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Autor Tópico: Concurso "Cartas ao desbarato"  (Lida 124406 vezes)
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« Responder #285 em: Março 19, 2011, 11:04:16 »

Carta n.º 10

A minha consoada foi muito bonita, aqui em casa, com a minha família (só faltou o João Paulo e a Susana porque foram passar a casa dos pais dela). Com bacalhau à roda da mesa e arroz de polvo que a Diza sempre faz no Natal à moda de Trás-os-Montes. Delicioso. Depois o Leandro com os seus 8 anos ansiosos, veio comigo ao quarto. Enquanto eu me vestia de mãe Natal para distribuir os presentes, ele punha o barrete do pai Natal. E assim entrámos na sala, dando os presentes à família. O Leandro estava tão excitado que andava de um lado para o outro todo feliz. A mãe da Diza passou connosco a consoada.
 
O dia de Natal também correu bem. Veio cá almoçar o João Ricardo e depois quis mostrar-nos a casa que comprou em Alverca, mais concretamente, em Arsena. A casa é enorme e é linda! Decorada de um modo acolhedor e confortável. Tem 3 enormes assoalhadas, uma cozinha grande e arejada, um hall de entrada que podia ser uma sala e uma casa de banho mais pequena mas muito acolhedora. Ainda tem uma garagem no prédio e um sótão. Foi uma boa compra.
 
E foi assim, só fiquei com pena de não estarmos juntas. As coisas não correram como tu as tinhas planeado por causa dos voos.
 
Ó amigona, isso da violência doméstica não é tanto assim, como dizes. Conheço muitos casais em que a mulher está em casa (eu própria) e o marido trabalha poucas horas e são felizes por terem tempo para estarem juntos. É tudo muito relativo...
 
Então vais fazer umas traduções para a Joana. Traduzir para outra língua ou para inglês? Tenho falado pouco com ela, ela tem andado ocupada e depois com os dois meninos, o tempo é pouco.
 
O Fábio e o Leandro já começaram as aulas na 2ª feira.
Amanhã vamos à Bobadela, o João vai ao Moura, anda a fazer uma limpeza à boca.
 
Em princípio, na 2ª feira, a Susana vai ser operada a um ovário onde tem um quisto. Vai ficar só com um ovário. O quisto é enorme, mas felizmente é benigno.
 
O marido da Minda parece que já não sai do hospital com vida. Está ligado a máquinas e os médicos dizem que a parte neurológica não funciona, assim como o fígado, rins... Praticamente, já lhe disseram a verdade. Coitada! Eu dei-lhe o teu beijinho e ela manda-te outro e agradeceu. Um dia destes, ligou-me a chorar tanto... Não é fácil.

Carta n.º 11

Hoje choveu sobre a minha infância. Todos os vestígios que os meus pés deixaram no chão desapareceram. Tento lembrar-me dos meus antepassados. Alguns retratos da minha mente vêem-me à memória, quantidades indeterminadas de imagens. A praça cheia de produtos naturais no centro de Moscavide. As árvores que dormiam ao peso do calor, como a mão quente da minha avó que se colava à minha para não me perder de vista.

Lá na minha terra quem marcava o lento ritmo da vida era o sol, as conversas de vizinhas, as noites de S. João e os Dezembros frios ou chuvosos. Talvez por isso, a minha recordação se concentrasse num rio. Ligeiro o flutuar das águas onde as minhas lembranças se incubavam. Onde a clareza do meu ser era mais translúcida.

- Na terra do meu avô eles pescavam, elas lavavam a roupa e as crianças brincavam por ali. Era outro rio… Nas suas margens vivas, existia um vasto aglomerado de canas doces. Quando eu era pequena, deitada sobre uma cama de palha, contei todas as estrelas do céu e agora não conseguia lembrar-me de quantas eram.

Uma lágrima arrastou-me para a verdade de que tudo era inocência. Talvez porque a maldade na terra do meu avô ou na minha se encontrava disfarçada. Eu era uma criança (para essa criança estas memórias) e hoje era tudo tão vago.

Hoje o sol não iluminava nem esta nem a outra parte de mim.

O sol pairava oscilante na outra margem e a chuva continuava a cair persistente, sobre a minha infância.

Num ímpeto, agarrei em algo e escrevi uma ode metálica que começou com o processo de formação do barulho ao ranger dos meus dedos. Desesperada desci até à liberalidade do silêncio, até ao que de mais profundo tem a recusa das nascentes. Aí a água gelava, o coração estremecia e o vento arrancava as raízes do carvalho-lusitano. Assim as aves não podiam germinar e a paz não arriscava o voo.

A passos largos aproximei-me do tempo das coisas secretas, cavalguei para o lado dos segredos e das mãos dadas onde eu desejei embriagada em perfume, que não mais chovesse na minha infância.
 
Beijinhos.

Carta n.º 12

Carta a uma mãe…

 
Estou aqui sentada suportando tanto peso nos ombros com apenas onze anos.
Tenho o teu retrato nas mãos, não é papel é a memória que sabe de cor todos os teus traços, o teu cheiro e o sabor do teu colo.
Sinto-me bem aqui parece que estamos mais próximas, sei que não me podes responder, mas mantenho em mim a esperança que escutas todas as minhas palavras, como há tão pouco tempo.
Pergunto no silêncio repetidas vezes a Deus, porque haveria de ser a minha mãe que Ele quis para companhia…existem tantas mães de filhos mais crescidos que Ele ainda não chamou…
Dizem-me que é para tu descansares mas eu não compreendo, tu não andavas cansada? E se andavas podias descansar aqui, eu ficava no teu colo, tu dizias que isso era bom para ti…
Na escola os professores no meio das aulas chamam por mim: “Parece que estás nas nuvens?!â€â€¦E sabes eu penso mesmo que estou, as nuvens estão aí mais perto de ti. Os meus colegas riem-se, eu não acho graça nenhuma, já não tenho vontade de rir.
Nunca soube o que era ter saudades tuas, e não gosto nada de as sentir.
Todos os dias de manhã acordo vou até à cozinha e penso que te vou lá encontrar, mas quando observo em toda a volta tu não estás…em cima da mesa está a caixa dos cereais que o pai ali deixou com a minha caneca para eu comer, antes de sair para trabalhar, mas eu não tenho vontade…depois penso que tu queres que eu coma, dizias sempre que era importante para mim, então lá como e vou para escola…
Também já não vou a correr…
Numa das minhas conversas em que parece que Deus não me responde, senti dentro de mim vozes que me dizem, tudo isto aconteceu a ti porque tu és muito forte, uma menina que sabe fazer tudo…pois é! Há, mas sabes eu não acredito, tenho medo e não quero crescer…quero ser a tua menina e ficar aninhada no teu colo…
A tia esteve cá e deu-me muitos mimos e colo…sim, não é como o teu! Mas eu não lhe disse nada para ela não ficar triste, as pessoas tristes sofrem…
Eu agora sofro e nem sei porque, não estou doente e todos os remédios que me davas quando sentia dor não me fazem nada…
Sabes mãe, não consigo apagar o teu último olhar, sabias que ias embora e que eu ia ficar…
No entanto agora só queria descansar…
Sabes agora tenho que ir embora, está na hora do pai chegar e tenho que o ajudar a fazer o jantar, ele não se entende nada na cozinha…eu também não! Depois penso nas coisas como tu fazias e os dois fazemos, nada fica como quando eram as tuas mãos…
Eu vou! Logo à noite antes de dormir volto a falar contigo para tu não te esqueceres de mim, porque mesmo aí longe eu preciso de ti minha mãe…para mim serás sempre eterna!


Carta n.º 13


Voltei hoje ao lugar de sempre, onde as cancelas abertas não tinham apeadeiros e os sonhos nunca murchavam no condutor, que em suposta perfeição acelerava os passos nos dias, plantando histórias sem fim.
Eras em tudo o meu despertar, o meu passo de monção, a razão irracional infinda, de permanecer do início ao fim, com o leme voltado ao vento sul.
De repente os dias escuros mudaram-se para dentro de mim. Na impávida cadeira, tão velha quanto o próprio tempo, deixei-me e por ali fiquei, petrificada com o sol sempre no poente, sem saber de mim ou da minha insensatez. Habitei nela no mais profundo vazio, no mais outonal grito da negação, tentando encontrar uma lógica, uma qualquer incógnita filosófica para entender o final.
Hoje retornei junto á árvore, onde construímos sonhos e mitos, onde construímos versos sem palavras, onde fazíamos das sílabas uma música de folhas abertas.
As lágrimas que me circundaram, esvaíram-se num estendal de dunas e um vazio intemporal, acoplou-se ao brado seco das ondas certas, num qualquer traço suicidário escrito em papel endémico. Era o eco da própria pedra, esventrada de signos, abalroada de uma ausência apocalíptica.
Depois olhei para mim e vi que por ti, tinha alterado o rumo de todos os caminhos, tinha-me descalçado na mudez das pedras fragmentadas, tinha-me tornado faminta das migalhas de sonos, cravejados de insanos sonhos, abortados de imagens que me mataram noites, no barco que lentamente se tinha afogado.
De nada tinha valido os quilómetros fátuos que andei como romeira intemporal que não saiu do mesmo porto, ou do pão ázimo que me fermentou a lucidez, e me toldou a razão, num qualquer adorno de mosto no rosto das algas.
Ali estava o meu passado, vestido de águas, acorrentado às incertas pedras que me rasgaram as pernas.
Desceu em mim, uma dormência quase trágica e um silêncio obsceno impediu-me de andar. Gritei todos os versos projectados nas falésias, empurrei todos os ventos fingidos, enterrei no lodo o tacto ágil das gaivotas, delapidei em átomos o cinturão frenético que me tinha prendido os sentidos.
Olhei o mar! Agora podia sentir nos braços a fragilidade da música dos búzios, podia tocar a espuma do mar-chão e libertar-me do jugo da terra ressequida.
Tinha finalmente despido as amarras dos intrínsecos ventos! Tinha aberto os ombros ao calor da lúcida manhã.
Não vou reler o que te escrevi, pois o vento que me corre agora é um rio pujante e iluminado que me sacia as velas dum sistema sem regras.
Agora que respirei fundo e fechei todas as gavetas, vou fazer uma música aos pássaros e sentir na garganta o postigo da lua.

« Última modificação: Março 19, 2011, 11:36:46 por Administração » Registado
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« Responder #286 em: Março 19, 2011, 11:08:52 »

Carta n.º 14

Querido Pai Natal,
Aproxima-se a época natalícia. Como tal, venho apresentar a lista de presentes que desejo receber, caso tenha intenções de oferecer algo.
Dado que estamos numa altura de crise económico-financeira que, a meu pensar, é desencadeada pela crise ética e moral, será de bom senso comum que coloque de lado bens supérfluos e se obtenha bens como a sinceridade, a honestidade, a humildade, a integridade... É urgente uma sociedade menos crítica, mais construtiva, mais participativa.
Assim sendo, peço que traga compreensão para que as pessoas (seja qual for o seu estatuto, hierarquia) entendam de uma vez por todas que o país, o mundo, está no estado que está, devido às suas acções...
Julgo que será, além de maior aproveitamento, mais gratificante e estimulante receber os presentes acima referidos. Pois quebra a frieza, o afastamento e desconfiança da sociedade...
Encerro o meu raciocínio por aqui, com votos de Santo Natal.
 Até sempre.
Cumprimentos,
Zezinho



P.S. O egoísmo é um tóxico que tem contaminado a humanidade, impedindo-a de se unir num só... independentemente das diferenças! Traz um antídoto.


Carta n.º 15

Meu Amigo

Hoje preciso falar-te. Contar-te a minha vida desde que te foste, as minhas pequenas histórias banais, os meus desencontros com o mundo. Estou junto da tua sepultura, sentada no início deste Verão incerto, as mãos trémulas e o coração nas trevas, o corpo e a alma devastados pela tua ausência. Quero dizer-te tantas coisas, tantas que se atropelam umas ás outras dentro da minha mente já quase louca, tantas que nem sei se vou conseguir expressá-las todas. Mas tenho a certeza disto: não aceito a tua vida interrompida, não aceito o vazio que persiste, não aceito o mundo sem tu existires nele, sorridente e límpido, como tu sempre foste nos dias felizes.
Desde que partiste, tudo ficou fora do sítio. A casa desarrumada, a roupa fora das gavetas, os livros caídos das estantes. Os corações fora dos corpos, o amor sem encaixe. E eu sem ti.
O tempo parou nesse dia, e vivo agora numa dimensão diferente, num universo paralelo, numa espécie de sonho eterno, de onde nunca mais vou poder acordar.
Vivo empurrada pela rotina dos dias, pelas obrigações quotidianas, pelo tempo impiedoso que corre sempre, regular e inexorável, sem pausas.
Pergunto-me muitas vezes, como é possível que, mesmo depois da tua morte, o sol tenha continuado a nascer todos os dias, e as estações tenham mudado, e que alguém tenha sido feliz. Não entendo. O certo seria que tudo tivesse ficado suspenso nesse momento, nesse terrível segundo em que te separaste da vida e de todos nós.
Não consigo viver sem ti. Estou, desde esse dia, á beira do abismo, fascinada pela vertigem da escuridão, ás cegas no centro do labirinto. Não encontro a saída. Estou, definitiva e irremediavelmente, perdida.
O tempo que passa não alivia a dor, apenas a torna cada vez maior, cada vez mais forte, generaliza-a ao corpo todo e torna-me cada vez mais vulnerável. O tempo é escasso, não chega para lamber as feridas, para me consolar o espírito. Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.
Preciso dizer-te que, mais uma vez, estou desencontrada do quero e do que preciso. Como quando nos conhecemos, lembras-te? Isso foi há muito tempo, tu eras uma criança traquina e tinhas o coração nos olhos e a alma exposta, e sorrias para mim com a confiança e o Amor de um irmão.
Gostava que estivesses aqui e que me abraçasses como nesses tempos felizes e atribulados, em que tantas vezes chorámos os dois para logo de seguida explodirmos em gargalhadas sonoras. Tu conhecias profundamente o meu coração e a minha essência, e hoje, queria que estivesses aqui, junto a mim, para me dares a mão e para me segredares “Eu entendoâ€.
Estou devastada e as lágrimas não são suficientes. Estou desfeita e o tempo passa muito depressa, depressa demais. A vida esmaga-me e tu não regressas.
Sentada junto á tua sepultura, no início deste Verão incerto, quero dizer-te que o meu Amor por ti é eterno, assim como tu, as tuas mãos de criança e o teu sorriso brilhante, iluminando a minha noite.

Tenho saudades tuas. Muitas. E isso dói-me.

Eternamente Tua




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« Responder #287 em: Março 19, 2011, 11:10:02 »

Carta n.º 16

Meu Irmão

Meu irmão, estás longe.
A distância que nos separa, não é grande, mas para mim, tornou-se enorme.
Partis-te há muitos anos, e eu, sem que me apercebesse, construí, dentro do meu peito, um muro intransponível, marcado com a palavra saudade.
Madrid, amaldiçoada essa cidade que te acolheu e nunca mais te devolveu ao teu País.
Lá longe, foste adoptado por seres que não conheço. Queira Deus que sejas feliz. Sofro só de pensar o contrário.
Quero que o maldito tempo pare e me carregue para o passado.
Recordo com nostalgia, as duas crianças, inocentes, que davam as mãos, a caminho da praia, rindo, como as flores sorriam para nós, à nossa passagem.
Lembras-te? Lembras-te… Quando a tua pequenina mão apertava a minha, num gesto de carinho, e me dizias: “Vamos embora mana, já é tarde.â€
Não, meu irmão. Naquele tempo, nada era tarde. Éramos somente duas crianças, que caminhavam impelidas pela força do tempo.
Hoje… O tempo teima em parar. O meu fim está próximo, e não te tenho junto a mim para te poder abraçar.
Urgem as horas e os dias. Contudo, a misericórdia de Deus é enorme. Sinto que, não seremos cobertos pelo manto do silêncio, sem antes leres esta carta, para saberes o quanto te amo.
   Esta é a carta de uma irmã que sofre a tua ausência.


Carta n.º 17

Minha FILHA

Hoje… Sim, só hoje, depois de tantas e tantas noites passadas em claro, debruçada sobre o velho e carcomido caixilho da janela, falando para as estrelas.
Sabes… Ou talvez nunca venhas a saber, conto às estrelas a saudade que me devora as entranhas. Conto àquela estrela que me parece mais próxima de ti, a tristeza de não poder abraçar-te.
Recordas-te? Já foi há tanto tempo… Já lá vão dez anos, dez anos passados na minha triste memória, que partiste em busca de riquezas. Nunca mais ouvi a tua voz, quando me chamavas “mãe.â€
Partiste, e nem uma simples carta, nem um mísero postal, com a tua letra. Nada tenho, que me faça recordar a tua presença nesta casa.
Agora, sozinha, tendo por companhia quatro paredes, e a ingrata solidão, abomino o momento da tua partida. Desprezo o oceano que te transportou para o outro lado.
Sim… A distância é medonha para mim, velha e tão carcomida como o caixilho da minha janela, vendo aproximar-se o fim da existência. Meu Deus… Tão próximo o momento final.
Hoje… Finalmente criei coragem, e resolvi deixar latente, numa folha de papel, o meu sofrimento.
Tão logo!... Sei que a lerás. Porem, esse dia será tardio.
Tardio para poder sentir o teu rosto colado no meu, e, pronunciar a palavra “minha filhaâ€.

Carta n.º 18


É sempre Agosto
 

Era Agosto, amor…quando os nossos olhares se cruzaram e as palpitações se agitaram

nos corpos adolescentes em fulgor.

Beijos de fugida, sonhos inocentes no presente sem cálculos futuros. As danças ao luar na melodia cantada pelo violinos que ambos orquestrávamos. As manhãs ao sol banhadas pelas águas mornas no deslizar das alegrias que inventávamos para nos cobrimos de calor. As fogueiras onde cantávamos em conjunto para depois fugirmos no abrigo das nossas ilusões.

Distribuímos sorrisos, ousamos tocar as silhuetas na descoberta do império dos sentidos. Os dias solarengos embrulharam delírios. As mãos dadas em passeios pelo areal por noites estreladas, e quando as brisas refrescavam o meu corpo o teu abraço acalentava todos os poros infindos da pele.

Os hemisféricos rodaram e o Verão vestia o Outono…partis-te num longo sorriso banhado das lágrimas ocultas onde guardei as ânsias e os segredos…dizes-te que voltavas!

A Primavera trouxe de novo o calor da praia, mas o teu aroma não se fez sentir…procurava, mas não o encontrava.

O mar murmurava no meu âmago o teu olhar.

Os dias fluíam num outro brilho, o teu sorriso espontâneo ficou gravado no meu ventre…a tua morada era utopia , também não a procurava para não acordar o sonho que em ti vivi e prolonguei nos olhos que sempre me perguntaram…

O meu pai?...O teu pai é o mar onde o amor te fez vida e a vida és tu fruto do mais belo Verão que o mar desenhou nas ondas de uma paixão na eternidade de mim.

Agora, trinta anos depois é Agosto outra vez, o mar uiva as mesmas paixões…sento-me no beiral das areias com a esperança ainda acesa de te poder beijar o olhar uma única vez, poder dizer-te que me entregas-te um destino longe do teu mas o mais nobre destino esboçado em pleno amor…quem me dera que o oceano te entregasse este segredo!

Foram tantas as vezes que falei contigo em letras sobre papel, coloquei-as em garrafas, entreguei-as ao mar para que ele te pudesse falar…mas será sempre Verão no meu coração pelo olhar que tatuastes nos meus lábios, eternos abrigos na verdade do amor em flor…

Carta n.º 19

Q’s G’s e I’s
 
Querido não precisas esforçar tanto nem ir muito longe para dizeres aquilo que vejo nos olhos dóceis e salpicados de água. Podes ficar no silêncio sempre que quiseres gosto desse jeito que tens calado que são horas ganhas por mim enquanto vais dizendo tudo que preciso saber para além daquilo que não sabes que sei. Dizer que tens um ser tímido dentro do olhar já sei ups constrangimento. Sei que trazes um dragão dentro do peito a querer explodir sinto-o pular daqui num jeito de batimento quase certo. Ver-te corado para mim é sentir-te tão giro e gracioso mas se a conversa estiver fora desse âmago normal de ser então vira o disco e põe lá a tua música. Saberei ouvir sem questionar. Existe essa barreira no querer e não vejo nada tão forte que não saiba o porquê. O pseudo muda de cor sempre que tento perceber a razão. Lavar as mãos com limão ups lembrei que tens dez dedos nas mãos para contares as vezes que me falas de ti. A lupa da mente veste-te o casaco a deixar-te sair rumo ao jardim das flores. Entre nós há bela conexão do só entender e interagir mas tens um toque torto no andar que se inclina para o meu estimulo maior. Belisca-me o pensamento e torna-me esfinge do teu olhar. Meus momentos dão-te noventa e nove vírgula nove por cento de encanto mas falta um por cento que anda a pular na minha mente dita meu ser onde me delongo a falar de ti. Tenho todos os Q’s G’s e I’s para dizer-te que não basta o mistério é preciso haver hemisfério a surpreender-te. Sair da onda por vezes é ganhar o mar que não tenho. Gosto de ir a festas imbecis é lá que os vejo todos juntos enquanto o fundo do nosso ecrã mostra aquela sempre frase perfeita: “no comentsâ€. Esquecemos da rodinha proibida no superior da juba do teu olhar que desperta o lado mais ameno de mim. Adoro essa parte do procurar-te quando simplesmente me abraças. Agora quebrar a casca de ovo somos soma secreta tão dócil que promove um pormenor simples de... UaU! Minha alma grita do outro lado de mim se saio desse mar a dentro onde te vejo magnífico. Entro a apanhar distraídos tantos I’s e tantos Q’s e iludo-me novamente...

Carta n.º 20

Orquídea

A esse alguém que jamais resistirá ao meu perfume

Uso as árvores para driblar a escuridão. Elas me agradecem por tornar seus caules mais belos e atraentes. Minha família é a maior que existe entre as famílias botânicas. Eu tenho alma também, assim como as minhas irmãs. Compartilhamos características as mais marcantes: cores, folhas, inflorescências, frutos. Sou adaptável, muito. Ao contrário do que se imagina, não sou parasita. Minhas raízes sobrevivem no ar. Estranhamente perfeitas. Do ar é de onde retiro os nutrientes. Jamais esqueço de exercer minha nobreza epífita.
Às vezes vem alguém e me leva para dentro de um vaso qualquer. Eu me sinto só. Mas esse alguém que me leva também cuida de mim; não com a mesma eficácia do meu habitat natural. O carinho que recebo costuma suprir a deficiência. Tornei-me quase humana. Dizem que tenho as formas mais provocantes da Natureza. Mesmo quando sou esquecida, o carinho que recebi me ajuda a aguardar o próximo que virá. Poderá vir, em forma de nuvem ou pássaro (não posso prescindir do pássaro nem da nuvem, seria o meu fim). Sei eu que não se escusará  à chegada ...o devir e seus obséquios fascinantes: abelhas, borboletas, besouros. Minhas estratégias de polinização (o jogo amoroso) são infinitamente belas. Minha herança está em todos os continentes.
Tenho segredos, muitos. Por isso não investigue sobre a melhor forma de cultivar-me. Antes procure identificar-se comigo. Somente o necessário. E tudo nascerá.
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« Responder #288 em: Março 19, 2011, 11:12:58 »


Carta n.º 21


Carta ao meu pai e ao meu filho

“Pai,
Sei que não tivemos tantas conversas como gostaríamos, assim como muitas coisas que não teve a oportunidade de me contar, outras tantas que eu nunca lhe disse. Hoje compartilho algumas dessas. Há algo muito importante sobre como a sua postura influencia a minha vida, que deve saber. Certa vez estava sentado com um grande amigo quando ele me faz uma pergunta inesperada. Questionava ele, “se tivesse que dizer qual a característica que mais admiras no seu pai, qual seria?†Fiquei calado. Pensei nos conflitos que vivemos, alguns muito intensos. Reflecti por longos minutos, deixei raivas antigas de lado, até encontrar a resposta. “Se tivesse a oportunidade de descrever o meu pai numa única qualidade, diria que ele é um homem generoso.†E a grandeza dessa generosidade sempre se fez presente nos seus modos duros, intempestivos, intransigentes, os quais nunca estiveram distantes de um coração sem tamanho.

Filho,
Sei que não tivemos tantas conversas como gostaríamos, assim como muitas coisas que ainda não tiveste a oportunidade de me contar, outras tantas que eu nunca te disse. Hoje compartilho algumas dessas.
Quero ensinar-te o que me ensinou o meu pai e que esteja sempre os meus modos duros, intempestivos, intransigentes, e que nunca estejam distantes de um coração sem tamanho.
Pois é gigantesco o que me foi ensinado pelo meu pai:
Aprendi a ser fiel aos meus princípios.
Aprendi a ler além do óbvio e entendi que o mundo não se resume ao que parece ser.
Tomei paixão pela leitura, fruto dos inúmeros livros com os quais me presenteou.
Admirei-me com o carinho que sempre dispensou à nossa família, faça chuva ou faça sol. O carinho dedicado também à minha mãe.
Aprendi a agir com presteza, pois quem chega primeiro na fonte bebe água limpa.
Aprendi a ser pródigo e a enxergar mais alto do que desejava acertar.
Compreendi ainda o peso das origens de um homem na sua vida.
O valor inestimável das amizades.
E a coragem de fazer o impensável quando todos discordam de você.
Entre tantas discussões, atritos e tanta distância, uma frase sempre ressoou na minha mente: “Caetano, tu não vais reinventar a roda!â€
Absolutamente enfurecido, nunca concordava.

Pai,
Hoje reinventei a roda!
Fui atrás dos meus sonhos. Alcancei-os, mas tenho outros novos. Vivo intensamente, trago comigo o melhor do que aprendi, lido com as falhas – erro como nunca, na verdade -, e tenho plena certeza de que a maior perfeição na vida de um homem são os obstáculos que enfrenta, pois neles, e somente neles, nasce a força da qual necessitamos para arrancar os nossos desejos mundo adentro. Pois sim, sou um desbravador convicto, eterno conquistador de novas terras e devorador de conhecimento.
E se hoje está presente diante de você esse Homem, saiba que o meu orgulho por você é sem fim. Que sou imensamente grato pela formação que recebi; dos acertos, dos desacertos, das brigas. Personalidade não nasce sob chuvas leves. É forjada em tempestades.
Se caminho altivo e realizo grandes feitos, esse é o seu legado.
Que estejamos juntos – como infelizmente não estamos agora – por muitos anos vindouros.
Pai, eu amo-te!
Filho, apenas te digo: “tu não vais reinventar a roda!â€

Carta n.º 22

Neste último ano

Olá!
Como sabes, neste último ano, muita coisa se passou na minha vida, desde o sonho destruído pela traição do meu marido com a minha melhor amiga até a um recomeçar de uma nova vida. Foi devastador para a minha alma. Há dias como estes em que nos apetece apagar o dia do calendário e da memória. Com uns copos, alguns conseguem apagar essa sensação de acordar no deserto que nos cega. Mas eu não bebo, por isso não podia ir por aí. Precisava de um sol, mas de um sol refrescante. Mas o sol tardou e eu pensava apenas em me atirar janela fora do 11º andar e nunca mais acordar neste mundo cheio de nada. Depois o sol apareceu. Foi a minha irmã que me tirou do mar de areia e me levou a uma festa de “tudo boa genteâ€, como ela me garantiu. Naquela festa, no meio de um mar de gente desconhecida, um desses rostos, já esquecido pelo tempo, volta a me encontrar. Eu disse que achava já o ter visto nalgum lugar também, porém o seu rosto em nada me parecia conhecido. Mas a voz, sim, havia algo de familiar naquela voz. Começamos a pesquisar os nossos passados e descobrimos que um ano, lá bem no passado, fomos da mesma sala de colégio. Aos poucos vamos recordando pessoas, factos que ocorreram. E nós pusemo-nos a conversar, e a conversa até que sai com uma certa desenvoltura, como se fôssemos amigos de anos, quando, na verdade, fomos apenas colegas por um ano. Vamos descobrindo que durante esses anos todos, as nossas vidas não estiveram tão distantes assim, e até temos amigos em comum. Mas então chega a hora de irmos embora. Despedimo-nos alegremente, com um ar de "prazer em revê-lo" ou um ar de "espero reencontrá-lo novamente". Ou, mesmo sem sabermos, talvez tenhamos ficado com essa impressão de ter a certeza que algum dia voltaríamos a nos encontrar; assim, ao acaso, à surpresa, como desta vez. O mundo dá voltas... como dá voltas. Arrependida por não ter pedido o contacto dele no dia daquela bendita festa. Já me tinha demorado muito tempo sem homem, um dia a mais era demais. Quem me valeu foi o anfitrião da festa a quem exigi que me desse o número dele. Liguei-lhe de imediato e até hoje não o larguei nem ele me largou. Agora vivemos um para o outro. Ele separou-se da namorada, porque também a relação deles ainda não era muito estável, e tinha sido só para ver se dava. Agora ele quer viver comigo. Diz que perdemos muito tempo, ao estarmos tão separados. Agora devíamos aproveitar o que a vida nos ofereceu. A vida quis que nos juntássemos. Deu-nos a conhecer um novo caminho, uma nova via, um novo futuro, um novo destino.
Temos de aproveitar. Fazer projectos a curto e a médio prazo para a nossa relação tem sido muito benéficas para mim. Eu, que estava no fundo do poço, sem condições para voltar a sorrir, com vontade de me atirar de uma ponte ou de uma janela de um prédio, agora sinto-me tão bem, tão feliz, como se aquilo porque passado tivesse sido num passado tão longe, tão distante. Apenas porque voltei a amar, apenas porque o amor é tudo. Há quem diga que quando uma porta se fecha, uma janela logo se abre e eu não acreditava nisso. Agora sim, agora acredito. Uma grande janela se abriu, tudo o que estava para lá da porta que se fechou, está bem trancada, para não mais abrir, para não mais me atormentar. Agora quero viver, amar, ser feliz.

Carta n.º 23



Meu Querido
Escrevo-te porque sinto saudades tuas. Especialmente hoje, porque chove lá fora como no dia em saíste da minha casa e da minha vida, como no dia em que abandonaste os teus livros em caixotes e o meu corpo frio, sem sopro de vida. Sinto falta do teu olhar pousado em mim enquanto eu me vestia, das tuas gargalhadas francas pela manhã, do teu abraço quente nas noites frias. Dói-me a tua ausência na minha cama, queria voltar a ter-te aqui, para me segredares palavras doces ao ouvido, para me beijares o pescoço e a boca, para entrares no meu corpo sedento do teu.
Conheci-te, num final de Julho longo e ardente, e não previ a tua chegada, não antevi a tua pressa, não adivinhei o perigo que encerravas nos teus olhos luminosos. Já te tinha sonhado, dentro de um sono possivelmente agitado, mas por vezes, os sonhos surgem-nos envoltos em bruma, as mensagens fechadas em códigos ininteligíveis. A plenitude do Verão e o teu sorriso irresistível, trouxeram-nos a intimidade, a inundação transbordante do amor. As estações sucederam-se a partir daí como nunca antes tinha acontecido, o Outono em doces tardes, o Inverno na quentura do teu peito, a Primavera nascida de todas as tuas palavras, o Verão eterno nos teus dedos esguios.
Eu amava tudo em ti, mesmo os teus defeitos mais óbvios, as tuas imperfeições de carácter, tudo o que eu odiava nos outros homens. Erguias-te aos meus olhos todos os dias nesse esplendor absoluto, de cabelos negros em desalinho e olhos húmidos, magnificente como um Deus. O nosso amor radiante e sem mácula, eu e tu juntos, sempre gloriosos e animados, com chuva nos cabelos e a pele quente do sol, o amor que eu via, sentia e acreditava.
Foi preciso tempo e lucidez para questionar o esfriar das tuas mãos, o silêncio profundo depois do orgasmo, os discos de jazz que já não ouvias. à noite, apesar de estares deitado a meu lado, era como se precisasse de um avião para chegar até ti, como se vivesses num outro continente. Estavas na China, mas dormias na minha cama. A Grande Muralha erguia-se á tua volta, e era impossível alcançar-te.
O tempo agigantou-se entre nós, e tornou-nos distantes, frios e cinzentos. A distância cresceu, alastrou como uma nódoa de azeite numa camisa nova e feriu-nos mortalmente. Durante muito tempo, esperei por uma resposta, por um sinal, por um gesto. Esse vazio silencioso afligia-me, paralisava-me, provocava-me insónias. Nesse Inverno de neve e silêncio, de trevas e vazio, passaram muitos anos e tu não te deste conta, e eu envelheci.
No dia em que te foste embora, percebi que fui sempre um ser imperfeito, fugidio e egoísta. No momento em que a porta se fechou atrás de ti, sob o peso das tuas mãos duras, também o meu coração se tornou uma peça inútil, um doente terminal em coma profundo.
Sinto saudades tuas. Especialmente hoje, porque chove lá fora, como no dia em que partiste. O teu cd de Jazz preferido toca no volume máximo, ecoa na minha casa e no meu peito. A chuva bate com força nos vidros, e é como se tu regressasses, por breves momentos tu estás aqui de novo, o teu cabelo negro em desalinho, o teu corpo celeste nos meus lençóis, os teus olhos húmidos em êxtase. Uma última vez, tu e eu e o nosso amor assim, radiante e intacto, antes de ser levado pela corrente, ressuscitado do sepulcro, como um milagre.
Fazes-me falta. Volta por favor.
Para sempre tua

Carta n.º 24


Carta; De mim, para mim…!

 

Há quanto tempo não falo contigo? Ah, há tanto tempo… sim!

…No entanto, sabemos, com uma precisão indefinível, que seja qual for a circunstância do nosso afastamento, estaremos sempre uma com a outra incondicionalmente. Nas horas mais difíceis. Para escalar os morros escorregadios que teremos que ultrapassar. Para que possamos içar finalmente a bandeira da determinação. A nossa. Porque somos nós que determinamos o queremos ser e nunca o que os outros julgam que somos.

Não o esqueças…! Principalmente nunca deixes de ouvir o que o teu coração te segreda. Ele pode enganar-se mas é sempre sincero quando o ouves atentamente.

Não permitas que os outros nos desencorajem. Peço-te!

 

É nestes momentos em que sigo a luz que busca incessantemente a claridade que se esconde no orifício de todas as sombras. Que me apercebo que por maior que seja a distância, ela se encurta ao som de um simples trinar de dedos.

Qualquer que seja o desespero que nos invada o espírito, a mesma ajoelha-se e cede. Haverá maior milagre do que acreditar no que desejamos?

 

Há quanto tempo… pois é! Ah, há quanto tempo!

Aprende a positividade das lições que te vieram do passado. A viver intensamente o presente, sem grandes conjecturas para o futuro.

Sabes? O futuro é hoje!

- Toma… bebe um copo de vinho comigo e sorri para o espelho. Não faças as habituais caretas como se esse exercício fosse uma idiotice pegada. Deixa-te de esquisitices. Descontrai, vamos lá!

Sinto-me tão só, hoje! Será que ainda não estás aqui, junto a mim? Não.

Porque sempre estiveste. Bastava eu querer sentir a tua presença.

E depois… mocinha insegura, vai-te lembrando que tens que gostar de ti, muito,

para que os outros aprendam a gostar de ti.

 Ã‰ básica essa conclusão mas não esqueças de a colocar em prática já que as palavras só ganham sentido se forem aplicadas no seu mais transparente sentido.



Carta n.º 25

 

 APRENDER A PERDER-TE  (carta)

Espreitei-te, hoje, pela nesga dessa onda onde te banhavas em mergulhos acrobatas a desafiar o sol nas suas penetrações abrasivas. como se de repente o céu caísse inteiro nas minhas mãos e te transformasses nas teclas de um piano a desafiar a impaciência gritante dos meus dedos. quis tocar-te com as chamas deste inferno que me devassa o corpo febril num alienado anseio de arrebatamento. Sabias?

- Por isso me aproximei de ti, como a abelha enamorada pela flor, mas… mas tu, estranhamente já não estavas lá. quis vestir-me dessa nudez que florescia na invisibilidade desfolhada do meu desejo, no entanto, apenas permaneceu a tua imagem transparente a eclodir de uma onda colérica. Porquê ? se o amor é uma pomba que apenas quer voar?
… desejei como quem roga, flutuar à tona de água, procurar-te nessa imensidade atlântica, acompanhar de perto esses bailados ondulantes para que o perfume do meu corpo se diluísse na mesma água que beija o teu. mas o mar enovelou a minha vontade, e eu… eu… perdida de ti e de mim, teimei em escrever na água o principio desse perecer estranho onde te busquei calçada de esperanças inapagáveis
Não leste essas palavras? Eram gigantescas como o meu amor por ti… imensas como o mar. Leste?
Ah… nem sei se sabes, que agora os lobos já não uivam no meu coração. Que pena… que a pena… me desarme com espadas de sal e brisas.
Hoje voltarei a ser um canário que canta a olhar para a lua.
Atrever-me-ei a entoar frémitos ocasionais, a transpor silêncios salgados, ávidos desse olhar inflamado de oceanos até que as algas do pensamento te façam escorregar para o sangue que bombeia o meu coração. Talvez o colapso final se dê por fim e eu saiba perder-te definitivamente…!


Carta n.º 26


Para o meu Amor,

Quando te conheci, o meu mundo estava virado do avesso.
Estava perdida de mim, sem norte de vida, alheada da realidade, mergulhada numa escuridão da qual pensei nem querer sair…
Mas quis o destino que nos encontrássemos e aqui estamos, passados tantos anos, amando-nos, respeitando-nos, sempre presentes um para o outro.
No entanto, eu sei o que te fiz sofrer.
Foste tu quem ajudaste a encontrar-me, quem me trouxe á realidade, quem iluminou o meu caminho, quem me tirou do desatino.
Sei que dirias agora, que fiz tudo sozinha, com a minha força de vontade, e talvez seja verdade, mas foi o teu amor constante e a tua força, que me deram alento para a luta que travei.
Tive sempre uma vida sofrida e encontraste-me no mais profundo abismo… não seria qualquer um que abraçaria a situação que enfrentaste.
Mesmo mais tarde, quando a doença chegou e sabes não ter cura, e que me irá torturar até ao fim dos meus dias, continuaste e continuas tal como sempre foste, forte, seguro, amigo, companheiro, amante, marido, e já nem se fala do excelente pai que sempre foste para os meus meninos.
Poderia dizer-te tantas mais coisas, mas tudo resto seria quase estar a repetir-me.
Eu sei que tu sabes, mas quero que todos saibam, que te amo, sempre te amarei e aconteça o que acontecer, nunca te esquecerei, nesta vida ou numa outra…
Amo-te…

Carta n.º 27

Caro Senhor

Sejas Tu quem fores, seja lá como Te chamas ou chamam, a mim pouco importa.
Estou aqui neste momento, numa noite de insónia, como tantas outras, e as palavras fervilhavam-me na mente e achei que devia escrevê-las.
Quero agradecer-Te tanta coisa!
Quero agradecer-Te a infância que quase não tive, mas que me ajudaste a atravessar, quase que esquecendo as más lembranças.
Agradeço-Te a adolescência que não vivi, mas na qual não me deixaste perder.
Estou grata porque apesar de ter sido forçada a crescer abruptamente e me ter perdido de mim, nunca permitiste que enveredasse por maus caminhos.
Agradecer-Te, por me teres ensinado que tudo acontece por uma razão, que depois da mais terrível tempestade, vem sempre a bonança.
Por me teres ensinado e ajudado a ser uma boa Mãe.
Porque me mostraste o que era amar de verdade, incondicionalmente e me presenteaste
com um Amor tão lindo, que faz pensar diariamente, que tudo, mas tudo o que sofri na minha vida, foi um preço pequeno a pagar pelo que tenho hoje…
Fiquei fascinada com a capacidade de amar que me ajudaste a descobrir que tinha, como me consegui tornar uma pessoa melhor, e como quero continuar a melhorar!
Não tenho muitos amigos, mas os pouquinhos que tenho, são um tesouro.
Os meus filhos, os meus enteados, os meus netos, os meus pais, a minha tia e a minha prima adorada, são as minhas relíquias.
E até os meus gatos são uma bênção (apesar das marotices), que aqui tenho em casa, quem sabe, talvez porque os recolhi ainda bebés, abandonados no lixo, mas a dedicação e carinho deles, sensibiliza-me muito, principalmente por ver tanta frieza e maldade lá fora, nos humanos…
Agradeço-Te toda a beleza das coisas da Vida…
E agora, Perdoa-me que esqueço de agradecer alguma coisa, mas peço-Te encarecidamente que perdoes o que faço de errado, que perdoes o que todos fazem de errado, que faças tudo por tudo por iluminar essas almas obscuras e perdidas que por aqui andam.
Por mim, tentarei dar o meu melhor, até porque penso que Te devo isso.
Mais uma vez, não sei bem quem És, cada um chama-Te o que bem entende, ningém sabe bem a tua forma, mas para mim, É somente algo superior, belo, omnipotente, omnipresente, omnisciente, e que acredito piamente não andar muito satisfeito com o que vês aqui por estes lados. Mas, mais uma vez, Perdoa-nos e não nos abandones.
Esta é a minha Fé
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« Responder #289 em: Março 19, 2011, 11:14:52 »

Carta n.º 28

Cidade dos Sonhos, um dia e um mês de um ano qualquer.

Caríssima Júlia:

   Não Júlia! Esta carta não fala dos meus sentimentos ou dos seus. Esta carta se quer para si mesma. É uma carta de um louco. Uma carta de um náufrago. Uma carta de alguém que se quer e não se quer. Mas as palavras se bastam. Elas sempre se bastam. Elas têm uma cor própria e uma vida que não sei dizer direito. E cada linha é um ser, um corpo, uma alma. As palavras, Júlia, têm vida! Acredite.
   Esta carta poderia falar de um tempo. O nosso tempo de infância. O nosso quase beijo. O nosso quase amor. Mas esta carta se quer para si mesma. E dirá coisas de si para si. Palavras e mais palavras e mais palavras que se buscam tal como no jogo amoroso. Elas se beijam e suam e se tocam e transpiram e gemem e se entrelaçam para formar um sentido ou para desfazer a lógica das coisas.
   Não Júlia! Esta carta não é um ensaio sobre o homem. Não são linhas filosóficas. Não são pensamentos para o futuro. São linhas simplesmente linhas. São palavras puramente palavras. E no embaraçar de letras e de sons uma canção se faz ouvir. E são muitas vozes. Vozes de homens e mulheres. Vozes de todos os tempos. Todos os poemas e todas as histórias em uma carta.
   Da Bahia de Gregório e de Castro Alves, Das Minas Gerais de Drummond, do Rio de Janeiro de Machado, da São Paulo dos Andrades, do Sul de Veríssimo (pai e filho) e Trevisan ouve-se a língua de Camões a se misturar. E ouve-se Cartola, Adoniran, Caetano, Leminski, Lenine...
   De Moçambique e de Angola e de Cabo Verde ouve-se inúmeras canções. Canções de guerra. Canções de paz.
   De Portugal, caminhando com o Tejo, leva os sonhos das aldeias, as inquietudes de Lisboa e o riso das moças até o mar.
   E se fazem ouvir através dos séculos Sá de Miranda e Gil Vicente e Vieira e outros mais...
   Esta carta, Júlia, tem como destino a língua. A minha e a sua e a de tantos outros que descrevem o Atlântico e que sentem saudade até mesmo da palavra saudade...

Carta n.º 29

Olá Portugal
Quem havia de dizer que hoje estaria a escrever-te!
É uma conversa que vai para muito tempo eu desejo fazê-la contigo. Nestes úlimos tempos tens vivido demasiado conturbado, confuso e impotente perante quem te popula, com a inércia de quem te governa, que se tornou autista, corrupta e falida.
Pergunto-te, onde está a nossa Portugalidade, o nosso Berço, oriundo do início do segundo centenário do primeiro milénio DC? Não sabes? - Eu tão pouco. No entanto, poderei informar-te de algumas coisas que se têm passado nestes últimos cem anos de História por que passaste.
Sempre tiveste uma dignidade e uma grandeza, que fez ver ao Mundo até finais do teu século XIX, o Império em que te tornaste ao adquirires em todos os Continentes pedaços de terra conquistados por bravos navegadores e guerreiros que partiram à conquista ne novos mundos, ao serviço do Reino de Portugal.
O que nos resta hoje? - A miséria, a fome, o descrédito e o pouco que existe (que ainda é muito), está nas mãos de meia dúzia, que se têm governado à custa de quem para eles trabalha.
Lembra-te que foi necessário matar um Rei e o seu Herdeiro, para que um poderio maçónico auxiliado por uma carbonária assassina, instalassem uma república, que te foi degradando, comendo-te a carne e deixando os restos para os abutres que querem acabar contigo.
Aos poucos fomos perdendo esse tão vasto e maravilhoso Império que tivemos. O que nos resta?
- A lusofonia, uma vez que a língua desta “Bem Ditosa Pátia, Minha Amadaâ€, é a quinta mais falada em todo o Mundo.
Sinto-me triste por ti, pelos nossos filhos e pelos nossos netos, porque não sei o que será o futuro deles, e, tu tal como eu, também te deves sentir angustiado.
Meu querido Portugal, vê se ainda consegues acordar as consciências, se te pões ao lado de quem ainda não perdeu a esperança de ter a verdadeira Libertade, em vez de libertinagem, de quem governa ter um sentido de Estado coerente no que diz e no que faz, acabar com a luta de poderes, como se fosse uma arena num qualquer coliseu, em que se lançam homens para enfrentarem uma luta fraticida.
Acorda, mas acorda mesmo deste sono de pesadelos que já dura há tantos anos. Exige que haja uma hierarquia de respeito e que com respeito saiba respeitar quem para ti trabalha, para seres grande, empreendedor, saber sustentar o que têm em mãos, aumentando e engrandecendo-te como mereces.
Olho para trás no tempo e desde que me conheço, o que por mim já passou, pelo que tens passado e  que também ao longo dos tempos e das suas modificações – para pior – eu também passei. Perdi um tesouro dos mais valiosos que tinha. Fiquei com outro tesouro, mas as sequelas ainda cá estão pelo que perdi.
Olha para ti nestes cem últimos anos. Impuzeram-te uma república e tiveste nos primeiros anos o sabor das guerrilhas e das guerras. Impuzeram-te depois uma ditadura fascista durante quarenta anos, ao que se seguiu uma “liberdadeâ€, que se tornou em libertinagem, covil de ladrões e de corruptos.Estás a ver como não tem sido fácil viver contigo, quem de ti depende?
Tem coragem e acredita que uns quantos que te querem bem, porque também querem o bem comum e de todos os Portugueses, devolverão tudo a quanto tens direito, menos o Património Territorial    espalhado por esse Mundo fora, que, mesmo defendido por Homens garbosos e à custa de sangue, onde muitos perderam a vida, foi servido de mão beijada, a quem o reclamou e lhe chamou de seu.
Uma Portuguesa que te Ama


Texto n.º 30

"PELO SONHO É QUE VAMOS"

 
“Pelo sonho é que vamosâ€, já dizia Sebastião da Gama, e foi assim que eu, amiga de desafios, me dispus a atravessar o oceano e vir de encontro a este mundo tão distante e tão diferente de tudo aquilo a que fui habituada.

Isto é muito pobre embora as praias sejam magníficas com grandes extensões de areia, banhadas por um mar calmo cujas águas quentes e transparentes convidem ao mergulho a qualquer hora do dia.

Quero contar-te uma peripércia que observei à beira-mar. Eram 4 meninos que mergulhavam na água à procura de caranguejos. Quando já tinham o suficiente, fizeram uma fogueira, assaram-nos e comeram-nos. Depois juntaram-se 3 cães para devorar os restos e à mistura apareciam cabras à procura de pasto. Uma delas chorava porque tinha perdido o filhote. Andava na marginal de um lado para o outro a fazer mééééé..., coitada! Antes disso andava um porquinho-bebé a ser corrido da praia por um cão que depois foi escorraçado por outro maior que ele. Isto aqui só visto, é a lei do mais forte!

Ontem fui à ilha de Ataúro, a 3horas de Dili. A viagem de ferry-boat foi um pouco atribulada: no piso de baixo, estavam os Timorenses com galos, porcos, cabras e todo o tipo de apetrechos como tachos e material agrícola à mistura com mercearia e sacos de comida para os animais; em cima, onde nós íamos, os adolescentes cantavam e dançavam ao som da música da sua aparelhagem portátil; à nossa direita uma família jogava cartas com grande entusiasmo; à nossa esquerda outras Portuguesas que dão aulas no secundário contavam anedotas. Agora imagina a cena! A música tipo mexidinho (mistura de salsa e música chinesa, pimba e as ketchup) com o ruído do motor, as gargalhadas dos mais jovens e para completar, no rés-do-chão os galos cantavam de uma maneira que se ouvia nitidamente! Ou seja, isto não se explica, isto só vendo, só no Oriente... mas é uma experiência fantástica... vale a pena!

As nossas casas são seguras. Temos guardas no portão para qualquer eventualidade, mas nunca foi preciso. Andamos na rua sem problemas e somos respeitadas pelos Timorenses que nos cumprimentam sempre com um sorriso na boca. São pessoas dóceis e humildes apesar da vida difícil que levam...

 Mas agora quero falar-te um pouco dos meus alunos. Eles são inteligentes mas estão completamente fora do contexto mundial. Parece que a globalização não chegou aqui. Está tudo virgem, as pessoas, a paisagem... Dá-me um aperto muito grande saber que os meus alunos e a população em geral têm fome enquanto nós temos tudo. Nós estamos no país deles e eles passam mal, principalmente os que vivem nas montanhas, embora não se veja ninguém a pedir esmola. Admiro a coragem e o esforço destes jovens com idades entre os 18 e 25 anos. A maior parte vive fora de Dili e não come durante todo o dia para poder estar nas aulas. Eles têm carências afectivas e traumas da guerra, e tentam agarrar toda a amizade que podem tratando-me orgulhosamente como a “sua†professora.

Eu sinto que sou necessária. Estou a formar os futuros líderes/cérebros de Timor pois há muita carência de pessoas habilitadas aos cargos que farão renascer/desenvolver o país; em Portugal não sinto isso! Em Portugal só formo engenheiros e qualquer outro pode fazê-lo. Não é comparável com o que se sente no nosso íntimo quando damos aulas aqui...

Trabalhar com esta gente é fazer ALGO por quem realmente precisa e neste momento o meu lugar é junto deles!...

Carta n.º 31


A UMA ÚNICA POSSÃVEL DESTINATÃRIA




Ganhei coragem para te escrever esta carta porque não ta vou enviar, ficando ao critério dum dedo do destino, do acaso ou do futuro a responsabilidade de ta fazer chegar às mãos.
 E se na posse dela a quiseres ler, tudo bem, se a destruíres, melhor ainda porque não te espiarei movimentos, muito menos atitudes, e provavelmente não estarei presente, resistindo impune ao castigo das falsas e mentirosas interpretações.
Penso que somos demasiado adultos para este tipo de brincadeiras, quase sempre finalizadas em tremendos malefícios conjuntos, que nada devem ao amor, tão querido, respeitado e que quotidianamente deve ser alimentado.
Sei agora que a vida nunca deveria ter sido assim, mas como tal se desenhou, implantou e se nos impôs, sem apelo nem agravo, adornada por mágicas noites e dias de amor, sexo e partilha, nada poderíamos ter recusado.
Confesso que ainda retenho na minha memória a libido sublime enquanto a luz da paixão existia, de noite ou de dia, numa chegada ou partida, sempre comemoradas numa mistura de vida amorosa promissora sem prazo de validade.
 Sem dúvida que tivemos longas e inesquecíveis viagens de amantes. Negar seria fraco, baixo e cobarde, o que nunca fui nem serei.
Mas, como na vida duma vela, a chama se finou, gradualmente até cair na penumbra quase escuridão absoluta da do pavio a entrar na cera e nela se afogar irremediavelmente.
Gosto de ti, mas se calhar não te amo, não nos amamos, porque falta o resto para atingir o amor que não me surge senão como mais que uma mentira, agora desmascarada, fria, crua, feita nada, criada não sei por quem nem interessa agora que estamos no momento de recolher armas.
Oxalá fossem flores aos montes como no dia em que nos conhecemos.


Carta n.º 32
Registos de Viagem

Paris-Dezembro de 2010

Carta I

[Nudo con le calze rosse ]


O telefone toca. Do outro lado da linha a recepcionista dá os bons dias e transmite-me uma informação pedida. O dia amanheceu há 2 horas.  Visto o casaco de penas e vou para a varanda.A torre do sino da igreja de Saint-Germain-des-Prés desponta no horizonte. A cidade já fervilha. A gama de cinzentos quentes complementam os brancos luminosos da paisagem. Inspiro profundamente. O ar frio de Dezembro enregela-me a face e os olhos lacrimejam.
Revejo esquematicamente todo o plano do dia. Olho para o relógio. De um pulo estou na rua de mochila às costas e máquina fotográfica pendurada ao pescoço. Abocanho o último pedaço de croissant do pequeno almoço. De cabeça levantada vou admirando as fachadas dos prédios. Tenho uns 7 minutos a pé até chegar à Gare Saint-Lazare. Dela, conhece-se uma série de quadros pintados por Claude Monet. Em associação livre (talvez pela  semelhança fonética ou do tema) relembro Le chemin de fer de Edouard Manet.Espero ter tempo para rever o seu Olympia no Museu D'Orsay.
Com a câmara foco  pormenores de uma varanda. As cortinas estão semi-abertas. Tiro várias fotografias. A luz de um candeeiro pressente-se por detrás delas. Difusa. Move-se uma silhueta. Lânguidamente. Sinto-me como se fosse um voyeur. Em segundos aparece à janela um homem. Jovem. Um verdadeiro Adónis. Fica a olhar para mim e esboça um sorriso. De braços abertos com as mãos nas cortinas. Nu. Com meias vermelhas até aos joelhos. Largo a máquina. O meu queixo sinto-o  a descair. Ainda ouvi uma gargalhada do outro lado, enquanto as cortinas se cerravam. Recomponho-me e prossigo. Aquele incidente fez-me apressar o passo.
Avisto o edifício da Gare Saint-Lazare. De repente lembro-me da similitude da imagem da varanda com uma outra:- Nudo con le calze rosse de Giuseppe de Nittis.
Ele diria certamente: - «Paris la ciutat del amore!»
Eu, fico a espevitar memórias bem latinas para recuperar a minha fé.


Carta n.º 33

Meu amor

Não sei há quanto tempo... Não sei que nome tomas... Desejar-te que estejas bem, é desnecessário. Não sei quando te encontrará esta missiva. Tão pouco saberia dizer há quantas reencarnações não nos encontrámos...
Naquele fim de tarde, em Angola, o tempo perfilou-se num arroubo que não soubemos gerir, as nuvens carregaram-se de energia negativa e nenhuma protecção divina surgiu para nos defender da descarga que nos feriu de morte. O prado negro da noite fez-se mais negro com os nossos corpos carbonizados que nenhum ser humano chegou a descobrir para sepultar. A Mãe Natureza se encarregou de nos receber no seu regaço.
A luz do sol nascido no dia da nossa reencarnação afastou-nos e deduzo que não te recordes de mim. No alto da montanha onde fui recolocada e ainda vivo, espero a alvorada e peço ao sol que se levanta na planície verde um sinal que me diga para onde foi levada a tua alma.
Sabes, nem sempre me lembrei de ti. Só uma ajuda especializada me permitiu entender os meus sonhos, o rosto que nele me aparecia, os teus olhos negros. Agora sei-te na minha alma, mas quero-te na minha vida vazia de amor.
Não sei de um endereço para onde envie esta carta. Vou lançá-la no rio. Assim como ele carrega os enormes troncos que saem da minha montanha até ao seu destino, quem sabe as suas águas se tornem minhas aliadas e meu carteiro...
Esperar-te-ei até aos confins do tempo. Nesta ou em outra vida, sei-te, quero-te.
Até sempre - seja lá o que signifique a palavra sempre.
Tua


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« Responder #290 em: Março 19, 2011, 11:22:11 »

Carta n.º 34
13 Setembro de 1974

Sardanisca,emoldurei este momento (tu sabias) para ti

Estou na varanda a escrever-te.Ainda em robe. Um sumo de tomate (acabado de fazer) a meu lado.O oceano quase transparente no horizonte. Num espelhamento mútuo de azuis.Entre céu e mar. A brancura imensa de areais sem fim é tingida de vida animal. Em sinfonias edénicas. A presença subtil de uma brisa amena, coroa este quadro.

"Acordo com o cheiro intenso a maresia. Antes de abrir os olhos saboreio o momento. Neste naco de mar e areais. Tento identificar cada som. Um a um incorporo a sua identidade. Imagens de infância surgem.Cadenciadas. Alegres. A competir na memória. As batidas do meu coração. Fortes. Vigorosas. (ainda) amalgamadas com as dos tambores de Ãfrica. Dividem-me. Reagem às constelações do meu destino. Aqui, a humidade da noite sente-se.No roçar dos lençóis. No sabor salgado depositado nos lábios. Emoções novas rompem das antigas.Como num ciclo celular. A aurora saúda-me. Sinto-o. No latejar. Sobre as minhas pálpebras. De um pulo abro a janela. A luz sem pedir licença lava-me o peito. Os meus olhos ajustam-se à paisagem. A memória guardou-a assim. Tal e qual. A ilha ao largo. O forte recortado pelo azul do horizonte. Os mesmos cheiros. A mesma paleta de cores. Das arribas planam as águias imponentes.Casinhas caiadas aninham-se no monte.Presas entre céus e terra. Dentro de mim desperta um broto de esperança, neste novo dia."
Sardanisca, prometo dar-te conta da minha presença. Mas como já dizia o T. de Pascoaes « todos nós somos mais feitos de ausência do que presença».Com esta carta vai também um cheirinho de urze e flor de medronheiro.Uma braçada de conchas e brincos de rainha.
beijos, beijos, beijos,

Samouco

P.S. Desculpa o rasurado. Dei-me conta que o ti Manel vai agorinha à vila. Aos sábados os correios fecham ao meio dia.Assim ainda lês esta carta lá para terça ou quarta-feira. Ele está a despachar-me e a mandar-te muitas saudades - Saudades pr'a menina



Carta n.º 35


  Caro Senhor

    Como humilde servo  de V. Exa, hesitei bastante antes de lhe
escrever esta carta. Apesar dos meus votos terem sido da
responsabilidade de interpostas pessoas e terem sido formulados quando
a minha idade se contava por meses, a comunidade em que me insiro,
impõe-me determinadas obrigações e a principal consiste em
respeita-lo. Por outro lado, tem V. Exa, pelo altíssimo cargo que
ocupa, também deveres e obrigações para com os seus súbditos.


 Apelidam-no de bondoso, misericordioso, compassivo etc. Porém, V. Exa
desde que foi investido nesse alto cargo, nunca fez jus a esses
epítetos, antes pelo contrário. Senão vejamos:
Intitula-se V. Exa de Criador supremo, mas se assim é, porque
desrespeita a vida e a dignidade, permitindo toda a espécie de chagas
sociais, a fome, doenças maléficas, pedófilos, violadores, assassinos,
ladrões, corruptos etc?  Este rol de infelicidade e desgraça que
atravessa transversalmente toda a humanidade é da sua inteira
responsabilidade, pois assim, o permite. Direi mais: é compatível com
sadismo, desleixo, incúria e incompetência.
    Alguns dos vossos servidores mais fiéis, cegos  propagandistas
profissionais do branqueamento do vosso comportamento, tecem loas ao
sofrimento, à penitência e ao perdão aos nossos inimigos! Neste
contexto, quem  há-de perdoar a V. Exa ter esquecido o Amor e com ele
a Terra prometida?

     Ciente da inevitabilidade da punição com que costuma castigar
quem o desafia,  tem a presente, a finalidade de informar V. Exa que a
partir de hoje deixarei de confiar em si, aconselhando-o, vivamente a
rever com urgência o seu comportamento.

 Atentamente

Carta n.º 36


Empresa na hora
Como empresário, em nome individual, informo que me vou lançar no negócio de mútuos afetos. Após estudo no mercado circundante, acho que reúnes o perfil exigido para a função. Quem sabe se até  Ã  procriação e multiplicação da espécie.

Quando te vi, sofri forte impacte ambiental no meu coração. Foi como um terramoto! Deve ter atingido o nível 6 da escala de Richter, aumentando sempre que te via.
Quando te que encontrei pensei que serias "aquela máquina" para a produção de mútuos afetos! Caso queiras alinhar nesta  joint-venture, para evitar mais danos sísmicos sentimentais, e com o objetivo da produção de mútuos afetos, cuja produção poderá ter cotação em bolsa, com mútuos dividendos, solicito que compareças na minha empresa "Empresa de Pesquisas Amorosas", o mais depressa possível, em hora a combinar.

As condições oferecidas são as melhores do mercado; tratamento personalizado, vinte quatro horas por dia, com seguro de vida e reboque em caso de avaria na "máquina dos afetos",  com revisão nas oficinas da marca.
Oferta de cartão de crédito,  durante a época balnear, para pagamento de almoços e jantares, idas ao cinema, teatro, compra de biquinis, assim como para sandálias e sombras das palhotas nas praias ou camas de rede, com "escravos" a abanar o leque para refrescar o ar! As massagens são por minha conta!
No Inverno, usufruirás do meu leito, com aquecimento central e com assistência sexual garantida, com um mínimo duma dúzia de beijos diários, sortidos e passeantes por variadas partes do teu corpo!
As relações sexuais, serão seguras, com uso do novo preservativo
"DeSida-se com control", nome de minha autoria, vendido à marca, de que beneficio, com uma boa margem nas  vendas, que me permite vida controlada!
Caso decidamos pela prociação, para a mesma ser  cem por cento segura, a fertilização será feita in-vitro ou por  fecundação assistida. Logo se vê.
De vez em quando, para imitar o Homem pré-histórico, arrastar-te-ei pelos cabelos, até ao quarto e não tomarei banho durante um mês, não cortarei  barba nem cabelo durante um ano nem utilizarei talheres nem guarda-napos à mesa. Será tudo à unha!

Na questão religiosa, como liberal que sou,  e como dizem que Deus só há um, dividimos a meio. Tu ficas com a parte dos milagres, eu com o recebimento das oferendas!
Se ficares, providenciarei cursos grátis de formação sexual, inserido no programa governamental "Novas Oportunidades", para que possas dominar as técnicas de desempenho sexual, embora não pretenda que domines o Kamasutra, pois até eu só ainda conheço 68 posições!
Se reunires as condições, (estou convencido que sim) com mútuas vantagens em perspectiva, terás estabilidade amorosa de longa duração, das maiores do mercado, sem casamento religioso nem civil, apenas união de facto. Durará até acabar!
Todavia, minha intenção é que dure toda a vida, desde que estejas disposta a não cobrares horas extraordinárias e pronta para todo o serviço, sem me apresentares recibos verdes de serviços prestados, senão ficarei amarelo!
Terás liberdade na tua criatividade. Eu, pela minha parte, no meu amor por ti porei toda a ciência e arte. Depende de ti quereres ser encaixilhada e em exposição no meu coração.
Contacta-me. Preciso que repares os estragos em  mim causados! Acho que precisas de toda a vida! Assina este, que te quer para sócio. A empresa será na hora!

O Gerente

Carta n.º 37


Querido Diário


Há quanto tempo eu não te visito?
- Sinceramente não sei, como também não sei precisar quando foi a última vez que te peguei para recordar um pouco os meus desabafos e os meus segredos, que em ti depositei.
Devo dizr-te que não te esqueci e sei muito bem o quanto me queres, sobretudo quando carregas com os meus pensamentos e os meus sentimentos, que em ti guardo como preciosos tesouros.
Apesar de seres uma coisa inanimada, tens um conteúdo duma vida cheia de prosas e poesia, de amores e desamores, de risos e de lágrimas, de momentos afortunados e de infortúnio, de saúde e doença, de felicidade e infelicidade, que procuro transmitir-te para que guardes, como coisa    muito nossa.
Já tenho pensado em pegar-te para recordar-me, mas acabo por adiar o momento e pensar que ficará para mais tarde, e, assim vai passando o tempo.........
- Olha, agora até me apetecia ler-te, mas prefiro escrever-te e adiar mais uma vez o momento.
Se pudesses ouvir-me, como eu gostaria de falar contigo! Para mim seria mais fácil, pois muitas vezes não te registo nada por que, não posso, ou estou cansada, ou porque sim ou porque não.
Mesmo assim és das coisas mais importantes que estão juntas com a minha intimidade, com o meu eu e parte da minha vida está contigo, pois és o fiel depositário dos meus pensamentos, o meu confessionário privativo e o índice do que me vai na alma.
Meu querido, de momento, representas para mim o amor que gostaria de ter e não possuo, com quem reparto os meus gostos e desgostos, a minha solidão e fazendo de ti uma imaginária companhia com quem falo, escrevendo, ou escrevendo com lágrimas, dasabafando-me.
Quantas vezes sonho acordada, faço castelos encantados no ar, mas de seguida assisto ao ruir das torres, onde eles se despedaçam, vendo os fantasmas escapulir-se com gargalhadas demoníacas, chamando-me à realidade de que o sonho é fácil, mas a concretização é difícil. Nestes momentos, se estás por perto, vais carregar com mais uns desabafos e ficar com mais um registo de mim. Outras vezes, se os meus sonhos acabam por ser reais e me manifesto com júbilo e força anímica, também tomas parte da alegria, porque te levo também o registo para que o guardes como só tu sabes e és capaz.
Mais teria para te falar, mas não sei se o faça.
Vais receber esta carta, para que a guardes como tens guadado ao longo dos tempos tudo quanto  te tenho confiado, para que saibas o quanto te quero, que não estás esquecido e que és realmente parte de mim. Se assim não fosse, estaria aqui a gastar prosa sem nexo, o que não é verdade.
Por outro lado, ficas a saber que pessoas saberão que existes e és o meu arco iris a quem me dedico e confio plenamente. Tens o céu azul da minha humildade, o verde da minha esperança, o amarelo da minha luz, o vermelho das minhas emoções, o lilás das minhas indecisões e o preto dos meus lutos e das minhas raivas.
Como vês, és o meu guia e conselheiro, quando te releio e procuro contornar e equilibrar os meus problemas, ou vivamente viver o que mais me agrada. És o meu cofre secreto que esconde o que de melhor e de pior existiu, existe e existirá dentro de mim. Por tudo isto, ficas a perceber a razão por que existes e pela qual te quero muito.
Vou terminar por agora, com um até sempre, meu dedicado companheiro.
Nunca te abandonarei, porque fazes parte de mim.

C.F.



Carta n.º 38


Minha amiga:

            Hoje tive um dia muito intenso! Acredita que apesar do meu cansaço, posso considerar-me realizada por tudo o que consegui fazer. Levantei-me de manhã bem cedo e fui ao super-mercado fazer algumas compras para aquela família que vive na casa de que te falei, se é que se pode chamar casa àquele aglomerado de chapa e plástico!

            O caminho para lá é de fraco acesso, e tem que ser feito a pé, ao lado esquerdo do apeadeiro do comboio. Desce-se cerca de 1 km por um trilho coberto de pedras e silvas, e quando se chega a meio, dá vontade de deixar rebolar os sacos  e voltar para trás! Mas..., lá em baixo vivem crianças de grandes olhos azuis, para quem um sorriso, ou 1 brinquedo mesmo de pouco valor, contam muito! Nâo posso deixar de ver esses olhos brilhar de expectativa, ao abrir um pequeno presente, enfeitado com um grande laçarote.

            Sabes, o povo não gosta que se lhes fale de fome! “É a crise†dizem, como se dessa forma descarregassem a sua consciência, descartando-se assim de uma realidade que é de todos. As pessoas não têm tempo, nem vontade, nem disposição para ouvir falar da miséria dos outros, e acham que cada qual deve viver com a sua. Como se isso resolvesse o problema! Mas, voltando à casa de lata, mais conhecida pelo “barraco da Inêsâ€, devo dizer-te que ficarias surpreendidíssima pelo asseio e pela ordem que ali reina! Há um grande contraste entre o exterior e o interior! Realmente dá gosto observar os poucos móveis já fora de moda, e que foram oferta de alguma alma caridosa, a brilhar como um espelho, de fazer inveja a muita senhora “queque†que se passeia por aí! O problema é que o barraco não é à prova de água, e quando a chuva é mais intensa, lá anda a pobre da Inês a colar pedaços de chiclete para impedir que se molhe tudo lá dentro.

            No regresso a casa encontrei a Dª Guilhermina. Imagina que está cada vez pior, a idade vai pesando e a coluna vai-se degradando cada vez mais. Mesmo assim, com a sua habitual simpatia disse-me que estava muito contente, pois apesar de tudo, o seu neto lá conseguira o tal emprego na Câmara como varredor. Não era própriamente aquilo que desejava, mas nos tempos que correm é melhor aproveitar o que aparece! Quantos há, com uma licenciatura, a dembular pelas ruas gastando o dinheiro aos pobres dos pais, que se vêm aflitos para gerir o orçamento, que cada vez dá para menos!

            Na última carta perguntaste-me se era feliz, lembras-te? Não é fácil responder a essa pergunta! O dicionário define felicidade como: ventura, bem-estar, contentamento, qualidade ou estado de quem é feliz, bom êxito. Achas que nos tempos actuais alguém pode responder afirmativamente a tudo isto? Mas, realmente ser feliz não pode, nem deve depender dos outros, mas sim de nós mesmos. A vida é feita de momentos bons e menos bons e, nós temos o direito de decidir por aqueles que nos dão mais ânimo e alegria. Eu posso dizer-te que sou feliz quando chego a casa e o meu filho pegando-me ao colo, diz que sou a melhor mãe do mundo; ou quando vou lanchar com as minhas amigas e falamos, falamos até já não haver nada mais para dizer! Sou feliz por ter ainda a minha mãe com saúde, e uma família que se preocupa comigo; sou feliz por ter dias como os de hoje que me ajudam a estar ocupada e sentir que sou útil! Minha amiga, sou feliz sempre que valorizo as pequenas coisas!

Carta n.º 39

Já não existo
De cá da saudade que me liberta as linhas, tenho feito pouco que mereça apontamento. O pouco, entretanto, é o máximo que extraio da vida. Como um navio que sonha a lonjura do mar - a melhor diferença é uma vaga, uma distinção distraída de rumar à realidade de haver sentido.
Não há desolação na minha ausência de novidades, antes uma paz classificada com flores – sabes? As que admiro cuidar todos os dias, entre elas a que me deste - sim, a verdade me escapa do pensamento enquanto nele a fronteira sem ti se agiganta - como esse olhar de embarcação que circunda os meus dias, o mais, nunca o menos.
Quando penso que essencialmente posso errar ao pensar consolo-me na alegria de purificar o que não erro. Talvez seja um erro escrever-te depois de tudo, mas certamente fará, ao menos para mim, o maior sentido fazê-lo. Ditas, as verdades não se negam e tremulam perfeitas, totais.
Uma liberdade dá início a este momento, único por pertencer ao meu universo que será o de todos. As estrelas se aproximam para que não me engane. O brilho esfuziante que apanho me faz integrar um céu secundário, chamado olhar, ou amor, uma raiz repleta de terra morna, soçobrada no calor sóbrio desse gesto.
Que seria para mim o que presencio se te o não contasse? Tu, entre as leituras de aparecimentos que desconheço e não ignoro.
Dessa inevitável exteriorização o furor do frio em breve se aproximará – virtude da mesma e sublime felicidade de dar asas a minha vida, para alcançar-te sem queixas.
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« Responder #291 em: Março 19, 2011, 11:25:59 »

Carta n.º 40


Exmº Senhor Ministro
Peço-lhe a fineza de reparar no respeitoso tratamento que lhe concedo.
Apesar de não o conhecer pessoalmente, curvo-me, reverencialmente, ante as excelsas qualidades de governante, que povoam seu ADN, ao serviço do seu Povo; os Portugueses.
V. Excª, não imagina a alta consideração que tenho pela sua abenegação em servir, amar seu Povo e até  por ele sofrer!
Oh! Como V. Exciª deve sofrer! Basta ver suas olheiras!
Sem dormir, noites inteiras!

Detesto que o queiram tirar do seu lugar! Não.
Compreendo que não queira que outros sofram seu mal, tão evidente!
Agarre-se. Deixe-se estar. Por favor, não caia da cadeira. Verifique as ilhargas.
O senhor é o timoneiro certo no deserto. Sem V. Excª seria mais difícil levar os camelos aos oásis de felicidade!
Sem sua visão de capitão, conhecedor da boa rota, não há boa navegação nem salvação da frota!

Se milhões de governados não compreendem seu sacrificio na governação, sempre a Bem da Nação, eu, aqui, presto-lhe preito por tão grande feito! Bem feito! Eles caem em contradição, pois o Povo diz que:
-"Quem desdenha quer comprar".
Por isso, o que querem dizer é:-"Deixe-se estar. Deixe-se estar"
Se acham que o país está mal, o mal não reside em V. Excª, mas sim em quem pensa que tal vê.
Aliás, o senhor veste tão bem!
Calça tão...tão bém!
Cheira tão... bem  e é tão sexy!
Mas, V. Excª, por amor ao Povo, nem mulher tem!
Até faz jogging!
Aliás, penso que para Bem da Nação faz qualquer swing!

Se eu acreditasse na reencarnação, acreditaria que  noutras vidas V. Excª teria sido Chanceler dum Rei qualquer. A vontade e abenegação em servir, leva-me a supor que seu desejo de servir, servir a falar verdade ou a mentir que seja, é sempre pelo maior bem que a seu Povo deseja!
O Povo sempre em primeiro lugar. Pois claro.

Por falar em povo, povo rasteiro, como eu,  sem trabalho, sem dinheiro, é que lhe quero agradecer o facto de me ter proporcionado a liberdade de ter um roteiro de andar de vila em vila, de cidade em cidade, fazendo isto, fazendo aquilo, felizmente, precarariamente, mas a maior parte do tempo a fazer turismo em liberdade. Enfim, flexibilidade e felicidade total!
Aliás, V.Excª anda por aí em inauguraçôes, mas cercado de seguranças!
Cuidado. V. Excª é um diamante... de bons quilates!
Quando  em si penso, vejo-o como promotor dum grande arraial popular em Portugal, cheio de carroceis e cestas voadores, onde os empregos giram, giram, voam, voam. Enfim, tudo a girar e a voar!
Gira o emprego, voa o dinheiro, voa a casa, voam os amigos!
Uh, uh, ah, ah, ih, ih! É uma alegria!

Mas, se o mundo gira à sua volta, não saia V. Exª do seu lugar. Deixe-se estar, porque é preciso sempre alguém para estipular o preço da cada corrida, arranjar quem cobre os bilhetes, com  métodos simplex, saídos da sua excelsa inteligência.

Graças a si, que vê fundo, Portugal redescobriu a sua ancestral vocação de navegadores! Os Portugueses, agora, como doutores,  redescobrem novos mundos. Já não vão de Caravelas nem com malas de cartão, mas sim, como Vascos da Gama gamar vão nos mares da ciência, com ventos de feição!
A quem agradecer? Claro que a si, que faz 1500 doutores por ano, a todo o pano, para atravessar o Adamastor do desemprego sendo doutor!
Em Portugal fica você a mandar. Deixe-se estar. Deixe-estar. A inveja é que os faz falar! Apareça no arraial popular, para girar, para voar! Se for preciso, o povo dá-lhe um pontapé no cú, para arrancar!

Atenciosamente
Zé Povo

Carta n.º 41

Olá, jovens, isto é para vocês!

 

Eu sou aquilo a que vocês, hoje, chamam de “cotaâ€, apesar de assim não me sentir. Um dia, vocês também o serão e, tal como eu, faço votos para que assim rejeitem sentirem-se até que a vossa vida termine de facto. Será sinal de que, mesmo com muita idade e naturalmente gastos pelo uso da vida, se sentem vivos e, pelo menos mentalmente, activos. A vida não está só na capacidade de saltar, correr e mostrar força. A vida está, em especial, no que sabemos fazer de bom com ela. Logo aí, deita por terra o problema da nossa idade. Por isso, sinto-me muito jovem, apesar dos meus quase 59 anos de idade.

Nisto, que é a minha idade, já cheia de um pouco de tudo, sinto uma enorme vantagem em relação a todos vós, os mais novos. Aqueles que começam, agora, a verdadeira luta da vida; a autonomia legítima; o direito de decidir; e, também, a necessária responsabilidade.

Sois o fruto possível de toda uma enorme confusão em que todos estamos mergulhados. Tudo isso fruto de atrasos sociais de toda a ordem e com responsabilidade de todos. É que, ainda não soubemos gerir bem as capacidades intelectuais de que dispomos. Por isso tantas guerras; atropelos; ganâncias; desigualdades; e evolução tão pouco evoluída. Que fazer? Não sei… Sou apologista de que nada somos sem um bom ideal, mas que tudo estragamos quando queremos que outros comunguem do mesmo… Que vos dizer?! É muito difícil encontrar as soluções para estes nossos males, sem sermos tentados a querer incutir o nosso “bom†ideal nos outros, que queremos ajudar. Sinto ser um dever de todos, os que, por natureza, já vão mais além, cheios de experiências úteis e lições de vida, para saber transmitir a quem ainda agora começou. Vou tentar!

Afinal, o que, a meu ver, está mal é toda uma conduta de cada um de nós. Temos de respeitar valores já comprovados e consagrados ao longo da evolução da humanidade. Esses valores assentam no respeito; na vontade; na honra; no contributo; na responsabilidade; na generosidade; na amizade; na colaboração; na solidariedade; na partilha; na compreensão; no amar; e na alegria de viver. Tudo perfeitamente possível, desde que bem entendido.

É nesse entendimento que todos temos falhado, de geração em geração. Faltou-nos essa visão, de saber segurar e transmitir continuadamente esse alicerce necessário ao nosso equilíbrio social. Como temos capacidade de raciocinar, muita imaginação, apetências naturais e diversificadas, precisamos de regras para nos entendermos, falhámos nisso. É essa a única razão porque estamos hoje nesta aflição e neste impasse de incertezas quanto ao futuro.

É urgente introduzir na formação colectiva, a formação pessoal; cívica; humana; acima de todas as outras formações técnicas, que não passam, afinal, das ferramentas de trabalho que nos fazem falta para a nossa construção de vida.

Tomai, pois, consciência disso e insistam nessa solução escolar para que, pelo menos, os vossos filhos dela possam começar a beneficiar.

Esqueçam rancores; ódios; invejas; e vinganças. Gandhi, com toda a razão, dizia: “Olho por olho… e acabaremos cegos!â€

Carta n.º 42

Meus senhores,

Não tenho o dom da eloquência nem pretendo que me assistam de olhos voltados. Apenas gostaria que me dessem atenção. A minha gramática é parca, mas tenho a certeza que me perceberão.
Vós que carregais nos ombros o fardo ingrato de serem presidentes de grandes empresas, tendes também o fardo de terem nos ombros, o peso das mortes e o flagelo da miséria humana.
Como simples trabalhador, apenas sei manejar a enxada e colher as frutas e os legumes. Não sei manusear frases e nunca falei perante um auditório de gente importante.
Vós sóis ricos numa sociedade que preza o rico. Eu somente sou o pobre que trabalha na terra. Não tenho intenção dela sair, pois sei que ali é o meu posto.
Também não tenho o direito de vos tirar nada do que possuem. O que tenho chega para me manter vivo e atento.
Pediram-me em nomes dos outros trabalhadores que fizesse um discurso. Mas eu não sei fazer discursos, só falo o que me entende a mente.
Depois de falar sobre as nossas diferenças, só tenho algo a acrescentar:
Vós senhores poderosos podem ser ricos. Podem ter grandes mansões e até fábricas de munições. Terão por certo os filhos e netos a estudarem em grandes colégios. Mas de uma coisa tenho a certeza. A vossa riqueza não se compara à minha pobreza. Porque eu tenho a terra e as mãos. Tenho o pão que amasso e os sonhos que são só meus. E por isso sou mais ricos que vós.
Perdoai-me senhores as minhas palavras, mas creiam que entre nós, a minha riqueza é muito maior que a vossa.


Carta n.º 43


DEPOIS DE TI

O meu ser sobrevive, ainda que sequioso do teu amor.
Não se rasgam nestes lábios mais sorrisos.
Estes olhos desconhecem o encantamento de outrora,
graciosos cristais que reluziam, transformaram-se em nascentes lacrimosas.
Um rosto desbotado combina na perfeição com as vestes enxovalhadas.
Arrastado pela corrente inquinada da infidelidade,
sou hoje, um barco destroçado, ancorado na praia da desilusão.
Nas areias revoltas, fiz dos restos do nosso afecto,
uma colcha esmaecida p`ra me abrigar.
Do teu silêncio fiz um ameno rumor,
e deste infindável vazio, o meu espaço chamado solidão.
Neste refugio que me adoptou sem nada clamar,
os segundos perderam a identidade. São agora longos minutos,
e estes parecem gémeos das horas vãs que desenham a eternidade. 
O tempo entrelaça-se na mágoa, mas ainda assim, perfuma a lembrança.
A convicção de que é bom deixar saudade,
converte-se na fragrância maior em que me aninho.
Aqui e agora, prevalece a certeza de estar sem ti.
Um dia e além, quem sabe…serás tu sem mim.

(Do teu ...)


Carta n.º 44


BASTOU UM OLHAR

Meu amor,

Aqui no velho jardim da saudade à beira mar plantado, recordo aquele nosso momento em que apenas bastou um olhar.
O Verão corria agitado querendo despedir-se de Julho. E foi ali mesmo, na minha Cidade, naquele mesmo bairro, naquela mesma rua, naquele bar de sempre, em mais uma noite…mas diferente de tantas outras. Uma noite em que bastou um olhar!
Os bancos altos e coloridos repetiam-se em perfeita harmonia com os tons do balcão. A luz trémula reflectia-se nos copos. Mais uma bebida, mais um amendoim, em mais uma noite…mas diferente de tantas outras. Uma noite em que bastou um olhar! Esse olhar teimoso, persistente e confiante, mas também doce, meigo e cativante, era convite ao diálogo, à conversa, à descoberta. Um simples olá, um suave toque, um beijo escondido e meio apressado em mais uma noite…mas diferente de tantas outras. Uma noite em que bastou um olhar!
Uma noite que findou, um dia que acordou, um telefone que tocou, um encontro que voltou, um amor que continuou a lembrar uma noite.
Uma noite em que bastou um olhar!
E em que tudo começou!

Beijos com sabor a saudade.
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« Responder #292 em: Março 19, 2011, 11:28:33 »

Carta n.º 45

Querido Passado,
Faz algum tempo que ando para te escrever sobre o sentido que tens na vida.
Graças a ti estou justamente aqui, a escrever, no Presente, para depois de redigido, deixar de o ser.
Sim, graças a ti, vivo o Presente de presente...
O Presente, que amanhã já será passado.
Os dias que me despertam, depressa voam para os teus braços.

És como um mealheiro onde vou acumulando todas as minhas experiências, das quais umas estão mais vivas na memória, outras, nem por isso.

A vida é uma caminhada árdua. Principalmente para quem caminha só e sem apoio. Mas não deixa de ser bonita...e gratificante. Cedo tive de aprender a apoiar-me numa bengala. A bengala da Esperança. É apoiado na Esperança que alcanço um pouco mais de mim. Um pouco mais de céu, um pouco mais de terra, um pouco mais de amor. Valem-me também os sonhos para elevarem o peso nos ombros. O saco torna-se pesado quando tenho de escalar íngremes montanhas. Esse saco que trago na mente, carregado de pensamentos preconceituosos, desnecessários que só atrapalham o caminhar.
Mas é saber que tenho o brilho do sol resplandecente atrás da montanha que me faz mover.

Hoje, ao rebobinar (te), percebo que os momentos de dificuldade poderiam ter sido mais suaves ou até mesmo ter evitado o sofrimento, se em vez de dar atenção aos mesquinhos e medíocres pensamentos brotados na minha mente, tivesse abraçado a tolerância e vivido a alegria de estar vivo. É, às vezes, o homem esquece-se de viver o Presente que lhe é oferecido, mergulhado no complexo labirinto mental.

Os medos, as emoções, as paixões, as frustrações...
As lágrimas vertidas, as dores sentidas, os dissabores vividos, o silêncio que ainda hoje trago comigo, os entraves que se me colocaram, os obstáculos ultrapassados...são factores que fizeram o homem que sou. E que me orgulho de ser! Estou grato pelos momentos que partilhei contigo.

Com o decorrer dos anos, como um fruto numa árvore, vou amadurecendo, batalhando para desprender de preconceitos, libertar-me da prisão mental a que estou sujeito, causadora das dores emocionais, dos sofrimentos, vividos.
A função do homem é auto-disciplinar-se, construir-se. É descobrir-se a si mesmo, de modo a corrigir as mazelas para que alcance um estado de tranquilidade mental. Eu tenho essa percepção.

O tempo é o elo que nos une. O mesmo tempo que me ensina a aceitar-te.
O tempo é meu amigo, tem-me preenchido a vida de experiências pedagógicas que me ajuda a compreender a complexidade humana.
Hoje, mais tolerante, em vez de julgar o pensamento alheio, respeito-o e concentro-me em aperfeiçoar o meu ser.
Eu sei que há quem há mais tempo continue a criticar outrem. Mas eu não me posso permitir desperdiçar (o meu) tempo a cometer o mesmo erro.
Dizes tu: lá está ele com os seus ideais filosóficos. Bem, acabo de cometer o mesmo erro, julgando que é isso que estás a pensar. E pensei isso porque era o que queria que pensasses para poder responder dizendo que a vida é isso mesmo, Filosofia. Amor ao conhecimento. É isso que tento fazer, conhecer-me melhor.
Sabes, há um erro que cometerei sempre. Amar. Mesmo não sendo correspondido. É o amor que me alimenta a vida. Enquanto houver esperança, há vida. E enquanto eu viver, terás trabalho.
Portanto, peço-te que sejas tolerante e me aceites como sou, assim como eu tive que aprender a aceitar-te.

Um abraço do teu amo...rrrrr em mim

Até já!


Carta n.º 46

27 de Fevereiro de 1978

Meu querido,

Mais uma vez te encontro através desta forma sempre fiel e imortalizada de comunicar, num papel em branco onde delineio espaçadamente todos os meus pensamentos, sentimentos e sentidos que só contigo têm rumo.
Já não vens há dois meses, mas o frio gelado cá do Norte continua a fazer-se sentir por entre as brechas da janela, a lareira ainda aviva uma chama ténue de um pedaço chamuscado que restou do tronco que lenhaste pelo Natal. Tu sabes o quão gosto desta terra distante, quase à parte do mundo, pelo sossego que não somente aparenta, mas que se sente, no chilrear dos melros, no ecoar do vento nas montanhas, no bater de leve da neve nas janelas. O Norte, sempre foi o meu encanto e o meu canto de refúgio.
Dizem que não estou no Norte, mas eu sei que estou cá; porque me mentem? Hoje, também me falaram de um tal ano de 2011; meu Deus, que futuristas, quanto falta para lá chegar! Nesse tempo já serei velha, rodeada dos netos, quiçá bisnetos, seremos uma família feliz, ainda que, talvez, com alguns lapsos de memória, que a velhice se possa acompanhar! Tenho apenas 38 anos e sinto-me na vicissitude da vida… Tanto há para fazer, para viver, para ter, mas olho-me ao espelho e vejo outra pessoa; enrugada, triste, cabelos brancos, queixo proeminente pela falha dentária. Um horror! Acho que os espelhos desta casa não são espelhos, devem ser retratos de outros tempos fixados nas paredes. Um espelho reflecte, estes não reflectem absolutamente nada! E se reflectem são espelhos mentirosos. Acaso existem espelhos falseados? Pois teremos que trocar os desta casa, tu sabes o quão vaidosa sou!
Escrevo-te, pois só tu me compreendes, pois só a tua voz me pode confortar nesta penumbra tarde, que se tornou silenciosa e triste, num quarto isolado do mundo. A neve continua a bater na janela ao de leve, como que curiosa a saber como me sinto. Porque não tens aparecido ultimamente? Fazes-me falta! Sinto falta do teu amor, do teu abraço, do calor da tua pele, da doçura da tua voz, da ternura do teu toque que me mima sem temporalidade. Contigo o mundo não é estanque, o sorriso faz parte dos meus dias quando vens. A tua forma ímpar de estar no mundo faz-me desprender, sinto-me leve contigo e em ti! Sinto-me viva, sou Mulher! Sem ti, sou apenas um trapo, isolada do mundo e já não me sinto no Norte em frente à lareira aconchegada com a manta de veludo, que me deste pelo meu vigésimo nono aniversário. Sem ti, estou antes num lugar frio, triste, solitário que não é o Norte!
Porque não vens? Porque te demoras? Meu amor… Acaso os comprimidos que me deram te fizeram ir embora? Sem eles era mais feliz! Existia contigo… Vivia no Norte…
Porque te demoras? Porque me demoras? Estou tão cansada que me chamem LOUCA! Por favor, não te demores mais.

Sempre tua,

Carta n.º 47

13 de Março de 2011

Não vou começar esta carta com um olá, muito menos será uma carta dirigida, é apenas uma dissertação feita ao acaso na esperança desesperada que um dia alguém a leia, é apenas um rabisco solicitado por um momento inusitado entre uma sensação de exaustão puramente psíquica de quem está cansado de viver, é apenas uma tentativa, ainda que frustrada de chegar a ti, seja lá quem tu fores, mas é a ti que eu quero chegar, a ti ou a algo que neste mundo valha a pena, é apenas uma carta de busca de esperança ou a tentativa de manter a que resta, pois se esta se esvai, de que serve viver?
É portanto uma carta dirigida ao meu próprio ego e interesse, fazendo jus às denominações de egoísmo que ultimamente tenho sido sujeito. Resta saber se essas acusações são lícitas ou se revogam impreterivelmente as leis do egoísmo. Pois se sou egoísta ao tentar perceber o mundo, ao tentar fazer parte dele, ao tentar libertar-me de uma condição estúpida que me impuseram de ser mais um; então, deixem-me ser egoísta… Porque eu também tenho o direito de magoar, eu também tenho o direito de aniquilar, eu também tenho o direito de revogar sonhos, eu também tenho o direito de destruir essa palavra equivoca que se prenuncia irreflectidamente nos tempos de hoje, que não se vive, não se sente, não se toca verdadeiramente, essa palavra que se chama amor e todos vocês a destruíram em mim! Pois, agora, chamam-me egoísta… Porquê? Porque simplesmente passei a aniquilar essa palavra nos outros. Talvez tenha escolhido as pessoas erradas, talvez as minhas vítimas tenham sido as pessoas que mais admirei, talvez tenham sido as pessoas que mais se deram a mim, de forma gratuita, sem pedir nada em troca. Mas não era um Monstro que os outros queriam que eu fosse? Pois aqui o têm! Um egoísta que destrói as palavras amor, respeito, entrega e felicidade.
Além disto, penso que o que há de mais importante a destruir é a Vida! Assim, seria um Monstro com todas as qualidades possíveis e solicitas de imaginação. Mas, Vida, eu não posso/consigo tirar a ninguém, se não a mim próprio! Como tal, e como pouco resta a levar daqui, a não ser um poço sem fundo, onde a queda é dissimulada e lenta, asfixia cada vez mais, à medida que a profundidade aumenta, resta-me destruir o que me falta: A Vida! Não a dos outros; a minha!
O cansaço abateu-se sobre a minha tentativa frustrada de egocentrismo puro e não consigo mais viver com o peso de ser o Monstro! Assim, num acto voluntário e firme de quem se cansou da vida ou de quem a vida se cansou, só há uma palavra que me resta: ADEUS!

Carta n.º 48

Do sal à água  ...em multidão
De quais orientações me despem os oceanos para se espelharem no espaço em que adormecem e se acumulam as ausências dos meus inícios?
 Ali, onde o óleo perfumado é leito e as armaduras se distribuem em vôos de fantasias reais, se despedem os meios-tons do silêncio de haver mais por regredir, (cá do meu canto sem encanto finjo não chorar cada momento amigo da distância).
Amparo-me em âmagos-motes, povoando um único instante: ser mar e areia confluindo entre margens de oásis. Quando então intuiria que tudo se dota das mais estranhas singularidades?  Seria meu ...ou eu esse mar, essa sereia, onde recolhida em saudade, peso  menos  que o opaco horizonte que me deseja enxergar. O que serei dessa fração não minha, crispada de ventres, sabor e calma?
A cada final de aurora em que recolho o que gostaria de nutrir por muito mais tempo. Num ínterim que escapa de um céu iridescente escorrego nalguma rua imaginária, salpicando sinais aos imprevistos que me impulsionam para fora de mim (o algoz tão próximo) as muralhas adornadas de pombas, a coragem flutuante nos ramos de acácia.
Lago do papel que não me ilustra, afago o ocre dos papiros impressos nas orgias outonais, nas cumeeiras das casas à minha frente, dançando em colunas rotas de ternura.
As ilhas de sal que ficaram ao longe me perpassam o corpo com aparições de vidro. A doçura, nívea, se torna compulsiva e me dá uma possibilidade única de vislumbrar-me maior que a felicidade, pecadora ou angelical, quem me implorará sentires nunca experimentados? Dedilho vagarosamente no meu ser a feição mais cúmplice, o jeito que não descrevo.
Como um traço corrompido a lançar-se num abissal infinito, com véus de alguma estrela diversa da minha ousadia, opto,  sabendo que já opção não me resta, pelos mais salgados sais ... sem razão, perpetuo o desfiar dos relicários,  relatos pálidos de ostras, renascendo rapidamente em outra intrusão sem dia nem tempo por acabar... Se partirem-se os meus opostos, acoberto-me na própria engenharia do exercício que me constrói sem dar conta às renúncias por verter.
Obtusa, replanto lírios recolhidos de águas e salinas, muitas outras vezes, apenas para reconhecer o gosto de gostar-me.
Com a alma espiralada na praia, a magia do meu regresso se redobra, porque simplesmente não suponho conformar-me em nublados  resumos  de mim.
...como se não conhecesse o pranto  ...o sol insufla-me a carícia do calor em buquês de vinho enquanto o vento, em ziguezagues, me sublinha  a testa com mais uma de suas veredas.


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« Responder #293 em: Março 19, 2011, 11:29:48 »

Carta n.º 49

Caro amigo Emanuel
Escrevo-te esta, a pensar se ainda te quedas nesse pedestal dos iluminados ou, se antes pelo contrário, desces à terra e permutas de lugar com as gentes comuns. Não que eu precise de exemplos da tua humildade ou sobranceria concomitantes, apenas por amizade te quero alertar que: ou deixas de puxar os galões e nada fazer para demonstrares a tua essência imaculada ou este te etéreo amigo te explica e realiza de verdade o acto de ser mais que humano sem ser necessário botar figura por de cima de qualquer ara.
Assim sendo, e já que te contentas em propalar uma superioridade que fica sempre por demonstrar, aqui te digo de forma simples e sucinta: haverá sempre mais deuses que altares, porque é razão do homem ser tão pequenino, que de tão pequenino e invisível se faz de tal forma semelhante a um deus bojudo e vago, que só mesmo por tamanha compaixão e solidariedade entre iguais te alerto do perigo de seres destronado pelas mistificações que laboriosamente criastes ao longo dos séculos.
Amigo Emanuel, lembro-te ainda dos falsos brilhos que exalam dos cânticos dos templos, aí, tal como bem sabemos, solta-se a frustração dos homens e dos deuses, embrulhadas de forma vistosa pelo pastor recitante. Antes de sermos o que somos; tudo e nada, presentes e ausentes do tempo e do lugar, usámos essas técnicas de manipulação e branqueamento de mentiras evidentes.
Afinal somos iguais, seja no submundo do opróbrio e da miséria, como no fausto e mentira dos altares e futilidades mundanas em que é reclamada a presença de algo de lá do alto, sendo o alto, aquilo a que os humanos sabem de cor e salteado como o lugar maior de perversão e de pecado
Já me adiantei demais nesta missiva, espero bem que não haja nenhum Assange a espiolhar a nossa correspondência e a divulgá-la, para fazer pirraça aos states, ao alá e ao Vaticano. No fim, tu é que tens razão em seres esse ente maleável e permeável que tanto se dá com cádáfis como berlusconis, sócrates ou cavacos. És um espertalhaço meu amigo Emanuel: bebem do vinho e do teu veneno também. Afinal, só mesmo um deus se pode permitir a um desconchavo tão grande.
E eu na mesma!

Vénia maior.
Obrigado pela tua também.


Carta n.º 50

Prezado amigo Ramalho
Hoje ando em corrupio de ideias e de desassossego por causa daquela frase que me enviaste, em nota de rodapé, na nossa última conversa naquele chat literário de graça e desaforo que sendo nada recomendável dá graça pelo nome desabrido que ostenta; realmente, “quem for poeta que se foda†é nome que não lembra a ninguém de baptizar site ou coisa literária semelhante. É que nem tenho memória de tamanha ousadia perpetrada pelos hiper-revolucionários artistas surrealistas.Tanto os originais como as contemporâneas e desenxabidas cópias pululantes foram sempre mais conformes que disformes. Adiante!
  Voltando ao assunto que me força ao prazer ansiado de escrever a quem merece comunicação constante, é voltar a uma sábia provocação do meu estimado amigo Ramalho, que por desassombro maior, não só “apoia†o inenarrável Pessoa no apodo de ridículo a todas as cartas de amor, bem como as considera não literatura e coisa de nível e ao nível da pornografia literária de paulo coelho ou saramago. O apodo de ridículo a todos os que ousam escrever sobre amor ou coisas similares, não é adjectivo que me repugne, caro Ramalho, aliás pateta mesmo é quem confunde luz com sol ou claridades e, ainda por cima da campa da escrita insalubre se ostenta de escriba do amor.
Ridículo caro amigo, é mais o autor que o próprio acto de escrita, e sujeito-me nesta afirmação a contradizer-me sobre o que penso e sinto sobre obra e criador, mas de facto no caso do esclerosado Pessoa, do caso pessoano do amor e do caso do pessoa ridículo e da Ofélia pateta, há realmente uma forte união entre a génese dum crânio vazio a verter um texto ilegível.
Os pessoas, os saramagos, os coelhos e as suas cartas e textos e todas coisas que derivam deles serão patéticas e execráveis mas, meu grande amigo Ramalho, só o amor não pertence a esses filmes do tipo orson reles em sessão pornograficamente contínua. O amor e os escritos de literatura sobre o mesmo, serão tudo menos ridículos.
Quem nunca amou e não queira amar nem escrever que apanhe uma valente pedra.
Na cabeça ou no sítio que não lhe fizer falta.
Haja Ramalho, haja meu amigo, vontade de ser violento contra a violência dos desafectos. Só na falsa e medíocre poética se escrevem coisas insustentáveis porque em boa verdade se estamos de acordo do desnecessário e da inutilidade da poesia, o chiste de: “quem for poeta que se foda†é ameaçador por ser um atentado à mediocridade e à presunção.
Abraço mui fraterno.
Cuida-te com desvelo.

P.S- Dá-me troco: Quem não sabe criar nem escrever amor, ou é pateta ou poeta erudito ou popular. Pode também ser intelectual ou filósofo ambulante!

Carta n.º 51


Caríssimo Leonardo

Saiba que é meu maior desejo senti-lo a sorrir, quando ler e degustar estas modestas letras que lhe envio em tom de descargo de pouca consciência.
Sempre nos entendemos quanto aos nossos posicionamentos ético-políticos, vc sempre à frente de todas as revoluções, a mão armada sempre com bons néctares e a boca disposta a tecer belas retóricas de ética e fraternidades afins. Eu, pelo contrário, sempre defendi toda a legitimidade do lucro, mesmo que assente em selvagem concorrência, porque o ser humano não é animal doméstico, e eu não me governo com trocos ou esmolas. Das solidariedades também estamos conversados, vc sempre quase a obrigar o ser humano a ser solidário eu, a usar a sabedoria popular bem espalhada na minha máxima adorada: “quem quer bolota trepaâ€, porque mais vale uma caridadezinha de tempos a tempos, que um exército de viciados nas solidariedades alheias.
Pergunta-se agora o meu amigo, se faz sentido algum o que eu agora escrevo nesta carta, pergunta-se e com razão. Neste momento actual da existência humana, nunca me senti tão ameaçado nas minhas convicções e liberdade de pensar e de agir, por outras palavras: estou à rasca. Sim à rasca! Quero lá saber dos precários e das gerações à rasca, importa-me mais saber que, se essa gente de fraca cabeça e acções impensadas ainda ganha fôlego para fazer alguma revolução.
Está a ver meu amigo como é que fico com uma revolução feita por esses mentecaptos?
É que se fosse o Leonardo a fazer a revolução, ainda nos poderíamos entender, não por causa da nossa amizade, mas pelos requintados gostos que o meu amigo cultiva, algo incompatível com uma revolução sem classe e executada por brutamontes. Fora o meu amigo a liderar qualquer movimento rasco-revolucionário e eu saberia que a revolução estaria ganha, vitoriosa por ser encabeçada por alguém de requinte e elevado sentido estético. Pense nesta sugestão que deixo nestas palavras, não se quede só em teórico do blog da estrela, transmute essa diletância em acção educativa, dê aos seus comparsas trogloditas, sessões de chá, enologia e boas maneiras. Concedo que possa haver uma revolução, mas por favor: que tenham maneiras e educação. De resto, dos vinhos  e demais vitualhas, tratarei eu com pleno prazer.


Aguardo por si com a mesa posta, quando vc regressar da revolução.




Calorosas saudações conservadoras.
  

Carta n.º 52

Para além deste planeta
Olá, novamente! Sei que me pediste para limar as arestas do tempo e tentei fazê-lo, acredita. Só que as coisas não são tão simples como parecem e decidi escrever-te para te mostrar os limites ilimitados desta ilusão que me tolda o raciocínio. Sim, é verdade que desejava que ele me faltasse sempre que sinto que alguns laivos de raiva me podem conspurcar o discernimento e o corpo, coagindo-me a viver esta vida que sinto não ser a minha. As minhas chagas, já cansadas, vertem as imagens horrendas de um ar irrespirável, dos mendigos sem mãos, dos cegos sem olhos, que vagueiam pela sociedade, também ela cansada, do destempero humano que o homem governante, imprime na vida iluditória dos seus vassalos que já nem forças têm para rastejar neste solo minguado de possibilidades. Lembras-te da última visita que te fiz? Foi bom poderes sangrar todos os meus escolhos e conseguires imunizar-me o cerne! Iludiste-me (ou não?) quando me disseste que me tornaria num ser des(inquietado) de todas as maleitas que, aqui na terra, dão forma a este depósito do qual a minha mente se julga dona e senhora. Fez-me bem ter aí estado e, enquanto durou, foi bom. O problema é que agora, sinto estar, de novo, a transformar-me: já não respiro, não como, não me compadeço pela miséria vizinha, nem dos grãos humanos que rastejam solitariamente à procura de provarem quem de direito se devia responsabilizar por eles. É isto que pretendes? Porque não respondeste ao meu pedido? Ou será que nem chegaste a recebê-lo? Dá um sinal de resposta enviando-me o passaporte. Não me mandes o laranja. Esse está completamente descarregado. Vê se me consegues mandar o verde, aquele que tem a forma de um trevo de quatro folhas. Pelo menos pode ser o pronuncio de que algo irá melhorar, neste canto do Universo. Vou tentar que me concedam uma licença sem vencimento no cargo que ocupo. Estou cansado de me sentir impotente! É verdade que me mostraste que desempenhar o cargo de Regedor Humano não iria ser nada fácil. Mas agora, raios me partam se este vómito constante não me está a mostrar que me devo ausentar, por um tempo que seja.
Preciso estar contigo para falarmos naquele tratamento que me aconselhaste. Lembras-te que me deste a ler o teu livro “Reconstrução� Aconselhaste-me a memorizar a fórmula PTX x FR(3/34,905) mas não entendo para que serve tê-la em meu poder se, só tu e apenas tu, poderás tirar partido dela! Quero acreditar que fizeste de propósito para me obrigares a ter necessidade de te pedir, de novo, asilo. Se foi o caso, garanto-te que não saio daí sem me mostrares qual o segredo! Acredita que, só assim, terei coragem de retomar o meu cargo com a certeza de poder transformar este meu Planeta, num outro, onde o barro humano seja tão sólido como sólida é esta certeza em te querer visitar.
É bom que comeces a pensar com carinho na recepção que me vais fazer e não te esqueças de me reservar o quarto que fica virado para o astro rei pois assim terei a certeza de poder raciocinar com mais claridade! (Esta é para te pôr bem disposto!)
Um beijo

Carta n.º 53


De mão para mão
Olá irmã! Sei que deves estar ainda magoada comigo. Há muito que desejo a reconciliação e tu deves, talvez, sentir o mesmo. Onde já se viu as duas mãos estarem zangadas? Na protuberância do nosso conflito foi-nos incapaz atingir a lucidez nos gestos e nas feições que nos deviam ter levado à sensatez de uma decisão mais assertiva. Se não, pensa com calma e vê se não tenho razão. Lembras-te como reagiste, naquele confronto do nosso dono com aquele homem, completamente dopado pelo álcool que lhe consumia as entranhas? O que fizeste? Nada! Eu apenas quis agir pela paz enquanto tu, levantaste-te pela violência! Lembras-te daquela criança abandonada em mão de ninguém? Eu queria doá-la a uma vida digna e tu decidiste que ela permanecesse no frio da insensibilidade humana! Lembras-te daquele rosto esculpido pela mão da fome? Irmã, eu só queria dar-lhe um sustento e tu, negando-lhe o direito mais básico de toda a humanidade! Insististe até permitir que o relevo se vingasse mais naquela carcaça, cada vez mais, a descoberto! Lembras-te daquele sem-abrigo, completamente mergulhado na solidão do abandono? Eu apenas queria instigar o nosso amo a que procurasse o aconchego de um lar e tu? Não ajudaste em nada! Limitaste-te a esconderes-te no bolso frágil deste tempo, ignorando aquele corpo de ninguém! Lembras-te quando te levantaste, em riste, para ferir os sentimentos da mulher do nosso amo? Eu tentei protegê-la porque acredito num mundo mais justo, equilibrado pelos valores certos? O que fizeste? Cobriste-a de “porrada†e sentiste-te rejubilada! Lembras-te daquele jovem, esmiuçado pelo picanço da cocaína? O que fizeste? Nada! Bem me podias ter ajudado a levantá-lo e segurá-lo pelos ombros, mantendo-o de pé e encaminhá-lo para uma cura, mas não, preferiste esconderes-te, de novo, na profundeza do bolso. Como me senti impotente por, sozinha, não conseguir recuperá-lo daquele flagelo! Por todas estas razões, ainda continuas a acreditar que a grande culpada do breu deste nosso desentendimento, continuo a ser eu? Vá lá, sai desse bolso corrompido e reconhece, de uma vez por todas que, só em uníssono, seremos capazes de tornar este corpo que também é o nosso corpo, mais digno do que nunca! Quero que reflictas e chegues à conclusão que só unindo o mundo das nossas mãos conseguiremos revitalizar (e ainda vamos a tempo) este corpo no qual nascemos.
Certa da tua compreensão, aguardo por um gesto teu neste meu gesto e estou convicta que usarás do discernimento necessário para que juntas, possamos (re)construir um amo melhor. Um ser humano repleto de bons sentimentos!
Da sempre amiga e tua irmã
                                                          A mão esquerda

P.S. Não deve ser em vão a razão de ter nascido deste lado do corpo, não achas?
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« Responder #294 em: Março 19, 2011, 11:35:25 »

A partir deste momento, o tópico encontra-se trancado e inicia-se a votação pelos membros do júri.
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Dezembro 30, 2022, 19:42:00
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Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
Março 10, 2021, 20:33:13
Boa feliz noite para todos.
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Bom fim de semana para todos
Março 04, 2021, 20:58:41
Boa quinta para todos.
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Boa noite para todos.
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Boa noite feliz para todos.
Fevereiro 28, 2021, 17:12:44
Bom domingo para todos.
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