Nação Valente
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outono
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« em: Dezembro 11, 2018, 18:09:20 » |
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Se alguém quiser aderir à vida light tem via aberta. Mas aviso que não é fácil. Fala a voz da experiência. Como se pode passar sem o pecado da gula, onde as doçuras nos piscam o olho, nos sÃtios mais improváveis? Como se pode beber apenas bebidas sem álcool, num mundo onde predomina a oferta dos mais apetitosos néctares? Já quanto ao sexo admito que cumprida a função reprodutora, e para não ficar com remorsos pelo fim da humanidade, enfim. Vida ligth é dura e por isso ao alcance de almas corajosas. É o que me consola quando entro na pastelaria ParaÃso, um antro de muitos vÃcios, de apetecÃveis sabores. Mas resisto. E consigo ficar-me pelo café sem açúcar e concentrar-me na leitura dos “diáriosâ€, abstraindo-me do ambiente envolvente. Nem sempre é possÃvel. As conversas, à s vezes em voz alta, cruzam-se, entre clientes e empregados, e volta meia não consigo ficar indiferente, pois o meu grau de surdez ainda não é total. Há dias, amenina dos olhos tristes jurou, perante um cliente, e perante as colegas “miss bum bumâ€, e senhorita “chocolateâ€, que não namorava com o “mudoâ€, um moço com dificuldades em se exprimir pela fala, que disse ao aludido cliente, em linguagem gestual, que a menina dos olhos tristes era sua namorada, e até lhe prometeu porrada se se aproximasse dela. O senhor disse que lhe respondeu: -Tu deves ser é choné. Então não posso falar com ela? Até tenho idade para ser seu avô. E a menina: -Desculpe, mas ele não é meu namorado. Manda emails para o meu facebook, eu não lhe respondo e fica zangado. Já há dias que não entra aqui. Por causa desta e de outras, que me distraem da vida light e da procrastinação, é que procuro escolher uma hora de pouco movimento, para alimentar o vÃcio do café. Nessa hora apenas está presente um ou outro cliente sossegado e discreto. Às vezes sou o único, enquanto a menina dos olhos tristes se concentra-se nos seus afazeres, mas um certo dia sobresaltou-me quando se desequilibrou e disse “ai que ia caindo.†Veio-me então à mente a frase “tem que ter cuidado, quando se vem para o trabalho não se bebeâ€. Refreei-me mas não resisti a dizer: - Desde que caia nuns braços seguros… Sorriu. “Não respondo porque faço questão em ser bem educada.†Gostei do sorriso. Nem me assustei com os dentes. Se não me mordeu é porque não deve ser de morder. Acho que a minha relação com a menina está numa boa fase, apesar de não estarmos na mesma onda da vida ligt. Vejo-a mais numa de paixão pela vida, desesperadamente à procura de um namorado, mas que fale. Digo-o com reservas, pois ler pensamentos, não é faculdade de Cota-diano… Entretanto , lembrei-me de Manuel Freire, Não há machado que corte, A raiz ao pensamento E o desejo de um consorte Anda nas asas do vento. Menina dos olhos tristes Mas pintados de alegria Vejo neles que resistes Cair na melancolia Acredita que os sonhos São gémeos da utopia E que serão realidade …………………Um dia.
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