MAP era uma substância que significaria Morte a Pedido. Inicialmente pensara-se que era hipocrisia chamar-lhe esse nome, dado que após introduzir a substância num organismo, ele finaria caso sofresse um certo conjunto de emoções desagradáveis, como depressão e emoções afins, colaterais. Contudo, depois de um consenso internacional tencionou-se apelidá-la de morte voluntária, assim que certos e determinados cientistas concluÃram a seguir a muitos estudos de proveta e cobaia e testemunhas empÃricas que a substância causa sensações agradáveis, tão sumarentas de bago gracioso que o alguém de boca a fecho e cadeado a mostraria cândida e com o seu sorriso no canto.
Fundou-se nessa instância um paradoxo social, morte a pedido? Sugerida? Ou involuntária?
Muitos movimentos eram disseminados entretanto. Especulavam sobre a nova sociedade ficção-cientÃfica. Vestiam camisolas roxas que lembravam os U.V.’s que no século vinte e um eram considerados algo letais. De facto as t-shirts não passavam de mensagens a insinuar que aquele presente estava para os MAP’s no mesmo parentesco que os U.V.’s estavam para o século passado. E nisso tinham razão, cada século era feito por um degrau da escada que era a História, eles viam o inÃcio da escada como pregas de madeira, alguns degraus acima, já a viam de mármore polido e a seguir já viam a escada eléctrica, aquela que enquanto houver electricidade empurra quem lá vá, nem é preciso esforçar-se que abaixo já ninguém vem parar. Uma visão reduzida, aquiesciam os de camisola branca, uma vez que no topo de cada escada rolante, haverá uma no sentido oposto, e quando se fala disso já se fala dos fins dos tempos, do fim da tal escada que os séculos constroem, segundo os roxos. Os brancos não consentiam nada, escolheram aquela cor para os representar porque na Ãndole daquele tempo alguém definira que cada grupo tinha uma mensagem colorida e não só, escolheram-na na fé de que fosse suficientemente compreensÃvel a mensagem em branco, a que está por escrever, na semântica corrosiva de a luta não ter um fim definido e que vão até onde o mundo não pode poluir.
Na clareza deste evento apocalÃptico entreaberto a uma guerra civil era óbvio que se o MAP fosse algo de laboratório em vias de experimentação nunca se teria polarizado tão facilmente a Nação Global. No lançamento de gás mostarda, de granadas tranquilizantes, de radiação-branqueadora que num raio de centenas de metros apaga a memória temporária a qualquer civil que lá se encontre ou animal, de holofotes compressivos que cegam qualquer indivÃduo que veja por instantes, de água através de mangueiras ligadas a tanques revoltos e em tiroteios com balas de borracha.
Todavia as bocas continuavam a disseminar virtualmente ou analogicamente relatos de aplicações injustas de MAP e ninguém continua a saber localizar terra segura, tranquilidade além dos tranquilizantes ou através de MAP. O medo confronta cidadão e estrada num único circuito assombroso. Era a Terra em 2129.
Hall era corajoso o suficiente para fixar aquele enorme lagarto que assomava na TV, nos desenhados animados matinais, sobre o click holográfico num telecomando que não existia de facto numa massa justificativa. A tecnologia brilhava à sua frente, resplandecia, num toque do Big Bang. Os feixes que bamboleavam-se na fibra óptica em frugais cantos da mansão, em cima de alcatifas gelatinosas sensÃveis ao toque e conectadas à central, eram os neurotransmissores daquele menino. No chão soçobrava um pacote de MAP que naquele momento era o teste da coragem do menino. De manhã a mãe dera-lhe na consequência dos resultados clÃnicos afirmarem que nas crianças era impossÃvel haver o tal desfecho oposto letal. E por estes nenhuma organização eclodira posto que nunca incidira publicamente uma queixa ou rumor de fatalidade numa criança.
No canto dos lábios do menino o sorriso permanecia. Ulteriormente a toques sucessivos no telecomando, a tristeza despontava abaixo das impressões digitais de Hall, era provável que fosse a ressalva da teoria abusiva acerca de MAP. Era provável que não fosse. No entanto, acompanhado de cobertores a televisão continuava a rodar o enorme lagarto, a criança sorria tremendamente, o sorriso eclodia nos vidros triplos à prova de bala que impediam o ruÃdo no exterior, ruÃdo aquele a que eu chamo de sorriso divinal de filho que os pais não ouvem. Ausentes no emprego devaneado. Nem a ama atentava naquela modulação corajosa, superior a qualquer coluna topo de gama, incomparável a algum rádio famoso e desconfio que o sorriso nem seja de qualquer repercussão do MAP. O lagarto que era um desenho animado rodava a poucos frames e Hall divertia-se ao ver a cena, numa televisão adornada de raios de luz. Ali passava o dia e continuava a não ser ressalva. À noite a porta da sala abria-se. Era a mãe completa de sacos com bolsas de gás na comodidade de evitar o peso das compras, tarefas do dia-a-dia, impossÃveis de evitar.
No silêncio da toilet Nick administrava uma dose da radiosa ‘droga’ por muito defendida por outros desanuÃda. Era uma vicissitude que em 50% dos casos traria a alegria e bem-estar, algo raro no Universo. Muito dificilmente descrito por alguma equação matemática e que estava escrita na equação quÃmica do MAP desde que os laboratórios úteis foram construÃdos. A opinião dos consumidores era descrita nessas palavras. E aqueles que a tomavam num jantar, após perderem alguém que nenhum Deus pode restituir, ou máquina, ou programa de computador, ou sonho ou simplesmente, que nem a pessoa que perderam pode restituir, já que causou um desgosto tão devastador que cancelou a oportunidade de MAP trazer alegria e a mensagem no placar televisivo electrónico de salmos à quela descoberta?
Nick era trintão. Senhor de negócios. Sucedido na empresa. Ocupava um cargo de mérito. Erudito, transformador desta prosa num padrão prosaico, numa história além do mais que contado.
Ele presenciava a morte e tornava este desditoso fim estúpido, numa caixa de ténis preta e cuja tinta se desmancha, ele terminava numa casa de banho, de um bar, no séquito de roupa digna de corte, a flagelar facialmente à medida que o efeito era aplicado negativamente. E não precisara de alguém ter derrocado a sua vida, ou de uma tristeza em especial. Alguma droga lhe confundira os sentidos e MAP o emancipava no esquecimento da humanidade, foragido dos manuais de História ou de Hall, o pequeno menino que espreitara durante a manhã à janela, quando ao passar no átrio da mansão a imagem de um lagarto chicoteara a sua face e lhe relembrara as manhãs do século passado, na geada da sua infância verde, na fase terminal do século, no virar da humanidade, a antever festas e festarolas, danças e divisas, lendas e mitos, no momento em que espreitara à janela que transparecia o lagarto que era um sapo, nos desenhos animados da sua vida, que o ajudavam a enfrentar a gritaria da desunião familiar e as desavenças constantes dos pais, que não estavam chapadas na sua estatura de homem forte e sem traumas, que era ali abandonado ao mercê da sua alma de fronte virada para a morte, um lagarto que era um sapo, desenhado agora na porta da toilet, ele de queixo apoiado na sanita a espernear manifestamente, espumando da boca, um sapo que era um lagarto para o menino Hall e que isso tão menos importava aos camisas, camisolas, tshirts, brancas ou roxas. O famoso sapo da Rua Césamo… Ali, na beira dos lençóis da morte dissimulados de mosaico de sanitários, era o fim do século e o pai a abrir champanhe, um cenário já não naquela casa-de-banho, reduzido a uma pequena espiral dos olhos de Nick que cancelava atomicamente. O pai que naquele dia sorria, antes até de pôr a TV nos canais pornográficos e o mandar para a cama na auge das bebedeiras com os amigos no Ano-Novo. E aquela face forte de Nick de volta ao mundo, agora pálida, desaparecia num espectro de máscara pálida à super-herói nocturno.