gdec2001
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« em: Março 19, 2014, 00:01:03 » |
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Não, é apenas o José.
Um dia, há pouco tempo, ele presenteou-a com um magnÃfico colar em ouro. Ela ficou surpreendida e disse-lhe, sorrindo um pouco : Sei que gostas muito de mim mas não quero que continues a roubar para mim. Ele riu-se e respondeu : É claro que seria capaz de fazer isso, se houvesse necessidade, mas agora nada roubei. E contou-lhe como haviam herdado bastante dinheiro com a morte da avó e como receberiam ainda bastante mais depois que conseguissem vender a herdade e a sua bela casa. E ela respondeu : Vamos então casar-nos ou seja vamos passar a viver juntos. Sim, sim, disse ele, creio que isso será possÃvel pois os meus pais parecem considerar o que herdaram apenas meu. Não, isso não deixaremos. Pediremos cada um de nós uma quantia mensal aos nossos pais e viveremos com isso até que, algum de nós, comece a ganhar alguma coisa . É claro, é claro. Sempre descobres a maneira correcta de fazer tudo. E nesse mesmo dia falaram com os pais. Os pais dele concordaram completamente. Certo que à Adélia custava muito a ideia de que o filho deixaria de viver em casa deles mas nem se atreveu a formular qualquer objecção à proposta dele, por essa razão, se é que poderia chamar-se-lhe tal, razão. A OlÃvia também concordou inteiramente mas o Caetano Duarte fez várias objecções. Em primeiro lugar disse que não podia fazer objecções porque ela já era maior e faria o que quisesse. Ao que ela respondeu que não era bem assim e por boas razões. A primeira era que o que ela queria fazer, exigia a contribuição dele e depois porque, como ele sabia, sempre o ouvira no que respeitava as suas grandes decisões e sempre respeitara a opinião dele. Sim, sim e sempre fizeste o que te apeteceu. Bem mas deixemos isso e vamos ao que importa. Acho que vocês deviam casar-se, ao menos pelo civil. E porquê ? Podes dizer-me ? Em primeiro lugar porque a mim e a muita gente mais, custa-nos ainda a encarar um casal que sabemos não serem casados. Depois porque a lei e o Estado vêm as coisas da mesma maneira e dão facilidades aos casados. Por exemplo... Em matéria de impostos e de segurança social. Sim, deves ter razão. Vejamos o que diz o José. Espera, não te vás embora. Tenho ainda uma outra objecção. Quero dar-vos uma casa para viverem. Oh, não nos apapariques. Queremos sentir, pelo menos algumas das dificuldades com que, normalmente, se defrontam os jovens, actualmente. Eu é claro, como fui sempre uma menina mimada, aceito mas não sei se o José aceitará. Aceita, se tu quiseres. O José ouviu o relato da conversa e riu-se. O teu pai é uma pessoa cheia de bom senso. Concordo com tudo quanto ele propõe. Temos a grande sorte de ter pais que gostam verdadeiramente de nós e como não têm outros filhos é bom que nos ajudem, agora que precisamos e não que nos deixem grandes fortunas quando já não precisarmos ou não podermos gozá-las. O que é preciso é que também eles gozem a vida. Achas que com a dádiva da casa os teus pais se sacrificarão muito. Oh ! não, acho que não. Então aceitaremos. E quanto é que ele propôs dar-te mensalmente? Não; em quantias não falamos. E os teus pais? Ainda não falei com eles. Combinemos quanto vamos pedir-lhes. Mil euros a cada um dos casais, disse logo ela. Vejo que já pensaste nisso. Não será demais? Não sei se os teus pais poderão ? Julgo bem que sim mas, se não puderem, certamente mo dirão. A Adélia e o Mário acharam muito bem. O José perguntou também: Não será demais ? O pai disse : Não: Acontece até que estou quase a vender a casa e a quinta do Alentejo. Já recebi o sinal e vamos ter tanto dinheiro que será um tanto indecente. Ora, ora. Passeiem, como tanto gostam e é a hora de a mãe deixar de trabalhar. Sim. Vou pensar nisso. Que chatice. Digo eu o...escritor. Como é que um homem se atreve a chamar-se de escritor, escrevinhando esta historia, estória, em que tudo corre bem? Isto é que é uma estória quase vulgar? Só se for pelo quase, porque nas estórias mesmo vulgares, umas coisas correm menos mal e as outras correm mesmo pessimamente, pois então. Mas que hei de fazer eu, se as coisas nesta história, ou estória, já nem sei como devo chamá-la, correram mesmo assim. Até aquelas que pareciam ir correr um pouco pior, acabaram por se endireitar, mais ou menos. Por isso talvez vá acabar esta estória ou história, que raio! Mas esperem. Tenho de descrever-vos, pelo menos, a maneira como as nossas duas mais importantes personagens, ocuparam a sua casa. Eles compraram um T zero ali, num dos prédios novos que construÃram mesmo por detrás do lugar onde se realizou a Expo98. É magnÃfica, a casa. Tem uma grande sala que, com um toque de botão, se transforma num grande quarto de dormir. Uma cozinha que também se semi-esconde por detrás de um vidro grosso que surge e se escapa não se sabe de onde e para onde e uma lindÃssima casa de banho em que tudo é de vidro fosco excepto o espelho. É uma magnÃfica casa ! Não me canso de o repetir. Quando ela ali entrou a primeira vez depois de a terem comprado, começou a despir-se e acabou, completamente nua, olhando para ele completamente vestido. E disse: Vê, como estás completamente ridÃculo . E ele olhou para ele, quero dizer, para si mesmo e respondeu: Creio que tens toda a razão. Mas não se despiu. Chegou junto dela e pôs-lhe as mãos cruzadas, em cima das mamas, como tinha feito na praia. E ela disse: assim, sim! E começou a despi-lo conscienciosamente. Depois rolaram-se, cheios de delÃcia, no tapete da sala, tão agarrados que, vistos do exterior, pareceriam monstruosamente estranhos. Mas eles não se viam do exterior. Olhavam-se por dentro de suas almas e tão intensamente que os seus pensamentos se misturaram como se fossem apenas de um deles. Finalmente ligaram-se e ficaram efectivamente apenas um, mas já sem pensamentos; apenas um sentimento difuso de total felicidade que cada um deles sentia como se fosse o outro. Ó céus ! Se se pudesse viver assim, uma vida, este mundo seria, verdadeiramente o paraÃso. Mas não, porque, na verdade, teriam de ser deuses para suportar, mais do que um momento, um tão intenso prazer. Levantaram-se, por isso e começaram a experimentar a casa mexendo em todos os botões, abrindo todas as torneiras e portas e janelas sem repararem que continuavam nus. Que loucos! Que maravilhosamente loucos que eles são. Será que não vêem que a sua felicidade é um frágil equilÃbrio que um qualquer safanão pode desmoronar? Deixemo-nos, porém de maus presságios e passemos adiante. Ou melhor, voltemos um pouco atrás apenas para dizer que eles já foram ao registo civil fazer o seu casamento.
Geraldes de Carvalho
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