Vivo o que não sou

[Luis F]

Sou um poeta, um fingidor
Nas palavras dum poema minto…
Finjo sentimentos de amores perdidos,
Escrevo o perfume que não sinto.
Nas máscaras que me cercam,
Crio os gritos que não grito,
No silêncio do poema descrevo…
As personagens que não vivo.
Lágrimas que me caem em seca fonte…
Nas labaredas do fogo preso que há em mim,
Que acendem os olhos de quem ama,
Nas luxúrias perdidas nos tempos que esqueço.
Entre o ócio que navega no meu sangue,
Inspira dissolvente o sol do amanhã,
Neste beber encantado das epopeias do beijo,
Choro e rio quando escrevo.
Madrugada de pétalas que repousam,
Feito das estrelas que roubo no amanhecer,
Deslizam em mantas que costuro na noite…
Mostram os sentimentos que bebo.
Derramo, assim, rios de poesia,
Que ondulam nas palavras ao vento…
Germinam seivas radiantes,
Como a espuma que desliza na corrente.
Na força dos sonhos que o impele,
Adormecidos pelas letras que soletro…
Celestial momento fingidor,
Assim se cria a alma de quem sente.

[Liliana Jardim]

Soberbo o seu poema, Luis.

"sou um poeta, um fingidor"?

Penso que não é bem assim.
Mesmo quando poetisamos sentimentos, vivências de outrem... também incluimos algo nosso, algo que sentimos, algo que vivênciamos.... acho eu.

Beijinhos amigo.

[Goreti Dias]

Um poeta não pode reduzir-se à transcrição dos seus sentimentos, tem que viver os dos outros. Muito bem explicado, poeta!
Um beijo

[Carla Ribeiro]

Muitas vezes, vivemos em nós os sentimentos dos outros... Outras vezes, os nossos...
Muito belo, este poema. Parabéns!