Antonio
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« em: Maio 07, 2008, 22:52:31 » |
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A quarta-feira decorreu sem novos acontecimentos significativos relacionados com o caso. As pessoas estavam tensas e muito apreensivas, nomeadamente os pais, a Eulália e o Eurico. Os avós e o resto da famÃlia nem tinham sabido do rapto pois o Jaime não quis criar preocupações pois estava convencido de que o problema se resolveria rapidamente e a seu contento. Ao fim do dia já o Campelo tinha todo o dinheiro reunido numa mala. A numeração das notas tinha sido registada. À noite, o Paulo deu mais algumas indicações ao Morais que este apontou e os sequestradores foram fazer nova visita ao rapaz que continuava na cabana.
A quinta-feira amanheceu cinzenta mas sem chuva, como os dias anteriores. Umas gotas que aqui e ali Ãam caindo não eram muito incomodativas. O último dia de acentuada pluviosidade fora o do rapto, a segunda-feira. A ansiedade estava latente no rosto das pessoas. Sempre que um telefone ou um telemóvel tocava na empresa, todos os que lá estavam como que sentiam o coração parar de bater e, após constatarem que não era a chamada esperada, respiravam fundo e tinham um momento de descompressão. Mas logo voltava a inquietação. Para combater esta espera desesperante alguns fumavam mais que de costume e, embora sem vontade de o fazer, procuravam falar uns com os outros sobre tudo e nada, menos acerca do caso. Mas só estavam presentes o Campelo, a Sandra, a Catarina e o Paulo; a mulher do Jaime estava em casa acompanhada pelo cunhado pois a mensagem do raptor não dizia para onde seria feito o telefonema. Eis que se abriu a porta e entrou o Morais. - Bom dia! – saudou. Desta vez, só o Paulo tivera disposição para responder. Mais um toque dum telefone. Foi o da Catarina como de costume, pois ela é que atendia as chamadas para o fixo que provinham do exterior, mas quem estava a fazê-lo nessa manhã era o Jaime Campelo. - Estou! - Ora aqui estou eu, conforme prometido – falou uma voz de homem, visivelmente disfarçada, do outro lado. E continuou: - Já tem o dinheiro? - Tenho! Tenho tudo! – respondeu, num tom vigoroso, o pai do garoto. - Então amanhã, à s onze horas, esteja junto da mata que há ao lado da ponte velha de pedra, em Ceifas. Conhece? - Sim! – respondeu o Jaime. - Mas não fica na estrada, naturalmente. Mete pelo atalho e só pára quando vir um obstáculo. Desliga o carro e sai com as mãos no ar. Nada de polÃcia nem de armas. Alguém entra com o seu filho para a viatura, abre a mala que deve estar na parte de trás, verifica se contém o dinheiro e depois sai, deixando lá o garoto. Finalmente, você dá meia volta ao carro e sai do atalho por onde entrou. Falei devagar. Entendeu tudo? - Sim! Às onze horas no atalho da mata de Ceifas, não é? – pretendeu confirmar o homem. - Exactamente! E nada de truques, para bem de todos. E desligou. O homem ouviu a ligação ser cortada, ficou com o auscultador na mão, deu um forte suspiro e finalmente pousou-o. - Já está! É amanhã à s onze! Depois de ter ido buscar uma garrafa de brandy e de ter tomado dois ou três goles, sempre sem dizer mais nenhuma palavra, sentou-se, ligou para casa e contou a conversa com o sequestrador de forma que todos ouvissem. O Morais aproximou-se do Paulo e perguntou-lhe baixinho: - Porque será que o raptor ligou para aqui e não para casa? - Sei lá? - Porque sabia que o Campelo estava aqui! - Humm...bem visto! – comentou o jovem enquanto abanava afirmativamente a cabeça. Pouco depois o Morais chegou-se para junto do vizinho e sussurrou-lhe: - Quero falar consigo a sós! Vamos até lá fora? - Pois sim! Vamos ali ao café – anuiu o coxo. Uma vez sentados numa mesa, disse o “detectiveâ€: - Eu quero dizer-lhe que vou para lá pelas sete e meia da manhã, quando começar a clarear. A essa hora eles...eu digo eles porque tenho a certeza que são dois, pelo menos...a essa hora eles ainda lá não estão. Vou deixar o carro bem longe e escondido e depois vou a pé pela estrada e meto pelo atalho. Os raptores vão de carro, até porque tem de levar o Tiago, e eu vou tentar aprender o mais que puder acerca deles. Faça de conta que eu não estou lá, mas vou estar. - Por mim acho uma boa ideia, mas não será perigosa? - Não se preocupe comigo. E digo-lhe outra coisa: hoje de tarde já vou reconhecer o terreno. Quer vir comigo? - Ó Morais! Você parece o Sherlock! Sim senhor. Vamos lá. E combinaram a hora. - Outra coisa. Sugiro que leve o Fiesta da sua mulher para se poder movimentar melhor na mata. - Boa! Você é que devia ser o chefe da PJ – comentou, com um sorriso, o Campelo. Pouco depois voltaram para o escritório. Quando lá chegaram a Sandra disse de imediato: - Telefonou a D. Zulmira a dizer que tinham ligado da GNR a perguntar se o Tiago já tinha aparecido. Ela disse que não e eles disseram que Ãam agora comunicar à Judiciária aquilo que o senhor tinha dito quando lá foi. - Trabalham bem, estes tipos! Mas depois de eu ter o nosso filho connosco eles vão mesmo ter de apanhar o patife – desabafou o marido. - Os patifes – corrigiu o Morais.
Eram sete da manhã de sexta-feira quando o Morais saiu de casa. Levou o carro, um Mercedes negro, e conduziu-o ainda de noite até uns três quilómetros da velha ponte de pedra, que uns diziam que era romana e outros que não. Depois foi a pé pela estrada, protegido por um crepúsculo ainda incipiente, e meteu pelo atalho até um ponto onde este terminava numa cerca de arame que delimitava um campo. Os carros não poderiam passar daÃ. Seria esse, provavelmente, o ponto onde o Jaime seria forçado a parar. Para voltar teria de fazer a inversão de marcha o que não era fácil e como certamente ainda ficaria a falar e acarinhar o filho os meliantes teriam tempo para se escapulir. Depois regressou pelo mesmo caminho e postou-se num local de vigia improvisado, junto da ponte sob a qual agora passava um ribeiro com um caudal maior que o habitual graças à água que caÃra. Mas como não chovia quasi nada desde segunda-feira, a lama que se formara já estava quasi seca. Olhou o relógio e leu oito e quarenta. A espera seria longa. Olhou para o céu e pensou: - Oxalá não chova hoje, senão apanho um resfriado ou até uma pneumonia. E tirou um livro da algibeira da gabardina, instalou-se o melhor que pôde e começou a ler.
(escrito em 24 de Outubro de 2007)
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