Preciso dormir
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Quero dormir
Não consigo
Rolo de um lado
Rolo de outro
Quero dormir
Quero esquecer
Quero descansar
Não quero sofrer
Despertam em mim
memórias
Oceanos olfactivos
escorrem
em planicies de dor
Vejo carneiros no tecto
já os contei, já os perdi
fico à margem desta vida
já o sono se me escapa
à sorte não dou guarida
Para lá do castanho
a pupila dilata
vê agora vultos
revoltos
gritam insultos
e minha alma arrebata
o pesadelo que arrepanho
Preciso de dormir
Porque te quero
Perto, tão perto
E não longe...
Preciso de dormir
De sentir o teu sorriso
De sentir o teu cheiro
Esquecer este receio
E sorrir
Preciso de alcançar-te
Resgatar-te de novo
Por isso quero dormir,
E viver num eterno sono
Para o nosso eterno sonho...
Preciso enlaçar-te,
sentir o cheiro da tua nuca,
o calor do teu dorso no meu peito,
perto,
todo absolutamente perto!
Enquanto conto carneiros
e a pupila dilata,
teu cheiro na minha nuca
é rio caudaloso
que dilui o eclipse do sono.
Desassossegadamente me deito
Desesperadamente me levanto
Horas e horas de noite perdidas
Horas e goras de dia vencidas
Vence-me na noite,
na madrugada de corpos sedentos,
adormece-me em beijos,
claros e perfumados
de ondas deslizando a meus pés
cansados.
Oh! Como eu queria dormir
Mas tu não me deixas
Estou-te sempre a pressentir
A pairar pelas minhas poesias...
Que sono deus meu
antes ser Morfeu
do que ouvir, ouvir
preciso dormir
preciso dormir.
Mas, esta noite quero ficar contigo
Soltar a emoção que se instala e me contém
Fazer do teu corpo o meu abrigo
Ser a tua amada, a tua refém...
Preciso de dormir ,
Insónia de luas ,
Narinas inflamadas
A veia perfurada sussurra mais
No telefone a voz maternal do traficante,
Morfeu pode esperar
Enquanto enfio mais um pouco ,
Deste dormir que virá final
Olhos feitos Ãnfimos
Resfolgar a alma do cavalo
Na Noite que vai depressa demais,
Implora o corpo torturado
Pelo recato de um leito sujo
Onde os odores são opiáceos
Preciso de dormir ,
Embalo de poeira castanha ,
Chama e prata em sintonia
Borbulhante paz
Que me calcorreia, esmagadora
Sentidos em colapso ,
No canto do olho a figura de quem já foi
Estendo a mão , dedos dormentes
A luz no centro do crânio extingue-se
E reacende-se com fúria
Flash!
Morfeu pode esperar.
Posso considerar como terminado o poema.
Meu muito obrigado a todos os que participaram.
Um grande abraço e até o próximo poema.
Tudo de bom.