SANGUE

[Darta do Mar]

Na intensidade calma da noite fico preso no meu pensamento fechado e restrito onde só a fria consciência consegue penetrar. Sei que a tristeza apodera-se do meu inconsciente tal como uma violação extrema e horrorosa.
Hoje vi o meu sangue e tive-o na mão. Hoje olhei nos olhos da minha tristeza e temi, temi que o sofrimento não fosse real. Temi na verdade que nada do que sinta ou pense seja real. Afinal corre-nos sangue dentro das nossas veias e quando nos faltar morreremos. Passamos de um nada relativo para um nada incrivelmente angustiante, chegamos simplesmente à conclusão que somos nada inseridos no nada do abstracto e do tudo físico. Então sei que estou absolutamente anestesiado, nesta noite quente, mas não sei por que é que a lua colocada naquele céu escuro me dá a real irrealidade de que o meu sofrimento não existe simplesmente porque eu não existo dentro de mim, porque eu continuo à berma da estrada do vazio da vida...

O sangue expulsado foi energia ganha. O sangue que me resta encontrará, por entre o meu corpo, o caminho da significância...


Bruno do Mar

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Um texto para pensar.
Muito bom, Darta do Mar.

Abraço...

[Pamp1980]

Poderoso.

[Goreti Dias]

Uma óptima escrita. Gostei!

[Darta do Mar]

Obrigado

[Á flor da pele]

Intenso...
Fez-me voltar atrás no tempo...Intenso de facto e estranhamente familiar