Antonio
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« em: Maio 14, 2008, 13:03:15 » |
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Voltou a observar a criança. - Coitadinho! Com sete anos já passou por uma situação bem complicada. O puto continuava a comer mas deixara de chorar. Parecia estar mais calmo. De repente parou e disse: - Eram um homem e uma mulher e levaram-me num Volkswagen Polo preto. O detective esboçou um sorriso que ninguém viu e elucubrou: - Sempre é uma mulher! Resta saber se é a Sónia. Logo de seguida recebeu uma sms do Paulo em que este escrevera: “Não vai GNR saber dono do carro? Devem dar informação depressaâ€. - Como é que ainda não tinha pensado nisso! – censurou-se. E respondeu: “Boa malha!â€. Esse seria o próximo passo, mas por agora estava ali a velar pela famÃlia Campelo. Sentia que eles precisavam de alguém que estivesse pronto para os apoiar a qualquer momento. Aliás, fora isso que fizera desde o fatÃdico dia do rapto. Já passava da uma da tarde e ousou perguntar: - Vocês não almoçam? E virando-se para a Eulália: - Tem preparada a refeição, não tem? - Está preparada, sim, senhor Morais. – respondeu a serviçal. E o vizinho falou agora em tom mais incisivo: - Jaime! Zulmira! Vão comer que eu farei o mesmo. Depois de almoço conversamos mais. - Está bem! Mas gostava que nos fizesse companhia – respondeu o dono da casa. - A Fátima deve ter o almoço pronto. Mas terei muito gosto em ficar aqui convosco. E ligou para a sua empregada: - Olá, Fátima! Tem o almoço preparado? - Tenho sim, senhor Morais. Mas o menino Rui telefonou a dizer que não vinha comer e a D. Bela também – esclareceu a empregada. - Então coma você porque eu estou aqui na casa do lado e cá vou almoçar – disse o António. - Eu vi-o entrar! Como está o menino? - Fisicamente parece um pouco debilitado mas já comeu e não deve haver problema. Psicologicamente é que será mais difÃcil a recuperação. Vamos ver! - E já apanharam os bandidos? - Ainda não, Fátima! Mas logo eu conto tudo. Agora vou desligar. Boa tarde! Depois ligou para o salão da mulher e deu-lhe a boa nova. O almoço em casa do Campelo foi de poucas palavras. A Zulmira só comeu a sopa porque o Tiago queria dormir e a mãe foi com ele. Até que o convidado falou: - Acho que o seu filho vai precisar de acompanhamento psicológico. É muito novo e a situação porque passou foi muito traumática. - Para já precisa é do amor dos pais. Se não recuperar rapidamente pensarei nisso – replicou o coxo. O “detective†achou que devia mudar de assunto e assim fez. - Já temos algumas certezas quanto aos patifes: são dois operacionais, um homem e uma mulher, actuaram num Polo preto e eu tomei nota da matrÃcula 80-28-XJ. - Sim? Isso da matrÃcula é importante se o carro não for roubado. - Pois é! Logo vou ver se a GNR me dá os dados do proprietário. - Então se o Tiago estiver melhor eu vou consigo. Como fui eu quem apresentou a queixa... - Muito bem! – concordou o Morais. - Você não deve saber Morais, mas o Tiago já me disse que esteve numa cabana velha durante estes dias, sempre amarrado – informou o Campelo. - Ora a isso se chama informação relevante... – retorquiu o outro. Mal acabaram a refeição, dirigiram-se ao posto da Guarda Nacional Republicana. O Jaime mandou chamar o chefe com quem tinha falado da outra vez e contou-lhe tudo o ocorrido, com algumas ajudas do antigo bancário, nomeadamente a indicação da matrÃcula do carro. O homem entendeu mandar tomar nota deste depoimento para o juntar ao processo e entregar na Judiciária. Finalmente, o Campelo pediu: - Não podem ver já quem é o proprietário da viatura? - Se tivermos ligação via computador é rápido. Um momento. Pouco depois apareceu com um papel e começou a ler o que nele tinha escrito: - A proprietária é uma senhora de nome LÃgia Correia da Silva Monteiro... E prosseguiu até ser interrompido por um quasi grito do espoliado. - É a filha do Homero Monteiro! Ai o sacana! É ele quem está por trás de tudo isto. Eu tinha um palpite!... E agora vão prendê-la? - Ainda não! Mas vamos fazer vigilância. Como a criança já está sã e salva, na segunda-feira vou contactar pessoalmente com a PJ e depois agiremos em concordância. - E também era bom que recuperassem o meu dinheiro. Não é tão pouco que dê para esquecer... - Claro que serão feitos todos os esforços nesse sentido... – prometeu o chefe Carneiro. - E quem será o homem que comandou as operações? – perguntou o Morais, um tanto decepcionado por ter falhado a sua previsão – Será esse Homero? É seu conhecido? - Foi meu sócio num negócio que correu mal e meteu-se-lhe na cabeça que eu o tinha aldrabado. Ficou bastante endividado e jurou vingança. Mas embora a voz do homem mascarado não me fosse estranha, tenho quasi a certeza de que não era a dele. - Mas se esta senhora, ou menina, porque parece que só tem vinte anos, for interrogada é garantido que diz quem foi o cúmplice e se o tal Homero é o mandante. Sabe que há métodos que ajudam a soltar a lÃngua. - Espero bem que sim. O negociante ligou para casa, soube que o filho ainda estava a dormir e contou à mulher. Depois de tudo tratado no posto, os amigos foram para a agência onde contaram as últimas aventuras, pois bem se pode usar esta palavra.
Correu o resto de sexta-feira, o fim-de-semana, a segunda até que, da parte de tarde de terça, o Jaime recebeu um telefonema do corpulento e calvo chefe Carneiro a pedir-lhe para ir ao posto. Uma vez lá chegado na companhia do inefável António Morais, o homem da GNR disse: - Já interrogamos a tal LÃgia que rapidamente confessou e denunciou que o mandante fora o pai e o cúmplice foi o namorado. Este foi aliciado por gostar muito dela, por ter um fascÃnio por aventuras e, sobretudo, porque receberia uma boa parcela do dinheiro do resgate. Ela também indicou onde está a pasta com o dinheiro. E sabe que a pistola que ele lhe apontou era um brinquedo? Mas já o vamos buscar. É curioso que mora na sua rua... - Na minha rua? – admirou-se o Campelo. - Sim! Chama-se Rui Manuel Leitão Peres e também é muito novo... - Mas...é o meu enteado! – disse, quasi sufocado, o “detectiveâ€.
(escrito em 30 de Outubro de 2007)
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