Viagem

[cduxa]

Em frente um jovem desenha. Traços rápidos num caderno de esboços. Levanta a cabeça para o seu lado direito e continua. Absorto. O seu companheiro de viagem observa . Primeiro discretamente. O metro pára e o meu olhar é absorvido pelos painéis do Parque. O lirismo e a poesia das imagens de  Françoise Schein e Federica Matta emocionam-me. O metro entra no túnel, a escuridão lá fora. Pelo vidro vejo um reflexo.
Menina. Os  passos afrouxam e queda-se a olhar para a escadaria principal. Duas esculturas de branco mármore ladeiam-na. Os seus olhos já nada mais alcançam. Só a imaginação e o querer um dia transpor aquela porta.
Sala de aula. Carteiras de madeira com buracos para o tinteiro. O recreio foi passado a escrever, ( lá fora as canções de roda, e os gritinhos das meninas a correr) em folhas de 24 linhas. O corpo  dobrado em letra bem desenhada. Cartas para o Ultramar. Para uma escola que não sabia  apontar no mapa de África.
Mas sabia identificar as linhas de caminho de ferro de Portugal. O dedo acompanhava o seu serpentear e em voz alta identificava-as.
A D.Emília (doce,doce professora), presenteava -a com  lápis de cor da Viarco. Desenhava primeiro o que conhecia. Árvores, frondosas tílias, como aquelas cujos ramos tocavam as janelas. Molhava o bico à socapa da professora. Os verdes ficavam carregados e pastosos.
As imagens passam em flash, as emoções crescem em turbilhão.  Aquela proibição. Acatada. Não se ouvindo. Pensava que se podia adiar.
Como se os sentimentos fossem coisas que se podem adiar.
Coloco os auriculares .
Que a musica nunca acabe.

[Tere Tavares]

Algumas coisas são difíceis relembrar, outras doces de ouvir.

[cduxa]

Olá Tere

Sim. É o Ser humano. Com toda a sua complexidade e nas suas múltiplas expressões.