Nação Valente
Contribuinte Activo
Offline
Mensagens: 1285 Convidados: 0
outono
|
|
« em: Maio 27, 2013, 19:54:48 » |
|
Ir a uma feira do livro é, para um viciado em livros, como para um católico militante ir em Maio ao santuário de Fátima. Como o católico não vai à espera de uma benesse imediata, como um milagre, mas por sentir uma necessidade espiritual, o adorador da galáxia de Gutemberg não vai pela necessidade de adquirir o livro A ou B, mas para um encontro especial com o espÃrito das letras. Num certo sentido, ambos cumprem um ritual.
Ir a uma feira o livro de Lisboa, por exemplo, mãe de todas as feiras, tem um sabor especial. É como viajar por dentro dos livros. E para os amantes de livros à antiga, estes são papel, tinta, letras, imagens. Existem, têm substância, satisfazem todos os sentidos: despertam o tacto, atraem o olhar, despertam a audição no restolhar das páginas, interrogam com a sua mudez, não são indiferentes ao olfacto. Ali estão discretos na sua sabedoria, humildes nas milhares de ideias e mensagens que guardam, disponÃveis e ao alcance de qualquer mão. Deixam-se folhear sem protesto, felizes por um convÃvio aberto com a sua razão de ser, os leitores. Ali voltam a ter um feliz encontro com os criadores que lhes deram vida e asas para voar.
Os rituais alimentam a fé. As feiras de livros, em qualquer lugar, são para além de lugares de divulgação e comércio, sÃtios onde se retoma a ligação umbilical com a aventura humana. Ali está o ADN da humanidade, a palavra escrita, o registo da memória, a prova de termos um passado e a garantia de que teremos um futuro. No espÃrito daquelas páginas está o conhecimento acumulado e a alma de todos os que construÃram. Hamurabi, Homero, HesÃodo, Vergilio, Heródoto, Sócrates, Arquimedes, Aristófanes, CÃcero, Horácio, Santo Agostinho, Leonardo de Vince, Camões, Galileu, Newton, Stendhal, VÃtor Hugo, Cervantes, Anderson, Eça, Saramago...são nomes que de repente me vêm à memória, entre tantos outros que é impossÃvel enumerar.
Os livros na sua quietude de papel são organismos vivos . Se os entendermos, se os vivermos, se com eles convivermos, entramos na sua intimidade e viajamos, ao fim e ao cabo, por dentro de nós próprios. Esperam-nos sempre de braços abertos.
E para quem não leu o meu romance "ZÉ NINGUÉM"- A minha vida não dava um romance, aconselho que o faça. DisponÃvel nas livrarias Bertrand, Fnac, Wook, em livro e e-book. No Brasil no grupo Atlãntico. MG
|