CORVO

[António Casado]

António Casado_ _________08 Agosto 2010


CORVO
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Como um corvo prenuncia a catástrofe
No galho da árvore da vossa casa
Assim sou eu
Cantarolando nos beirais do mundo
Junto do desperdício acumulado
Pela sociedade de consumo.

Aprecio o sorriso pueril exibido pelos vossos rostos
Idiotas de tão singelos
Vitimados por uma ignorância muito própria
Feita à medida do desinteresse por tudo
Como quem admite a corrente de aço à volta do pescoço
E ainda critica não estar mais apertada…

Oh! Como aprecio a alvura dos vossos rostos.

Fotografo a auréola da inteligência colectiva
Com um guardanapo de plumas e aços…
Cabe nele a raiz dos vossos pensamentos
Do que resta dos lamentos
O laivo esquecido de alguma lucidez…

Sois os perfeitos filhos da estupidez!

Mergulhai na imundice do vosso odor perfumado
Onde nada mais existe que não seja frívolo e mesquinho
Envolto em nuvens dúbias e pensamentos doentes
Quando atirais cadernos de soluções para super-homens
Que apenas se lambuzam com a vossa alma
E bebem o sangue num cálice de ouro…

Mergulhai no odor frustrante do vosso vazio
Na indiferença de um shot tragado num bar
Para esquecer aquilo que não tem importância
Como o delével facto de estardes vivos
E, como carneiros amarrados pelos cornos,
Vos lambuzais com as solas dos sapatos dos senhores
Que vos dizem que a única politica é o trabalho
Pois tudo sempre foi da forma que está…
Porque eles, cada vez mais ricos,
Vivem na infelicidade própria da abastança
Com os olhos postos na enorme alegria da miséria…
Perdoados por Deus!

De que interessa o trabalho escravo?
De que interessa a falta de pão?
Enquanto houver uma migalha na mesa
Que alegria
Podermos adiar a morte
Para a vida
De outro dia

[Goreti Dias]

Infelizmente, assim vai o mundo! Ainda iremos a tempo de retroceder?