simetrias
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Om Mani Padme Hum
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« em: Setembro 24, 2008, 13:43:09 » |
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Esperava agora que a tinta secasse no papel couché que escolhera para o efeito. Há que ser dramático, pensou. A última missiva teria que ser dramática, de efeito estrondoso e imprevisÃvel.
Dobrou cuidadosamente a folha única em três partes, como manda o manifesto, e recolheu-a ao envelope, também couché, onde apenas deixara um anónimo e aparentemente desinteressado "A quem interessar...".
Ao afastar-se da cena, olhou uma última vez para o seu escritório, agora convertido em cenário de um drama da vida real, tão ao jeito do gosto da sua disfuncional famÃlia. E da imprensa, já agora. A iluminação perfeita. O tom quente e sóbrio da madeira escura. A pele da sua poltrona imaculadamente polida. O envelope milimetricamente centrado na secretária de mogno. Tudo no deu devido lugar.
Saiu à rua, pela última vez. Não fez por não ser notado, tantas eram as cameras de vigilância do bairro onde habitava. Não tinha modo de as evitar. Optou por fazer tudo às claras. Com a calma que lhe era conhecida, conduziu o automóvel topo de gama, adequado a alguém na sua posição e deslizou pelas ruas da cidade que o vira crescer e na qual se estabeleceu, já em adulto, como homem de negócios proeminente, Todos o conheciam e ele não queria conhecer ninguém.
Os minutos passavam enquanto não chegava ao seu destino. De vez em quando deitava um olho ao relógio. Não queria chegar atrasado e, naquele dia em particular, não se podia dar ao luxo de encontrar obras ou acidentes de viação, tão comuns, afinal.
A estrada fugia-lhe debaixo dos pneus, num ritmo morno quase dormente. Teve que se esforçar para se manter acordado. Ligou o rádio mas nada que ouvisse o tirava do marasmo a que se acometera nos últimos minutos.
Finalmente, o seu destino estava à sua frente. Avançou despreocupadamente e cumprimentou o segurança, que o deixou passar. Afinal era a sua empresa. Desceu até ao piso onde habitualmente estacionava o automóvel e parou. Tirou o cinto, mas não saiu do carro. Debruçado sobre o volante, rezou uma vez mais. Depois, carregou no botão que trazia no assento ao lado enquanto proferia pela última vez "Insha'Allah"...
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