "uns" e os "zeros" que nos chegam pelos cabos ou pelo sistema wireless ao computador (pelo menos até a chegada do computador quântico, cujos princípios de funcionamento nem os físicos conhecem).
O papel não vai morrer de hoje para amanhã e quando ele desaparecer, certamente, já cá não estaremos para lhe sentir a falta.
Eu creio que quem tem realmente medo do fim do papel são as pessoas que vão ficar sem "papel" quando estes novos recursos informáticos estiverem a ser usados em grande escala. Acho que já chega de argumentos rascas na defesa de um suporte que se vai tornar inútil no futuro. Em vez dos argumentos apresentados pelo Mr. Monbiot que, quanto a mim, são fracos, se ele apresentasse como argumento o amor ao papel, talvez ele me parece-se mais genuíno e menos idiota, especialmente porque ele se designa um ecologista. Será que ele se recorda da quantidade de água e de lixívia usada para branquear a pasta de papel usada nos jornais e revistas, já para não falar da quantidade de árvores cortadas para alimentar a indústria gráfica britânica?
Dados relativos a 2004:
"In 2004 recycled paper and board provided about 74% of the source materials for the 6.2million tonnes of paper manufactured in the UK's 76 paper and board mills. A further 7.7 million tonnes were imported."
http://www.wasteonline.org.uk/resources/InformationSheets/paper.htmUm total de 13,9 milhões de toneladas de pasta de papel... é muita “pasta” para muitos bolsos. Se o seu desaparecimento (parcial) for gradual, digamos que daqui a 50 anos ele pode desaparecer sem que existam problemas a nível financeiro e económico para o(s) país(es).