O IPHONE

[António Lóio]

   O  IPHONE

   O tom monocórdico, displicente e banal com que me contou a sua última venda no eBay, não tinha intenção de me surpreender, mas, apesar disso teve o condão de me fazer rir, pondo-me bem disposto para o resto da tarde.
   O R.... já me habituara aos seus negócios na Net com os quais completava a féria, já de si escassa para as suas ambições. Especializara-se em relógios de marca que mandava vir de todo o mundo. Fugia aos impostos alfandegários com esquemas simples, mas eficazes. Era um digno representante da raça lusitana, sorna q.b., mas desenrascado ao máximo, canalizando todas as suas energias no único objectivo que o consumia: ganhar dinheiro!
   Em qualquer local, por mais inverosímil que fosse estava o negócio. Até o simples passeio higiénico do cão da família no imenso relvado que separava os prédios do bairro onde habitava, lhe servia para aumentar a clientela. Todos sabemos, como é fácil meter conversa com outros donos de cães, partilhar as histórias e aventuras daqueles seres de quatro patas que são o nosso encanto. Não sei onde o R... desencantara o armazenista de rações para cão, nem como o convencera a ser seu representante, mas uma coisa eu podia constatar. Não havia cão das redondezas cujo hálito não tresandasse a peixe, cuja farinha era a principal matéria prima que compunha as rações que vendia.
   Naquela tarde, porém, no meio do riso que me sufocava, é que eu medi o alcance da sua obsessão e queda para o negócio, que não tinha limites, mesmo quando tivesse de recrutar a próxima vítima no seio da família.

- Sr Engº, ...lembra-se daquele telemóvel com que andei nos últimos dias? Era um Iphone do meu irmão, que me pediu para o vender no ebay por 500 euros. Por sorte vendi-o ontem por 550 euros. Claro ... que disse ao meu irmão que ninguém me dera mais que 420 euros.

    Dito isto, com o ar mais natural do mundo, tornou a embrenhar-se no  computador, em busca doutra “vítima”.

Leça da Palmeira, Outubro de 2010

Tom

[Nanda]

Tom,
Uma caricatura da vida real. E viva o desenrascanço à Portuguesa.
Bj
Nanda

[António Lóio]

Nanda

Desenrasquemos, pois um orçamento!
Tom

[cduxa]

Tom

Mais uma prosa (inconfundível). Envolta num tom coloquial. Deliciosa.

[António Lóio]

Cduxa
Fico sem jeito...obrigado pela disponibilidade para ler as minhas estórias.
Bj
Tom
Nota - Aquele retrato ao almoço, já está revelado!

[cduxa]

Tom

Como deve imaginar fico "em pulgas" por  degustar essa revelação...
Bj,
cduxa

[cleo]

Hehehehe... há quem seja capaz até de vender a sua própria alma ao diabo se farejar lucro no negócio!

Bela prosa amigo Tom

[António Lóio]

Cleo
Há épocas para tudo, para o negócio, para o amor, etc etc.
Às vezes pareço-me a entrar numa fase de crítica, mas tenho a esperança que seja só, uma espécie de balanço duma vida que se escoa.
Bj
Tom