Goreti Dias – poesia viva e ao rubro
Não posso deixar de começar por desejar a todos um bom ano. Sim! Já estamos em 2016! O tempo passa e, não fosse todo o alarido provocado pelas festas, nem nos apercebÃamos da entrada de mais um ciclo.
Como se costuma dizer “ano novo vida nova†e “quem muda Deus ajudaâ€, achei por bem fazer duas pequenas alterações a esta coluna. Como devem ter reparado, tenho escrito, ora sobre uma poetisa ora sobre um poeta, mas sempre escritores já falecidos.
O que muda? Perguntais vós… Vou passar a pesquisar e escrever sobre poetas vivos tendo em atenção o mês de nascimento, mas sem a preocupação se é homem ou mulher, e vou continuar a não esquecer os já desaparecidos.
Espero, assim, dar a conhecer nomes menos divulgados, mas já com provas dadas. Irei falar de poetas vivos e que levam a poesia a lugares que a poucos lembraria e a pessoas muitas vezes esquecidas pela sociedade. É que a poesia pode ir, quer à melhor galeria de arte, quer a uma instituição de apoio a pessoas com deficiência, tanto à prisão como ao mais luxuoso e emblemático café de qualquer cidade. No final, o que conta é que é de poesia que se fala aqui!
Começo 2016 apresentando-vos uma senhora - Goreti Dias.
Maria Goreti Andrade Carneiro Dias nasceu em Santo Tirso já Janeiro de 1958 estava quase a terminar. Licenciada em LÃnguas e Literaturas Modernas pela Universidade do Porto, com Pós-graduação em Educação Especial dedicou a sua vida ao ensino de crianças e jovens portadores de deficiência.
Desde jovem que se dedica à escrita, embora tenha começado a publicar apenas nos anos 90. Colaborou em jornais como Jornal de NotÃcias, Jornal de Santo Tyrso e Entremargens.
O seu amor à literatura levou-a a criar um site dedicado à publicação de textos de vários estilos literários, onde os autores, mediante registo gratuito, podem publicar, ler e comentar. Em
http://www.escritartes.com/forum podemos encontrar desde ensaios a poesia. A partir deste sÃtio da internet já organizou concursos, coletâneas, quer de contos quer de poesia. Já vai no volume 8 a Colectânea de prosa e poesia A Arte pela Escrita, tal como site EscritArtes vai no seu oitavo ano de vida.
Tem, aliás, participado em inúmeras colectâneas. Destaco apenas algumas: Ãguas do verso, organizada pelo Jornal Entremargens; Antologia 2008, Luso-Poemas; Lugares e palavras do Porto, editado pela Lugar da Palavra; Contos Cardeais, EscritArtes e Mosaico de Palavras Editora; A Arte pela Escrita, EscritArtes e Mosaico de Palavras Editora.
Quando se decidiu publicar a solo, fê-lo com Diários, escritas quase inverosÃmeis, pela Mosaico de Palavras, em 2008. A partir daà não mais parou e a sua produção tem sido abundante e diferenciada.
Para os mais pequenos escreveu Animais Nada Animais (2011) e Animais (Ainda) Mais Iguais (2014). Seguiram-se Dos Prazeres e seus Contrários e Nuances de Vermelho em Carne ao Rubro em 2015. Todos editados pela Mosaico de Palavras Editora.
A par da escrita organiza e participa, com regularidade, em tertúlias poéticas pelo Porto, arredores e Lisboa. Visita escolas e bibliotecas com “A hora do contoâ€. É convidada frequentemente a escrever os prefácios e a apresentar obras de outros autores.
Podemos constatar tratar-se de uma escritora bastante completa/plurifacetada.
Ninguém fica indiferente à sua poesia. Escrita de forma exÃmia, com um vocabulário riquÃssimo, leva-nos por caminhos que queremos percorrer sem parar. A passos largos e decididos dá vontade de deixar “o escuro de grutas insalubres, / O cheiro nauseabundo da tristeza…†e gritar “aos ventos do Universo: / Calem-se!â€. Apetece querer “um Mundo inteiro, / colossalmente colorido / e partilhado!â€.
Rica em metáforas, em “palavras secretasâ€, mostra-nos a “leveza da fantasiaâ€, através de versos que “Penetram o Ãntimo†e “desenham, numa magia indecifrável†os “desejos incontáveis†de leitores que ficam com as suas “almas transformadasâ€.
Mas a sua poesia também é feita de dilemas, entre o prazer e o contrário (dor), cujo “mundo é um teatro onde a vida dialoga com a morteâ€, e onde este se afoga “num egoÃsmo negro!â€, ou onde apenas “ela†consegue planar “sobre a esperança em dias melhores!†e de sonhar “o sonho impossÃvel de uma Humanidade feliz!†para logo a seguir cantar “o som, o sono e o sonho†e rir “no gozo de versos destemidosâ€, atrevendo-se “a desenhar em poemas tortosâ€.
A dada altura diz “Salve-se o consenso / E a falta de senso / Que esta vida desprovida de cor / Apaga os momentos / E os séculos à vista / Num descomunal contrassensoâ€.
Pois é bem verdade que nem sempre os poetas geram consenso entre os leitores. Contudo, estão todos de acordo numa coisa. A sua poesia não é cinzenta. Ela é viva e está sempre ao rubro, matizada pela paixão, pela saudade, pelo amor, pela sedução. ImbuÃda, até, de um subtil erotismo, no caso de Nuances de Vermelho em Carne ao Rubro. No fundo estão presentes todos os sentimentos que fazem girar o Homem.
Para Goreti Dias “A poesia não tem colete de varas, / não usa espartilho, / mas tem ouvidos de tÃsica!â€, e, por isso mesmo, exclama:
Venham todos os sons!
Despenha-se o sol, a água e o bem por sobre o manto da terra;
a luz inunda a alma,
atordoa os sentidos,
blasfémia de ditos escondidos no tempo de nós.
Notas melodiosas espraiam-se pelas areias doiradas de páginas por escrever,
o som da poesia pinta de branco as minhas asas
e voo por cima da montanha nascida no teu querer.
Venham os versos embalar-me o sono;
venham os ritmos em passos de dança
e venham os teus pés descalços plantar em mim um amor Maior!
Canto o som, o sono e o sonho,
rio no gozo de versos destemidos,
canseiras por inventar
mas que me atrevo a desenhar em poemas tortos.
A poesia não tem colete de varas,
não usa espartilho,
mas tem ouvidos de tÃsica!
Venham todos os sons
e eu nela!
https://ruadaconstituicao.wordpress.com/2016/01/13/goreti-dias-poesia-viva-e-ao-rubro/