Jorge Vieira Cardoso
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Sobscrevo frases e dou-lhe a nossa morada....
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« em: Fevereiro 10, 2012, 23:17:05 » |
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O resto de uma luz permanecia triste e imóvel, como se fosse algo fÃsico timidamente transparente atrás de uma cortina de nevoeiro, soltaram-se irritadas as linhas da estrada, assemelhando-se a uma caverna que engole os dinossauros de chapa na penumbra em alcatrão, chegou o cheiro a enxofre no arrepiar das horas transbordando maleitas de refractários, chegou o fardo que carrega dissabores na obrigação de amealhar migalhas de ar a cada noite, ao colo de Marta. Alguém por trás, prostituta de linha jarreta, invejando a concorrência, contraiu o sorriso macilento atrás das olheiras borradas de cor púrpura e seguiu com um resto de olhos riscados de iniquidade e chamejantes de cólera os saltos altos da outra, que bem mais favorecida de atributos, foi rompendo capas num vaivém de uma dezena de metros entre a árvore vestida e a esquina do asilo melancólico e sebento da comodidade incomoda da condição humana, arrastando oásis de fêmea lá meneava feitiço, esculpindo imagem de mitigação ao incauto dos predadores Esse alguém, enciumado e com cheiro a perverso já fora menina, mas, desfigurada pela vida de rua, despediu-se do ácido estomacal que lhe irritava a garganta, abanou uns safanões de má-lÃngua e desandou até novas paragens onde a concorrência seria figuradamente mais equitativa. Marta realmente desenhava-se na noite perfumando as estrelas, numa profissão errata e devassa, assemelhava-se a quem notasse como um anjo transgressor com olhar discreto e sensual, mas impreciso na incompatibilidade entre o parecer e o ser, conquistava as cegueiras das criatura doando-lhe prazeres, repenicava sombras transfiguradas em machos polindo-lhe as arestas viciadas com luxúria, e noite após noite, as felicidades momentâneas deles, eram o escravizo da sinuosidade errante que se perpetua na tela de um pintor cadente… mas génio. O chamariz pegaria como sempre pegava quando alguém se sinta perdido entre lascÃvias e descontentamento de alma, entre o mal de amor e a fuga à s inutilidades das intempéries mentais, entre aquilo que se é, na distancia a percorrer atrás da diferença e a aproximação da mesma, entre as necessidades do corpo e a insatisfação do mesmo no ceio da indisposição frequente. O chamariz pegaria e pegou no momento em que um suposto cliente oculto na neblina se aproximou de Marta esculpindo anéis de fumo de um cigarro em trânsito entre os lábios e os dedos da mão enluvada. Testemunha das noites mantinha-se a árvore segurando os ramos familiares, cobertos de penugem fina para que não se perdessem por aÃ, como outro tipo de ramos o iam fazendo numa melancolia triste, doce e assustada! Já era mau, o que dia após dia, noite após noite a mãe árvore presenciava, por isso protegia a sua ramagem aos malefÃcios da boémia. Dizia-se pelos ventrÃculos do desconhecimento que até podia ventar, mas quando Marta chegava, aquela estúpida árvore acalmava o vento e servia como protecção a um novo ramo de alcunha “a prostituta privilegiada.†Nessa noite, como adivinhando o fado, a árvore tremia e até Marta olhou para ela no cimo da sua grande sobranceria e pensou dando voz ao pensamento: -Que se passa contigo estúpida arvore? Como ela não lhe respondeu, abanou as sensuais ancas e virou-lhe o rosto a tempo de ver uma estrela cadente cair quase a seus pés, agitou-se ainda mais a árvore, Marta olhou-a de novo de baixo a cima, entre a passada que se vai e o retorno do chamariz da folhagem, arrepiou-se abespinhada com pele de galinha, mas nem um ai pequeno e muito menos um AI grande conseguiu elevar, fazendo com que toda a noite se tornasse dia, exemplificando um náufrago que usa a pistola de sinalização como ultimo recurso num mar de ondas agitadas e temerárias, só que esta, a dita pistola encravou… num silencio tudo idêntico ficou a voz de Marta, porque a lâmina calou-lhe o som antes de ter aclamado piedade, antes mesmo de perceber as linhas do seu futuro aniquilado, antes até de pedir à alma abrigo das desvirtudes, mesmo ali, naquele momento improrrogável transfiguraram-se todos os ramos da “estúpida†árvore entrando em alvoroço, fazendo fé à defesa da irmandade, aflitos no ceio de uma tragédia a acontecer, mas nada puderam fazer para evitar a desventura, o cigarro deixou subir nas alturas o seu último anel de fumo e selou o peito meio nu de Marta carimbando-lhe o negrume da morte, a faca espelhou na noite o seu aspecto assassino e regressou para dentro do embrulho gotejando sangue, os braços perdidos da diva abraçaram o tronco despido da árvore na sua queda, tentando a protecção sem tempo, para uma dádiva de vida definitivamente perdida. As passadas do anti-vida desceram ao inferno da invisibilidade na ligeireza inocule da indiferença e decapitando monstruosidade perderam-se na meia-luz. No momento seguinte a árvore apelidada de tantas vezes estúpida recolheu Marta, sofrendo como madona no contra natura da perda de um filho. Contam por essas bandas, que aquela “estúpida arvore†agora tem novas manias…chora à noite e de dia recusa-se a sombrear os acalorados, sabe-se que por nenhuma outra prostituta acalmou o vento, fala-se pelas escotilhas nómadas, que um dia destes se deixa morrer pelas saudades de Marta, a prostituta privilegiada que dizem continuar a passear-se entre a árvore doente e a esquina do asilo melancólico e sebento, para luzir nas noites perfumando as estrelas.
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