Chuva

[Maria Gabriela de Sá]

Deixe-se que a erva
Nos campos
Se inunde da chuva forte
Que lhe fortaleça as raízes para o estio
Os ocres das folhas
E os fungos carnudos do solo ardente de outono;
Deixe-se que os pássaros se abriguem nas árvores
À espera de um raio de sol para lhes chilrearem de novo nas copas
Anunciando felizes abertas no céu ou voluptuosos  amanhãs;
Deixe-se que os rios se encham
E se inundem de lodos castanhos
De húmus empreendedores
Para abundantes peixes de cristal
E seu alimento;
Abandone-se a seiva das plantas e  das árvores aos cristais
Aos fluidos da terra que lhes dá as verdes folhas
E os frutos doces
Provados sempre
Em primeira mão
Pelas lagartas e pelos pássaros
Em meados da primavera.
Deixe-se
Quem puder
Ficar na cama
Inundado do calor lavado dos lençóis brancos
Em ousadias de Amor
A ouvir a dolência das gotas de chuva
A bater na vidraça
Uma música de fundo em contraponto com o silêncio;
Deixem-se as crianças
Em regressando a casa
Saltar e alagarem os pés
Nas poças que se formam na rua
Depois de uma chuvada abundante e regeneradora.
Deixe-se a vida acontecer
E que as lágrimas da vida sejam apenas as gotas da chuva
A bater na vidraça enquanto o Amor acontecer
Nas suas múltiplas formas.
Gabriela Sá

[CAMPISTA CABRAL]

Que belo e vivo poema este! Com cheiro de terra e sabor de chuva! Parabéns!