Tino Saganho
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« em: Setembro 06, 2016, 11:44:18 » |
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O PROFESSOR
Chegou à s terras de «Entre os Aves» por meados da década de 70. Transportava na bagagem um projeto de educação que dizia ser ambicioso e inovador. Esse jovem recém-chegado professor de instrução primária – alguns anos mais tarde viria a concluir um mestrado em Ciências de Educação – trajava de forma modesta e o seu olhar irradiava feixes de humildade. Entrou naquela pequena escola onde fora colocado, de mangas arregaçadas, perante o olhar curioso e expectante dos que lhe fizeram as honras da casa. – Ó Amélia, ele parece boa pessoa. Que achas? – Para já, não acho nada. Não é pelo aspeto que eu julgo as pessoas; primeiro quero ouvi-lo falar e depois darei a minha opinião. Já cá tivemos um com uma cara de «santo» e era um diabo bem mau, Lembras-te, Júlia? – Uuuiiii! Nem me fales nesse fulano que fico doente. Olha, ele vai falar, vamos ouvi-lo. Depois de explicitar os novos projetos de ensino e o programa de ação humanitária «pró-criança» a toda a comunidade escolar presente, o novo professor lançou um desafio à carolice: – Precisamos de voluntários para trabalhar em prol das nossas crianças; elas necessitam e merecem ter umas férias na praia, a preços módicos. O «totó-criança será uma boa solução, com a vossa ajuda. Convido todos os encarregados de educação dos meus alunos a criarem uma associação de pais; será a primeira nesta escola e nesta vila. – E que me dizes agora Amélia? – Parece-me um tipo fixe. O projeto de ensino encantou-me. A associação de pais é uma ideia nova e acho que vai ter sucesso. Quanto ao projeto para as crianças, é um ato de grande nobreza. Olha, Júlia, vamos colaborar com ele. Num instante, o recém-chegado «inquilino» da escola viu-se rodeado de carolas que colaboravam em todas as necessidades do seu projeto. Porquê? Porque ele, gradualmente, ia dando provas de competência e amor à causa escolar. Esse inovador projeto de ensino transbordava de sucesso. O eco foi percorrendo o paÃs, atravessou a Europa inteira e chegou até à América do Sul. Inúmeras comunidades escolares de paÃses europeus e do Brasil, quiseram ver o êxito de perto e visitavam a «escolinha» – como era conhecida. A polÃtica de permeio. No princÃpio da década de oitenta, aquele partido polÃtico de esquerda democrática... viu, no «Professor», um potencial candidato à Assembleia de Freguesia, na vila que o acolheu. Fez-lhe um convite formal para liderar a sua lista candidata e ele, com o pensamento no melhor para as pessoas, aceitou. O povo, que soube reconhecer as suas qualidades multifacetadas, acorreu à s urnas com mais afluência e deu-lhe uma vitória com maioria absoluta. Durante o tempo de um mandato, foi um presidente exemplar! Na polÃtica ganham-se bons amigos, mas também muitos adversários. Estes, em alguns casos, tornam-se tão ferozes inimigos que põem à prova sua malvadez. De regresso à atividade escolar a tempo inteiro, o ex-autarca viria a ter a sua vida complicada. – O que fizeram ao Professor, Amélia? Andava tão alegre e há uns tempos para cá vejo-o muito triste. Desconfio que anda por aà «mouro na costa…» – Então não sabes que anda por aà um «poderoso» a tentar destruir-lhe o projeto? É só inveja! Mas o que ele fez de bom está feito. Ficará na História! Sabes Júlia, enquanto esse indigno semeia ódio, há muitos bairristas cá na terra que dizem: «O Professor merece que lhe estendam uma comprida passadeira vermelha, desde o palácio da junta de freguesia até à «escolinha», pelo bem que tem feito à educação, à nossa vila e sua gente!» Eram passadas mais de duas décadas desde o inÃcio desse histórico projeto. Muitos dos alunos que nele participaram, agora professores, funcionários públicos, engenheiros…, sentem-se orgulhosos pela aprendizagem que tiveram. Era chegado o tempo da gratidão ao «Professor»: – No decorrer do seu mandato, o então Presidente da República de Portugal visitou a escola, conheceu o projeto e elogiou-o. Na hora de fazer justiça, homenageou o seu mentor com o tÃtulo de Comendador!
Tino Saganho
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