marcopintoc
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« em: Agosto 11, 2008, 23:10:45 » |
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Um chapéu preto é um “hacker “ com fins maldosos. “Hacker “, pirata informático , o “freak” dos computadores , o esquizóide.. Um chapéu negro não terá qualquer pudor em desmantelar a vida alheia. Incluindo a tua conta bancária. Sim, a tua conta está “online”. De facto , a cada “tera” que a rede cresce , é possível saber cada vez mais sobre ti.Cada toque que dás com o carro , cada conta que te atrasas a pagar , aquela antiga colega de liceu que tentaste contactar, procuraste comprar viagra online , olhaste para as fotos de homens de sexo enorme e gostaste. Tudo está lá , na rede. O meu nome é Random e pertenço à elite dos chapéus negros. Existo na rede com o intuito de ficar mais rico ou, simplesmente , propagar o mal. Sabes porquê me chamam Random ? Porque sou aleatório, não tenho método fixo de agir. O objectivo é sempre o mesmo mas os caminhos variam. Uns dias vasculho, embrenhado numa formação de “denial of service” e intrusão de força bruta ,as “firewalls” que protegem os depósitos de uma instituição bancária: No dia seguinte violo, sem grande dificuldade, o imaculado Mac branquinho de um casal reformado e ,sem sequer pestanejar ,as poupanças da vida deles tornam-se minhas. Click , Click. Está feito. O esquizóide de óculos grossos e aparência inofensiva que era ,permanentemente, gozado no corredores do liceu não é alguém apenas inteligente e estranho. Pelo contrário. Raramente mato moscas mas aprecio induzir sofrimento aos humanos . Orgulho-me de já ter feito, através das minhas acções no mundo da rede, muitas vidas despenharem-se de um andar alto. Outras preferiram venenos. Houve um que me deu particular glória e buscas pelo handle no Google. Conto-vos agora esse episódio. Há uns “scripts” a correr, disponho de alguns momentos; nos monitores milhares de linhas de código escritas com toda a ganância e arte da linguagem cê fazem o seu dever. Falava-vos do suicida que me deu particular gosto. O seu nome era Henrique Calixto, tinha cerca de trinta e dois anos e trabalhava em seguros. Foi a sua actividade que me chamou a atenção. O seu regime de teletrabalhador e a sua oculta obsessão por pornografia eram uma mistura perigosa para a segurança do seu sistema. Foi por aí que entrei ,pela paranóia . Um dia cheguei misturado entre os pacotes de um vídeo orgia “teen” e tornei-me , sem qualquer percepção por parte de Henrique , uma parte integrante do seu sistema. Um mal de raiz. Um “root kit” que expôs aquele homem perante mim. Obviamente que não foi a adição porno que me interessou, se fosse perseguir todos os masturbadores virtuais não me chegaria a largura de banda de todo o bairro onde vivo. O que me interessou foram os seguros. Calixto trabalhava num ramo no qual tenho particular interesse; o automóvel . O esquema é simples e bastante bem remunerado. Existe um homem, conheço-o apenas pelo nome de Agente , que tem peculiar interesse nas listagens de veículos topo de gama que são registados pelas companhias de seguros. Henrique Calixto tinha um nível de acesso à fronteira da informação que buscava. Ele foi só um meio. As consultas voyeurs às bases de dados foram obra minha. Alguns dias depois, sentado na pastelaria Versalhes, deslizei por cima da mesa as folhas impressas. O Agente é um bocado retrógrado e quer tudo em papel. O tipo pegou na lista, folheou as páginas e do bolso interior do casaco um envelope gratificou a minha investigação. Notei junto ao sovaco esquerdo o brilho do marfim e do metal. Em seguida terminou o chá e desejou-me boa tarde. Foram as únicas palavras que trocamos. Quarenta e oito horas após o nosso encontro na vida real recebi do Agente uma chamada, num número Skype que possuo no Japão. Queria mais informações sobre um determinado tipo que, nos últimos dois meses, havia despendido pequenas fortunas em apólices a dois modelos de elevada cilindrada e preço chorudo. Cometi o pequeno erro de perguntar o motivo. A resposta foi cortante: - O porquê são dez mil euros. Tanto quanto vale mandar um gajo acabar-te com as perguntas. Voltei algo assustado à minha ponte de comando. Rodeado da paisagem estéril do ambiente em modo de comando senti-me protegido. Voltei ao computador de Henrique Calixto. Porém algo havia mudado. A máquina tinha sido formatada. Todo o meu trabalho prévio destruído. A minha raiva a Calixto cresceu perante a ideia dos nove milímetros que haviam ficado a flutuar na conversa do Agente. Apenas queria fazer o meu trabalho e o maldito onanista , teclador de uma mão só , havia provavelmente infectado o PC com um “malware” desses que proliferam nos sites do putedo. Nesse momento o chapéu negro caiu sobre a minha cabeça e a desgraça e miséria de Henrique Calixto foram decretadas. Recorri ao conselho de Rax_Putin, um velho lobo da comunidade, líder incontestado da escol russa, os AnarK_Baku , um bando talentoso que reúne grandes quantias e devassa a vida dos mais poderosos. O mestre foi generoso e num movimento de grande destreza camuflou uma prostituta Web que violava claramente o conceito de maioridade num chat MSN dirigido ao computador de Henrique Calixto. O logro era perfeito, para a prostituta o cartão de crédito de Henrique Calixto validava quinze minutos de obscenidade; para o homem da seguradora tratava-se de uma admiradora do seu perfil idiota em calção de banho no Hi5 que o contactava por mensagem instantânea. Observei em silencio a arte do grande “hacker”.A ligação de “webcam “abriu um imenso corredor de portas UDP que usei em direcção ao “kernel “ do sistema operativo. Uns minutos mais tarde no meu “headset” a voz rouca de vodka de Rax_Putin gracejou: - Big Shit Bolshoi - o acto de prazer virtual decorria já próximo da nudez de ambos os participantes . A minha captação de vídeo iniciou-se. Quando a prostituta menor recorreu aos brinquedos para enorme deleite de Henrique “Mãozinhas “ Calixto a informação que pretendia sobre o ricaço dos automóveis foi adquirida. Mudei de tarefa mas deixei a gravação vídeo a rolar. No dia seguinte visualizei e editei o “avi” até ao momento em que a cadeira vazia indicava que Henrique se tinha ido limpar. Então desferi o ataque à integridade do homem que me havia causado um atraso na entrega de material a um cliente. Escolhi o momento a partir do calendário de Henrique Calixto. Para meu contentamento descobri a apresentação de resultados por parte do director da unidade de negócio onde Henrique Calixto desempenhava funções agendada para dentro de dois dias. No e-mail da minha vítima encontrei rapidamente o nome do seu chefe. Do nome cheguei ao nome de utilizador. Esse utilizador permitiu-me “sniffar” a rede e encontrar o lindo portátil Toshiba Tecra A9 do chefe de Calixto,Rogério Samora para os registos , e plantar umas ervas daninhas na apresentação “Powerpoint” na qual o indivíduo trabalhava tão afincadamente. O nome do ficheiro era óbvio. “Resultados_2007_Apresentacao.ppt”. Recostei-me na cadeira, coloquei os meus óculos escuros à Neo e fiz uma pausa ao som de uns “loops” marados. Imaginei a cena. Construi código , o sistema agora era meu , o instrumento da minha vingança com dois gigas de memória que estavam sobre o meu total controle. A desgraça foi decretada em código irresversivel para o evento. Quando todos estivessem a ver.Dois dias depois , aconteceu. No seu fatinho cinzento de saldos C&A, Henrique Calixto é apenas mais uma cabeça no grande auditório apinhado. Uma imensa vara de pequenos suínos corporativos que grunhem esperanças de bónus para a mesa da presidência onde a “Board” se perfila. O Ermenegildo Zegna de três mil euros dirige-se ao púlpito e inicia a dissertação com suporte multimédia. O baque na assistência foi estrondoso. O meu domínio sobre o sistema do orador fez com que fossem infrutíferas as tentativas de cancelamento do terceiro slide da apresentação. Em vez do gráfico do desempenho bolsista da companhia o enorme painel de projecção apresentava, em vídeo embutido, o devaneio asiático de Henrique Calixto com a imberbe flor de Lotus de sua desgraça. O colapso da vida de Henrique Calixto foi acelerado pela difusão da peça comprometedora para a sua lista de endereços electrónicos, onde se incluíam a futura esposa e o tio Bonifácio, moderador de um fórum sobre caminhadas de terceira idade. O “Youtube” globalizou a disseminação do escândalo. Pensei que, nessa altura, a minha missão estava terminada. Mas enganei-me. Cerca de uma semana depois, quando apagava os últimos rastos da minha intrusão, notei que o “blog” de Henrique Calixto havia sido actualizado com ameaças de suicídio. Como acontece à grande maioria destes diários digitais ninguém havia lido as odes ao tiro nos cornos. Excepto eu. Algo de instintivo fez com que não suprimisse a minha caixa de ferramentas. Os “posts” persistiram, houve “mails” de adeus guardados na pasta de rascunhos, buscas cada vez mais frequentes sobre a metodologia da última viagem. Senti que estava próximo. Tornei-me ainda mais atento. Uma noite de Sábado fui recompensado. A câmara Web que operava em perfeito anonimato registou, com grande detalhe, o acto que foi cometido à secretária. A introdução do cano na boca , o afago do metal ao céu da mesma e a tampa craniana a saltar num “plop” . Infelizmente não consegui activar a gravação áudio a tempo. Afadiguei-me a propagar o vídeo do suicídio. Editei-o para, nos últimos frames, introduzir o meu “tag”. Uma cortesia de Random. Houve mais de onze milhões de “downloads” .O público adorou. Tornei-me um culto no mundo do “Web gore”. A informação que o Agente pretendia foi compensada, uns dias depois, pela transferência bancária. Mal e “Cash”. São eles o meu negócio.
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