gina
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partilhar palavras antes que o vento as leve
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« em: Abril 14, 2008, 11:48:50 » |
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- Espelho meu, espelho meu, haverá alma mais transparente que a minha?
- De repente, penso que não, e daà talvez sim, mas sabes minha filha tu fazes parte de uma minoria muito minoritariamente pequena.
- Mas porquê, espelho meu? Porque é que tanta gente finge? Parece que andam sempre a brincar ao faz de conta, mas até ao faz de conta que eu brincava quando era menina, tinha de ser uma brincadeira muito real, muito no seu sÃtio, muito organizado, limpo, bonito, confortável, e ai de alguém que mo estragasse. Ai de alguém? Oh, chorava em silêncio, era isso que fazia, sempre fui assim!
- Pois é minha linda mas sabes que não somos todos iguais não sabes?
- Querido espelho, claro que sei, mas é frustrante não achas? Parece que todos envergam o mesmo uniforme, cinzento-escuro, muito sóbrio e comprido para não deixar passar os raios de sol que iluminam as nossas manhãs. E depois, com tanta sobriedade e escuridão onde estão os sorrisos, onde estão as gargalhadas? Será que ninguém se vê ao espelho, será que ninguém gosta de ti espelho meu?
- Gostar até gostam, mas à sua maneira, inventando a verdade.
- Mas como é se faz isso? E para quê?
- Minha linda não és ingénua pois não? Então deves saber que o faz de conta, o inventar a verdade, lhes é cómodo, não dá trabalho, é só seguir aquilo que a grande maioria faz.
- Ai espelho meu, isso percebo eu, que é por falta de coragem de serem autênticos que são assim, eu até acho que nem te limpam para não se verem bem! Olha comigo, não é assim pois não?
- Claro que não, tu ainda por cima, tens um daqueles irmãos meus que aumentam a imagem não sei quantas vezes, olha uma daquelas modernices que as senhoras usam para se maquilharem.
- Pois tenho, é para me ver melhor, e tu pões-te a dizer: - Não olhes nesse, vais ver as rugas! Ao que eu te respondo: Oh, quero lá saber das rugas, elas são sÃmbolo de todos os meus sorrisos e beijos, oh não sabes tu que eu sou muito sorridente e beijoqueira, não vês que estas rugas são rugas de expressão?
- Oh, a conversa é sempre a mesma, lá isso é verdade…sorridente e beijoqueira és, expressiva claro que também és, aliás não enganas ninguém por isso esta coisa da transparência às vezes também te faz chorar não é minha linda?
- É verdade, tens razão, mas às vezes também choro e riu ao mesmo tempo.
- Oh mas isso é porque adoras estar na brincadeira e depois acontece isso, até esborratas a maquilhagem, mas eu estou a falar de quando alguém te magoa porque foste tão transparente que viram a tua alma e abusaram dela.
- Ai não querido espelho, não vamos falar disso, até porque por muito que insistas eu não vou deixar de te limpar muito limpinho para que fiques totalmente reluzente e eu me veja bem, mas mesmo bem, com todas as minhas rugas e todas as minha imperfeições.
Olha nem penses, aliás tu já conheces a minha afamada frase, que não é minha mas eu adoptei-a, aquela “faço o que eu quiser, ninguém manda em mimâ€, por isso pára de tentar convencer-me a falar disso. Aliás, não me disseste que nem todos somos iguais? Pois então, olha, eu sou assim, gosto de ser transparente, olha lá, tens aà uma manchita, espera vou buscar o glassex!
- Ai, não acredito, lá vem ela com a mania das limpezas, já cheeeeeega! Não vês que começo a espirrar por causa das alergias? Também com as tuas manias dos produtos naturais não percebo porque é que ainda usas isso?
- Pronto, pronto, agora está melhor, mas onde Ãamos nós?
- Nós, nós? Eu nunca vou a lado nenhum, eu estou sempre pendurado nesta maldita parede fria que às vezes arma-se em parva e faz-me cócegas, e eu que já estou a ficar velho já não acho graça nenhuma a estas brincadeiras. Agora tu, tu é que andas sempre de um lado para o outro, ora vais à vila, ou ao estrangeiro, ou à cidade, ou à grande capital, ora vais para a outra, qual é mesmo (?) acho que já me esqueci do nome, aquela lá mais para o norte, aquela tua preferida (!) tu pões-me tonto com tanta volta que dás, esquece, esquece, sei que já te vais zangar comigo.
- Pronto agora acertaste, e sabes porque me zango? Sabes, sabes? Porque não tenho tempo para te dar resposta a tudo isso que me dizes, essa do seres velho e tal, e de não gostares de brincadeiras, e essa de eu andar de um lado para o outro, então, então olha passaste-te, passaste-te mesmo meu amigo.
- Vá lá acalma-te, eu sei que tens trabalho a fazer, falamos disso outro dia, está bem?
- Sim pode ser, olha só mais uma coisa, sabes porque gosto tanto de ti?
- Já me disseste várias vezes, mas eu também sei que quando gostas tens necessidade de o repetir, não é minha linda? Diz lá então… - Gosto de ti porque me reflectes todas as minhas verdades, deixas-me ver tal qual eu sou, e como eu tenho a mania das transparências, acho que és um dos meus melhores amigos, obrigada! Ciao, ciao, já viste o lindo sol que está lá fora? E o canto dos passarinhos, ouves? Até logooooooooooooooooooo!
Gina 14.4.2008
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