ENCONTRO MATUTINO-NOVE

ENCONTRO MATUTINO - PART NINE
Marília L. Paixão

Finalmente chegou a minha hora e não tive mais como evitar passar pela porta da manhã. Estava com mais medo que curiosidade e Deus sabe que não sou uma pessoa de muitos medos. A porta dava para uma janela. A janela dava para uma cascata. A cascata parecia dar para o fogo e o fogo para o ouro. Deus sabe como as coisas quentes me amedrontam e como não tinha muita certeza de nada meu primeiro pensamento foi o de ficar na janela com a esperança de retornar à porta da manhã. Eu não queria uma janela vespertina e nem uma cascata de luz que depois daria em fogo. Já pensou o carvão da escuridão que me sobraria depois de cremada?! As histórias das minhas amigas eram bem diferentes daquela paisagem que eu via. Agora queria mesmo era voltar urgentemente para a porta, mas já não havia porta. Cadê as meninas?! Elas estavam a um passo de mim quando caí...
- Goreeeeettttttttiiiiiiiiii! Annnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaa!
Eu devo ter caído de algum buraco do céu. Não tinha mais porta nenhuma ali!!!
Ninguém me ouvia.
Do céu de onde caí devia ter muitas nuvens. Com certeza havia nuvens de onde eu vinha. Estava molhada? Sentia tanto frio. Pareciam paredes de gelo em minha carne. Não estava de jaqueta, agasalho, nada! Seria essa a razão da cascata e depois o fogo?
Era a chance de aquecer-me? Deveria perder o medo do fogo? O que faço Ana? Devo pular dessa janela?
– Me acuda Goreti! O que faria você? Pularia na cascata e depois no fogo?
- Socorrrrrrrrrrrrrroooooooooo.
Não gosto de fogo. Não, não, não!
- Vou cair Ana. Não me deixe cair Ana!
- ajude aqui goreti.
Alguém fique me esperando na porta, por favor. Essa janela está muito escorregadia.
- Não vão embora meninas, eu não desisti ainda... eu volto...eu volto...eu não vou cair no fogo, não vou.
A janela está balançando. Pareço ouvir vozes.
- Ana? È você Ana?
Nada... só o silêncio. Não era Ana. Se fosse Ana ela responderia.
- É você Goreti?
Um vento forte. Nada de Goreti. Mas uma voz feminina... aquilo era voz feminina...mas não reconhecia direito. Mas era tão bom existir uma voz... Parecia diminuir meu medo.
-Quem é você? Sou a Con...
Conceição?!
A voz ria. – Con!
A voz nada mais disse, mas parecia querer dar a mão e eu estendi a mão, mas a mão não alcançava a minha.
- Marília
- Sim, sou eu! Não me deixe sozinha aqui ou eu caio no fogo.
- Não há fogo por aqui!
- Há sim! Você não vê?!
- Você está delirando Marília.
- Então onde estão as outras meninas?
- Não sei... Só estamos nós aqui.
- Não tem medo do fogo?
- Não há fogo, Marília, só a cascata. Você não vem?
- Não! Não vá... Você pode se queimar, temos que achar a porta da manhã.
- Já é noite, Marília. As estrelas estão brilhando e a lua está linda.
- Você é uma alucinação minha ou uma fada madrinha qualquer, meu Deus... Você nem vê o fogo, você nem sente o frio, você nem percebe o balançar dessa janela, não vê que estou caindo enquanto me oferece estrelas?! Será que você é o último dos meus anjos?
- Venha comigo.
- Não posso sair daqui...
- Venha...
- Não.
Foi então que cai da janela e a voz foi embora. Tinha perdido o anjo.
Agora era a cascata, toda aquela água, e lágrimas de medo.
Mas eu sabia nadar! Não sabia? Sabia. Mas a correnteza era forte e por onde enxergava havia pedras e mais pedras. Não havia volta. Não havia um melhor caminho e olhar para trás seria o mesmo que avistar o fogo do qual eu tanto corria em busca de dar continuidade à vida até que parecia não agüentar mais dar braçadas... Mas alguma coisa me agarrava e parecia não desgrudar de mim e parecia fria e parecia quente e eu nem conseguia ver e nem me desfazer daqueles braços. Só sentia que me agarrava muito fortemente até que me senti vencida.
Quanto tempo fiquei sem abrir os olhos?
Depois abri. Olhei para os lados e não muito distante estava a porta. Tudo parecia sereno. Por ali não estava Ana, nem goreti e nem a voz da Con. Mas meu corpo não estava só. Não estava. Senti o peso de alguma coisa se movendo sobre o meu e pulamos ao mesmo tempo. Eu e a coisa. Dois pulos assustados em um vivo bem vivo sobressalto e era eu assustando a minha favorita criatura verde: - Dagger!!! Dagger, Dagger!
- É você?!
Depois de vários pulos ao meu redor ele disse que sim.
Eu não precisava lhe contar os números para conferir. Era Dagger Lor, era ele sim!