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« Responder #480 em: Setembro 07, 2010, 05:34:18 » |
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Texto n.º 300
Uma figueira, duas figueiras... frondosas, robustas, recordadas com tristeza. Arrancadas pela raiz, não voltariam a frutificar. O mundo encarrega-se de nos vingar. Quem as tinha plantado, amava a sua sombra, tanto quanto o seu fruto. Na minha mania de perpetuar, colhi um pequeno rebento. Levei-o para o meu quintal. Hoje deu-me os primeiros frutos que comi com o coração a chorar de saudade. Ergue-se, vitorosa, a minha figueira, a par das macieiras de qualidade actualmente inexistente e que eu levei outrora em enxertos para o meu jardim da saudade. Perpetuo quem amei através das suas árvores.
Texto n.º 301
SEMPRE ATRASADA
Aquela minha tia nunca conseguia chegar a tempo de ter os filhos na maternidade. Apenas uma das minhas primas teve o privilégio de não ser transbordada do táxi para a ambulância, a meio do trajecto. Ora porque a matemática falhava, ora porque alguém alterara o calendário, tudo falhava e os meus primos nasciam a caminho da maternidade, sem culpa alguma, ou se calhar pela pro-actividade proeminente nos genes da mãe. E o meu tio coitado, tinha de entrar na maternidade a desfazer-se em desculpas, quase de joelhos aos pés dos médicos e enfermeiros pelo trabalho extra que teriam de fazer.
Texto n.º 302
Alvo Teve certeza que o egoísmo – sentimento tão absurdo e horrendo – poderia vingar-lhe sobrevivência. Relutou. “Vou pensar em mim”. O inferno são os outros – esquecera, é mais fácil lembrar do sentido do que do autor que o desencadeou – Sartre teve a felicidade de aguçar em três palavras uma grande verdade humana. Talvez um livro secreto o tivesse incumbido dessa fagulha de eternidade da qual não havia como não concordar, exceto pela ínfima razão de que o céu existe porque o inferno existe. O que cabia, talvez fosse aferir com terrível exatidão o caminho do meio sem ser Einstein ou Da Vinci.
Texto n.º 303
Dom Hoje o normal virou-se e disse um olá. Na contramão o inconfesso quis aproximar-se e temperar o sortilégio mental da sua preguiça. Soube apenas do portão aberto ao toque inseguro, agilmente determinado. Ao chegar não perscrutou perguntas, preocupações ou suspeitas. Depois da pausa o recomeço; é assim sempre, ou quase sempre. De definitivo só o presente com o que há de definitivo. Interrompe o silêncio que agora se instala para outra pausa igualmente silenciosa. A beleza inaugura o que a contempla como um menino recém acordado. Deixa-se ficar – em nome da arte quanto em nome de Deus.
Texto n.º 304
FESTA NO LICEU Eras tu, que me davas uma rosa Eras tu, que me pedias para dançar Eras tu, com asas de mariposa Eras tu, que me fascinavas com o olhar! Eras tu, aquele jovem ardente e suave Que tinha a vida para amar, Mas o teu amor era como a ave Que logo poisa e recomeça a voar! Olhei, vacilei e aceitei… Começamos a dançar; Ao de leve a cabeça encostei E meus cabelos estavas a beijar! Fiz o que não queria, Quando aos teus braços fui parar! Mas eras tu, quem me pedia, Nesse dia para dançar!...
Texto n.º 305
Vinham das redondezas e, até, de bem longe. Era às sextas-feiras.Chamavam-lhe o dia « de pedir ». Os ricos, na noite anterior, já deixavam entregue à « criada de servir » a saca das esmolas com os tostões. Os " menos ricos " não tinham saca, mas bolso de onde tiravam algum pedaço da côdea da sobrevivência, numa partilha samaritana.A todos, os POBRES agradeciam, rezando avé-marias e padre-nossos « pelas alminhas de quem lá têm. » Em Lisboa um ditador condoía-se com os « pobrezinhos » e mandava cantar que uma casa portuguesa tinha sempre, com certeza, pão e vinho sobre a mesa .
Texto n.º 306
A Bobine As imagens que desenrolo, como se de bobine de filme se tratasse, guardo-as na caixinha mágica, bem protegidas, quase em segredo. E são tantas!!! Algumas pintadas em sonâmbula ilusão; outras, com pincéis de preto carvão. E a caixinha abrindo e fechando, em memórias vai crescendo, ditando meu testamento. ( Aceitei o desafio de uma imagem escrever, dou os parabéns a todos por tão soberbo lazer)
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