marcopintoc
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« em: Maio 20, 2008, 11:45:22 » |
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鈥 Toda a guerra 茅 um embuste 鈥 - Sun Tzu
Cen谩rio: Arredor de Lisboa, algo tarde numa noite de inverno. Uma viela, rua pequena cujo nome n茫o importa. A vizinhan莽a j谩 se tinha habituado 脿s figuras l煤gubres, sombras encostadas a paredes com os bra莽os amarrados por garrotes sujos. Alguma vezes s贸s, outras vezes em pequenos grupos. O acordo t谩cito entre moradores e essa fauna estava selado pelo reduzido n煤mero de viaturas assaltadas e o telefonema para a pol铆cia apenas ocorrer em casos de tiroteio ou 鈥渙verdose鈥. Apresentemos os contendores desta noite: No canto onde h谩 um pouco de vomitado, em 鈥渏eans鈥 da pra莽a nojentos e t-shirt que desaprendeu o odor do detergente, encontra-se Miguel. Cinquenta e cinco parcos quilos num esqueleto de m茅dia estatura, pele macilenta e obviamente mal tratada, bra莽os com ventila莽茫o. Sua abundantemente; na m茫o um gargalo partido. Cerca de cinco metros 脿 sua frente assoma Humberto. O estado do vestu谩rio indica uma 贸bvia milit芒ncia na tribo que dorme por debaixo dos viadutos da cidade. N茫o tem mais de vinte anos, mas apenas um louco apostaria que viver谩 mais cinco tal 茅 o estado de degrada莽茫o que aparenta. As m茫os, que terminam numas unhas negras e imundas, tremem. N茫o aparenta estar armado. Iluminada por um candeeiro p煤blico, algo fosco, encontra-se o motivo da contenda. N茫o 茅 Susana, ela apenas cont锚m no bolso a meia grama de hero铆na; essa sim o verdadeiro chamariz dos homens 脿s armas. 脫dio nos olhos, 茅 uma quest茫o de segundos antes de se lan莽arem um sobre o outro. Poderosa alquimia que cria a ressaca a invadir os m煤sculos e a adrenalina a bombear ao ritmo de uma metralhadora. - Por favor acabem com isso! 鈥 implora Susana. Interpretando em linguagem de agarrados: - Por favor quero ir dar um caldo!!!! 鈥 quem vencer谩 茅 indiferente. Embora prefira Miguel, a raz茫o que realmente importa 茅 que o p贸 se fa莽a liquido e acalme o frenesim que a percorre . - Eu j谩 foooodo este cabr茫o 鈥 urra Miguel e lan莽a-se 脿 carga. Meia garrafa de Sagres feita gl谩dio. N茫o pode permitir que seja Humberto a arrastar-se para o quarto sujo e desfrutar dos prazeres, da hero铆na, qui莽谩 de Susana. Humberto parte tamb茅m, quer 鈥渃aldar鈥 e essa oportunidade est谩 em Susana. Ela ainda conserva alguma beleza e, acima de tudo, tem produto. O facto de Miguel ser seu namorado n茫o 茅 de grande import芒ncia. Especialmente numa gaja que mama velhadas por vinte euros quando a necessidade do 鈥渞em茅dio鈥 aperta.
Rolam os corpos pelo pavimento molhado, a garrafa quer o pesco莽o; Humberto segura a face de Miguel e contra-ataca em direc莽茫o 脿s orbitas oculares. 脡 um combate de morte, sem qualquer causa nobre, desentendimento ideol贸gico ou religioso; sem cidades ou fronteiras por mote . Apenas uma meia de cavalo . Mas o 贸dio , esse era o mesmo. Nas faces ruborizadas e contorcidas havia o olhar enlouquecido das baionetas de 鈥淰erdum鈥 , a boca seca de um corpo a corpo em Estalinegrado, o grito insano de uma carga frontal perante metralhadoras impiedosas. A morte est谩 aqui; perto , muito perto . Quem partir谩 hoje? Em gl贸ria, no combate. Quem beber谩 com Thor o n茅ctar dos guerreiros? Parece que ningu茅m. Quando o mortic铆nio est谩 prestes a acontecer o campo de batalha 茅 agitado pelo ru铆do da retirada. Como um esquadr茫o de cavalaria a trote Susana parte. Ambos os homens param. Sentados ofegantes no asfalto, olham-se e entendem que a 煤nica forma de n茫o passarem uma noite de priva莽茫o 茅 colaborarem. Agora caminham em direc莽茫o ao transporte. Lisboa espera, outras guerras se avizinham
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