Antonio
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« em: Maio 10, 2008, 13:57:06 » |
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De vez em quando o ex-bancário tinha de se levantar e mexer as pernas mas rapidamente voltava à posição inicial. Foi ouvindo o motor de carros que depois passavam bem perto de si. Eram muito poucos pois a estrada tinha um reduzidÃssimo movimento. Mas nada de suspeito observara. Seriam umas nove e meia quando ouviu o som de um motor que se tornava progressivamente mais audÃvel até que o barulho cessou, de repente. Essa viatura, que vinha do lado oposto ao dele à quele donde apareceria o Jaime, não devia ter ficado muito longe, Arrumou o livro e ficou à escuta. O coração batia mais acelerado. Cerca de um quarto de hora depois apareceram três pessoas. Os dois adultos usavam longas gabardinas com capuz e meias enfiadas na cabeça. IrreconhecÃveis, caminhavam tão rapidamente quanto o permitia o suposto rapazito, tapado por um cobertor que não deixava que se lhe visse nada do rosto, e dando uma mão a cada um dos adultos que quasi o puxavam. Chegados à entrada do atalho por ele meteram. O “detective†pensou consigo mesmo: - Estão a arriscar bastante ao andar assim. O carro deve estar muito perto. Vou vê-lo. E logo saiu do seu esconderijo e caminhou até que viu meio escondido atrás de uns arbusto um carro preto. Aproximou-se e viu que era um Volkswagen Polo. - Humm...é igual ao do tal Bruno que é irmão da Sandra... será que as minhas suspeitas se confirmam? – elucubrou. As matrÃculas estavam tapadas por panos. Removeu o da frente e leu: 80-28-XJ. Voltou a colocá-lo a cobrir a chapa depois de ter escrito números e letras num papelito. Deu uma olhadela para dentro do veÃculo mas não notou nada particularmente relevante para além de cordas e trapos. Voltou ao seu ponto de observação. Olhou o relógio, coisa que fizera inúmeras vezes nessa manhã e murmurou: - Quasi dez e meia! Já falta pouco. Começou então a congeminar: - Será que há quatro pessoas envolvidas nisto? O Eurico, a Sandra, o irmão e o outro que passou aqui. Pelo andar parecia uma mulher mas não tenho a certeza pois estava com uma capote que não deixava ver o corpo em condições. Pode ser que o Tiago tenha algumas informações. Se for uma mulher será provavelmente a namorada dele, a tal Sónia. Tenho de verificar se tem álibis. Sendo assim, foi mesmo o Eurico que levou a carta a pedir o resgate a casa do irmão. Custa-me a acreditar que ele tenha feito uma coisa destas a pessoas de famÃlia, mas... não seria o primeiro, e ele não morre de amores pelo Jaime. Não demorou muito tempo que chegasse o Ford Fiesta da Zulmira conduzido pelo marido. Meteu pelo atalho e o António seguiu-o a pé. Naturalmente andava mais devagar e foi-se atrasando mas, a certo momento, ouviu o motor parar. - Já lá está! De facto, o carro preto parou junto da cerca de arame. O coxo saiu do carro com as mãos no ar e gritou: - Já cá estou! De repente, surgiu da mata um encapuçado que apontava uma pistola. - Afaste-se do carro! – disse. O homem ameaçado teve a sensação de que aquela voz não lhe era estranha, mas tinha de se concentrar no que estava a fazer. Logo de seguida surgiram, do mesmo ponto de onde tinha aparecido o que parecia ser o chefe, um vulto adulto vestido do mesmo modo e uma criança tapada por um cobertor. - Tiago! Não tenhas medo que o pai está aqui! – gritou o Jaime. - Pouco barulho! Vamos fazer exactamente o que eu disse – falou o lÃder. O outro patife entrou para a parte traseira do Fiesta levando o garoto, abriu uma pasta gorda e viu o dinheiro. - Está aà o dinheiro? Vê bem se não há jornais ou papel que não sejam notas. Agora não dá tempo para o contar. Mas ai deles se não estiver todo! – falou o sujeito armado. Pouco depois, o outro fechou a mão esquerda enluvada, esticou o polegar para cima em sinal de que estava tudo bem e saiu trazendo a pasta com o pecúlio extorquido ao Campelo. E começaram a correr pelo atalho em direcção à saÃda. O Morais ainda presenciou a parte final da cena, de longe, e escondeu-se bem até a parelha passar por ele. Dirigiu-se então para o carro onde o pai ainda procurava desamarrar completamente o Tiago. Quando lá chegou já ambos estavam abraçados, chorando convulsivamente, e o homem dizia: - Estás salvo, meu filho! Agora vamos para casa porque a mamã está à nossa espera. E mais falava. E mais choravam. O Morais assistia comovido e umas lágrimas, não sabia bem se de alegria ou de raiva, escorreram-lhe pela face. - Estás bem, meu filho? – perguntava o pai. - Estou! Agora estou! – e nada mais conseguia dizer, o rapazinho. O “detective†deixou passar alguns minutos até que falou. - Vamos embora, amigo Jaime! A mãe também quer abraçar o Tiago! - Tem razão! A manobra de inversão de marcha só foi possÃvel com umas arranhadelas na pintura do carro. Mas que importava isso? O vizinho resolveu conduzir a viatura enquanto o homem baixo, feio e coxo telefonava para a sua mulher. Só parou junto do local onde deixara o seu Mercedes. Apeou-se e os dois automóveis dirigiram-se para a rua nova junto da escola. O vizinho também entrou em casa do Campelo e assistiu a uma cena emocionalmente muito forte, com os três agarrados a chorar e a Eulália, embora um pouco mais afastada, também parecendo uma fonte. Pela segunda vez nesse dia o “detective†não aguentou e sentiu as lágrimas a correr-lhe pelo rosto. Olhava para o miúdo que praticamente não dissera outras palavras para além de papá e mamã e pensou: - Quatro noites sabe-se lá em que condições. Este miúdo deve estar fortemente traumatizado. Vai precisar de muito apoio psicológico ou mesmo psiquiátrico. Lembrou-se então de telefonar para o escritório para dar a boa nova. Atendeu a Catarina mas falou com o Eurico. Todos parecem ter suspirado de alÃvio. - Depois eu passo por aà para vos contar pormenores – prometeu antes de desligar. Ocorreu-lhe então que talvez lá estivessem pessoas com responsabilidades no rapto. E lembrou-se que devia verificar se Bruno e Sónia tinham ou não álibi. Foi então que ouviu o petiz dizer: - Tenho fome e sede! Imediatamente a Eulália foi buscar bebida e alimento para o seu Tiaguinho. Observou o moço a comer sofregamente e continuou a cogitar: - O Paulo já me deu os endereços dos sÃtios onde trabalham os meus suspeitos. Vou-lhe mandar uma sms com a marca e matrÃcula do carro dos facÃnoras. E assim fez.
(escrita em 27 de Outubro de 2007)
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