Maria Gabriela de Sá
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« em: Janeiro 30, 2022, 20:51:39 » |
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Hoje também fui votar, mais em ânsia do que em consciência. Muitas secções de voto, as filas de antigamente já vão longe graças também à Covid, que deu uma grande ajuda. Entrei de CC em riste, esferográfica vigorosamente excitada entre as mãos a ver se o seu sangue azul lhe afluÃa à ponta, depois da sua recente nega num autógrafo diversificado entre sulcos, alguns brancos e sem tonalidade alguma. Um escuteiro, um rapazinho de uns onze ou doze anos, abeira-se de mim, oferece-me uma raspadinha diferencial, um jantar romântico no dia dos namorados sorteado na mesma data: - Um jantar romântico, meu menino? Só se for contigo? O miúdo riu-se- - Mas não me vai sair nada, a Sorte só me dá a mão em casos tanto pontuais quanto banais. Às vezes nem dou conta, a Sorte que me desculpe, não é por mal…. E tu jantas geralmente em casa, não é verdade meu menino? - Claro. - Então dá cá a “raspadinha†e toma lá os 1€50 Ali perto, estavam as biscoiteiras anunciando com insistências os seus docinhos. Olho a mercadoria e penso, não em mim que não sou gulosa, mas em terceiros que me pedem com frequência biscoitos do meu fabrico. Compro um modesto saquinho, 240kg – devem ter-me roubado uns dez gramas –, 3€. Para remediar, coloco-os na prateleira dos doces na casa onde os meus, artesanais e feitos com amor, são tão apreciados, aguardando sei lá o quê. Deixo-me estar sentada até ao fim da tarde a ver no que o dia dá. Já noite, surgiu uma pergunta de quem de direito: - Foi você que trouxe estes biscoitos? - Fui. - Então leve-os de volta. – disse uma voz, colocando o móbil do crime, os biscoitinhos, na saqueta das minhas moengas. E eu, cá dentro, no sÃtio onde, em mim, se recolhe a sensibilidade, escutei a frase como se tivesse ouvido: - Mete-os no cu!...
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