Era não era o senhor do camião o seu pai? A inegável boleia para a vida de ITT. Consideravelmente suposto era encará-lo pai. Advém imediatamente a esguichada de uma frase da vida, dita na rua das flores, postas em cada varanda, na hera que por costume era sobreposta às portadas da infância, isto é, nas casernas em que os catraios escapavam dos furos das balas, era o quarteirão de Diogo.
Numa analepse, desprezando que o mafioso já possuÃa carta e que fugia à mãe esbofeteando através das suas costas largas o freguês que penetrava fundo naquele beco, aparvalhado, babado, besuntado, inflamado, infestado, cremado, feito em cinzas do apodrecimento, retrocedemos aos seus 4 anos.
Subindo devagar, espreitando sobre a mesa, plano a plano, tábua a tábua, como se fosse deste cosmos conquistar a barriga e os seios deleitosos dedilhando suavemente de uma galdéria de categoria, e como se Deus tivesse estalado os dedos e criado Tudo e eu não tivesse dito isso no inÃcio num amanho equiparado, desmaia-se a infância, nos tempos em que dera serventia nas minas, demolindo minério sobre minério, deglutindo a sopa dos pobres, o chocalho que eram os trocos repartidos nas gadanhas calejadas, na fachada das caras rosadas e das peles pálidas, na depressão das covas e das grutas, no covil do povo, no estoma de uma Harpia, nas boinas e nas cartadas.
Na entremeada das cavernas, das rampas içadas pela força humana, arrostara os primeiros vestÃgios de culteranismo, numa afinidade comovedora, cÃclica. Ninguém imaginaria que o outro menino iria morrer num balanço de trotineta, nem que escaparia ao penhasco das minas, de tanto brincar e saltar e gritar e sorrir e rir e de escapulir-se e arranhar-se e de se desintegrar em triliões de partÃculas atómicas, engrenadas aos milhões em cada proletário numa exposição radioactiva contaminante de gáudio.
Era um menino de camisa branca com riscas carminas sobrepostas, de calças arregaçadas na ponta das pernas, esquivando-se à água entornada dos baldes para escavar espontaneamente o resguardo do mineral.
ITT aprendia o remanescente ao ofÃcio citadino. O procedente das ruas em que não chovia esmola, ouvia de outros meninos que de bata iam a jardins infantis, o doce tempero de um caldo de uniformes concernentes a colegiais ou a universitários. Revivia algazarras de quotidianos que espezinhavam o seu que descai na pancada grosseira.
Em certo dia enleou a palavra transacção, que assentou que nem um acorde, escorando em toda a conversação vindoura que enfrascasse negócio sujo o vocábulo ilusionista na sua lÃngua chapeada de serpente, asseverando que tal termo serve de fralda e que alisa a manutenção do saneamento da Máfia. Se bem que no momento de o menino de faces rosadas e amigo, apelidado de Rui, lhe espalhar tal risca do dicionário, nada informe ou tirano ou do ramo da economia baleasse ITT, estando à vista que a Máfia, encardida, sanguinolenta, fedendo defuntos e braços decepados, goelas ressequidas do sangue escorrido, nada disso retrata e procura as frases que a tanto me referi, decentes q.b. para se conterem nos ensinamentos da Lei de Deus e da Savana.
Ora vai e vem braçadeira, baldes amarrados por cabos de aço, acima e abaixo, passando a requerimento e suspiro, picareta carcomida pelo caruncho fictÃcio, e a tal trotineta do Rui. A falésia a sugá-lo, chupando-o atrozmente, degolando-o nas entranhas dos carrapatos, abissais diante humanos consumidos. No dia seguinte, posteriormente aos trovões impelirem as nuvens e a ITT afincar a sua imaginação na reprodução de uma cidade que não era capaz de conceber sem a descrição de Rui e que ficava à nora num precipÃcio que a tornava fantasma, identicamente à ideia que tinha do seu amigo, que pelos boatos, ficara em água molhada, em cima de brita, extravasando o vinho da criação, coberto pela chuvada e lama, perdendo a expressão analogamente a quem perde um broche no mato, tendo que de botão a botão se fecha o casaco, e nunca mais a recuperaria, nem quando ITT tinha esperança de o rever na manhã seguinte e de que o nome que memorizara na semana passada fosse do mais dito neste planeta, ‘boato’. Não tencionara perder o seu amigo que além do descrito vestia um casaco de rebordos de lã, comparado ao dos alentejanos.
E no local da morte, ainda pisando a vala deformada pelo embate do corpo e da trotineta, chorava tenuemente, de mãos na face, badalando um choro pesaroso que lhe causava uma ardente cefalalgia, que incandescia no cascalho maculado e o tempo abrandava, despindo o casaco e a camisa, discorrendo o seu tronco, o fÃsico musculado de menino de 6 anos trabalhador, um carácter de adulto nunca antes visto, nem em circo algum, nem em livro do Guinness, nem em lenda alguma, nem o quer que seja confiante o suficiente para gritar perante Zeus e suportar aquela dor, aquela solidão.
Na brandura das fadas, na coloração dos desenhos animados, no encaixe dos “legosâ€, vociferava incansavelmente, espojando-se por fim, contra o fóssil da eterna companhia que jamais esqueceria… e rememorava os momentos de felicidade extrema, o sorriso do amigo, as caretas, os brinquedos que lhe mostrara e que tocara, que nunca antes vira, a lealdade, o grisalho do sorriso que transformava aquele amontoado de merda que se dilatava pelo fosso abaixo num parque infantil com balancé e escorrega… escorrendo-lhe lágrimas assombrosas, sombreando-lhe o sofrimento num silêncio amargo, ácido, minado…
De volta à mãe e à casta da sua carreira… ITT penetrava no seu veÃculo que lhe evocava uma trotineta, afastando-se da viela, conforme a estatura da diástole e sÃstole do cliente… denegrindo o reflexo de Rui no vidro ao coçar o baço. Uma fagulha final chorada em memória deles, “Rui, ruÃ, perdi… não chores... estou contigo...â€, disse, bafejando o que tinha limpado.