gdec2001
|
 |
« em: Dezembro 16, 2013, 01:54:38 » |
|
Ele sentiu-se um pouco frustrado por não ter tido a zanga que merecia. Em contrapartida o José estava acordado. Brincava com entusiasmo com os pezinhos. Já o conhecia muito bem e queria palração. Falou com ele, um bocado, mas evitou tocar-lhe porque lhe parecia que o sujaria. Que tolice. O sexo não suja, limpa; limpa-nos, pensou mas continuou sem tocar no miúdo. Tomou um banho muito quente e sentiu-se mais limpo, apesar de. Quando se deitou, levou a mão ao seio da Adélia, pois era assim que gostava de dormir quando estava menos atormentado. Ela voltou-se, deu-lhe um leve beijo no nariz e continuou a dormir. Na manhã seguinte foi imediatamente fazer o exame. E aparentou, em casa, estar ensimesmado, com o medo de que a Adélia fizesse alguma tentativa de mais Ãntima relação. Alguns dias depois respirou aliviado, porque o exame revelou que estava limpo. Prometeu a si mesmo, solenemente, que iria ter o maior cuidado daà para o futuro e comprou imediatamente uma caixa das necessárias borrachinhas. A Dulce tornou-se um vÃcio para o Mário. Um vÃcio que ele procurava sempre que estava em Portugal. Gostava de toda aquela violência e loucura, e da maneira franca e directa como ela fazia as coisas, sem palavras desnecessárias nem afectação de sentimentos que não existiam. Era prazer e mais prazer e puro prazer, misturado com alguma dor por ser tão puro, tão epidérmico, tão sem sentimentos que o acompanhassem. Combinaram que ele iria lá a casa, sempre que estivesse livre, à s sete horas da tarde. E havia um pequeno sinal que ela colocava, no exterior da sua caixa de correio, à entrada da porta, que indicava quando ela estava em casa e podia recebê-lo.
O que é bom, sabe bem...
Um dia foi encontrá-la acompanhada de uma outra mulher, muito nova . Ele preparava-se para recuar mas ela incitou-o a entrar, apresentou-a e foi logo dizendo que a moça, que se chamava Antónia, já tinha dezoito anos. Quando a encontrei, dormia no átrio de uma casa, ali perto do Rossio. Tinha já dezassete anos mas parecia ter apenas treze ou catorze, tão subdesenvolvida que estava. No entanto prostituÃa-se, vê tu, como vocês, são, os homens. Levei-a lá para casa e, como vês, tem-se desenvolvido bem, ainda que, agora não pareça ter mais de dezasseis anos . Arranjei-lhe também um emprego, lá no meu escritório e ensinei-lhe que foder é uma coisa demasiadamente boa para ser vendida por dinheiro; basta que tenhamos de vender a nossa força de trabalho, como dizia aquele homem, o Marx, não é. Agora ajuda-me, lá, no escritório e aqui; não é verdade, perguntou sem se dirigir a ela. Ela ouvia aquela sua história, resumida, sorrindo sempre, como se fosse um conto que nada lhe dissesse respeito. E quando foram para a cama levou-a consigo.
Para foder bem é necessário saber. Para amar, não.
Antónia subordinava o seu prazer ao gozo da Dulce. Esta dava-lhe instruções em voz baixa e com o olhar: Despe-te por favor, de vagar, de vagar . Vê, que belÃssimas mamas ; repara-me nesta redondeza, nesta turgidez da carne, dizia, acariciando-a levemente nos sÃtios indicados, e na pequena elevação da barriga com o pequenÃssimo lago, com sua pequeninÃssima ilha, no centro e o ovalado das coxas com a medonhinha floresta entre elas, que cai, apertadamente, na parte mediana, como de uma ribanceira. Agora beija-o ; não aÃ, mais abaixo, mais abaixo. E beija-me também a mim e aos dois, ao mesmo tempo, dizia, enquanto repetia os gestos acariciadores que repartia por ambos os parceiros, cada vez com mais violência. E com estas e semelhantes brincadeiras, gozaram os três um prazer verdadeiramente ... - bom, não encontro uma palavra apropriada para classificá-lo mas creio que vossemecês compreenderam. No fim, ou melhor, no intervalo, Mário conversou um pouco com Antónia. Queria saber da vida dela antes de conhecer a Dulce. Dava-lhe o maior prazer, ouvir aquelas histórias... Ela disse que não tinha nada de interessante a contar. Certamente que tem. Toda a gente tem. Mas é claro que só conta se quiser . Ora; até me faz bem .
Geraldes de Carvalho
|