Ah, o tempo, a vida, as ciladas.

[Vóny Ferreira]

Devasto a minha memória, aqui… como se estivesse no jardim, a podar as pequenas plantas que se ajoelham junto do tempo numa suplica moribunda.
Para que segures as noites geladas nas tuas mãos quentes e as lances juntamente com os meus lamentos ao vento, como se fossem estrelas mortas que se diluíram no meu cansaço.
Ah… o tempo, o tempo… que nem sempre mata o contratempo!
O tempo confundiu-se numa amnésia doentia, tornou-se atempado , clausurou-se num pequena cela bolorenta, que introduzi na minha mente. E indefinidamente dói-me… castra-me…
flamejantemente,
doentiamente,
numa tortura incompreensível!
É como se viesse nos olhos de uma cobra venenosa que se arrasta no deserto, indiferente aos ventos  ciclónicos que estilhaçam os vidros da minha alma.
- Haverá remendo para uma alma ferida? Pensos rápidos?
Porque será a dor invisível se é penetrável o desespero da sua expressão?

Ah, o tempo, a vida, as ciladas.

O obscurecimentos dos actos impensados, irremediáveis, e depois…
As silvas, as pedras, os montes íngremes e agrestes, o cansaço… o cansaço…

Quem me dera saber  abrir os diques aos  rios estáticos que congelaram nos meus olhos,
que te vislumbram agora num carpido de neblinas que se adensam cada vez mais, como se no coração permanecesse ainda a faca da tua traição.
Não… não é falta de vontade! É mais incapacidade, acredita!
Eu quero…
quero sorrir deste choro.
Não ferir-me quando riu.
Não falar quando silencio.
Quero, quero, colher glicínias nos muros altos, as rosas secas pelo Outono. Trazê-las num molho colorido, silvestre, que te mostrem os resíduos do vento.
Ah, a memória… a memória…!
Ah, o tempo, a vida, as ciladas!

VÓNY FERREIRA

[Goreti Dias]

Sorrir do choro é quantas vezes a única maneira de sorrir...
Um bom texto, boa organização de ideias, bom discurso.
Bj

[Vóny Ferreira]

Olá Goreti.
Obrigada pela leitura e pelo comentário-
Beijinho
Vóny Ferreira

[Alice Duarte]

O tempo e a vida trazem-nos o bem e o mal. As ciladas... evitá-las ou ultrapassá-las. Um excelente texto.

Beijinho