DEIXO O POEMA SE SECAR

[CAMPISTA CABRAL]

Um mundo inteiro aqui
Nas minhas mãos,
nas mãos dos outros,
em outras mãos.
Aqui ao largo,
em volta, em tudo.

Um mundo inteiro aqui
Páginas, inúmeras páginas
de histórias e mais histórias
Aqui ao largo,
em volta, em tudo.

Assim, no varal das coisas,
o poema vai se secando,
transmudando-se
Assim, no varal das coisas,
o poema vai se formando
mais uma vez
e mais uma e outra
até que o tecido do texto
não permita mais a secagem
e seja necessário novo pano.

Um mundo inteiro aqui
Um mar que é meu,
outro que não sei
Ou não há, tanto faz.

Um mundo inteiro aqui
Dizem-me as pessoas,
tantas e tantas
Cujos olhos não sei.

Um mundo inteiro aqui
Retratos e memória,
uma dança, uma farsa
Aqui ao fundo,
bem ao fundo, no escuro.

Então, deixo o poema ao vento
Deixo com que se seque
Deixo o mar
e a noite e tudo mais
Aqui ao longe,
ao redor do mundo.

Aqui ao largo,
em volta, em tudo.

[Maria Gabriela de Sá]

Secando este poema,  outro húmus criará novos poemos.

Gostei, abraço e Bom Natal

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Que o poema seco, molhado ou úmido ganhe o mundo inteiro.

Abraço, Cabral.