CIDADE DO CAOS - AS LUZES

[CAMPISTA CABRAL]

   Gritaria e bocas rasgadas no bueiro e água suja e corpos e nós feitos e desfeitos e o trânsito visto lá do alto parece mágico. Luzes e mais luzes brancas e amarelas e vermelhas. Brinquedos caros que passam e cortam a cidade. Rio de Janeiro. Inteiro. O Cristo, de braços abertos e olhos postos sobre o mar e as ruas, vê o viver das gentes. Mas a gritaria e a boca e as bocas rasgadas depois da briga e dos tapas e os gemidos não cessam. É a puta que te pariu! Não só vermes rastejam ladeiras abaixo. Bichos que são chamados homens também rastejam. A disputa pelo ponto foi intensa. O dia e a noite foram tensos. Tensa a carne que segura o fuzil. Tensas as mãos que direcionam a pipa. Mensagem. Polícia. Tensos os meninos que se julgam homens. Tensos os homens que não são mais meninos. Tensas as meninas que se tornaram mulheres. Tensas as mulheres que desejam ser meninas. Os carros continuam passando. Avenida Atlântica, Rebouças, Dois Irmãos, Elevado, Flamengo, Botafogo, Tijuca.

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Deus meu... Os túneis dessa cidade são corredores de incertezas.
Uma cidade bela, nobre e amiga. Maravilhosa e generosa, mas atormentada por poucos que não mereciam morar em lugar nenhum do mundo.
Cristo, do alto do Corcovado, dá-nos a redenção.

Cabral, mais um belo texto sobre a nossa antiga capital federal.

Abraço...
 

[CAMPISTA CABRAL]

Os túneis, as ruas, as estradas, enfim, becos e casas e vielas e apartamentos na zona sul. Não há um lugar em paz. Há conflito. E, a cada dia que passa, ficamos sem saber o que fazer!

Abraços amigo Oswaldo!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

O que faço é resistir. De alguma forma resistir. E resistir...

Abraço...

[CAMPISTA CABRAL]

Como disse em comentário a outro texto desta série: é preciso dizer sempre. Ao dizer estamos resistindo a esses tempos meu amigo! Obrigado pela leitura!

Abraços!

[Eduarda]

Campista,

Diz a letra da canção...cidade maravilhosa". Depois depara-mo-nos com o sub-mundo dos túneis, das drogas, das armas.

Excelente texto de uma realidade tão crua.

bj

[CAMPISTA CABRAL]

É um texto que saiu assim meio de pronto: senti a indignação das coisas que aqui acontecem (olha que eu não moro na capital, mas em Teresópolis, uma cidade que se localiza na região serrana do estado do Rio de Janeiro, mas trabalho na "Cidade Maravilhosa") e comecei a escrever o que me vinha. Lembrei-me de Fernando Pessoa quando falava da criação dos poemas que compõem Chuva Oblíqua: saíram como que naturalmente...

Abraços do Brasil!