O TAMANHO DA CRISE

[josé antonio]

Tolentino, de seu nome de baptismo, com nada de tolo mas de pura birra entre o pai e o padrinho, igualmente Tolentino, dono duma abastada mercearia, terras de cultivo, vinhas, lagares, tractores modernos, impusera-lhe o nome porque tinha força para tal junto dos pais. Os favores do dinheiro, quando necessitados. Coitados. Tolentino, foi crescendo, crescendo, passou por um seminário mandado pela mulher do padrinho Tolentino, portanto, sua madrinha, muito chegada do padre que presidia à direcção. Por esse facto ficou mais letrado, nem por isso inteligente, que os seus dois irmãos. O Berto marítimo, sempre gritando -  mar à  vista! - porque gritava sempre de terra! - e o Tónio trambolhão - dado a quedas constantes provocadas, para se equilibrar nos ombros das miúdas vizinhas mais giras.
Tolentino está nos seus setenta e tais e há duas semanas atrás cismou com a crise de que tanto se fala. Todos falam mas ninguém sabe o tamanho exacto dela. Essa é que é essa. E se rápido pensou no problema mais rápidamente arranjou solução.
Pegou dos jornais e revistas que lera nas vésperas e num caderno quadriculado do neto na primária. Apontou todos os números relativos aos " encaixes", aos "reforços", aos " subsídios" e depois aos "défices", aos tudo isso que tivesse muitos zeros à direita.
Preenchida uma página completa, de alto a baixo, com cada algarismo na sua casota, nada mais fácil para medir a crise que contar as casotas preenchidas por cada número e recorrer à notícia para descobrir o destinatário!
E quando já prestes a dar o grito da descoberta, lembrou-se que não podia medir a distância entre o 1 e o 9, apenas o combóio de zeros à sua direita.
E foi-se deitar com a crisa na cabeça, sem conseguir apurar o seu tamanho...

[josé antonio]

Boa noite Conceição,
Vou-lhe confidenciar um segredo: iniciei a minha carreira profissional como contabilista e mudei de rumo, quando concluí que por muito criativo que fosse, não poderia trocar o deve com o haver, o activo com passivo, a situação líquida activa com situação líquida passiva e por aí fora, sob risco eminente de ir passar férias em Custóias.
Abraço.

[josé antonio]

Conceição,

Está-se mesmo a ver: estamos em "estabelecimentos" diferentes!

[Goreti Dias]

Pois... Tires e Custóias... Eu, cá por mim, prefiro Custóias!

[josé antonio]

E com vista para a feira, aos sábados...

[Goreti Dias]

E melhor companhia!

[josé antonio]

CAROS AMIGOS,
AGORA A SÉRIO, A COISA ESTÁ NEGRA E POR VIAS DISSO EU JÁ INICIEI A REDACÇÃO DO ORÇAMENTO RECTIFICATIVO, ON-LINE, QUE ENVIAREI AO PM CONFORME O MESMO ME SOLICITAR... PORQUE NÃO? É MEIO CAMINHO ANDADO E  NÃO ME CUSTA ABSOLUTAMENTE NADA... APENAS UMA REFORMA CHORUDA E VITALÍCIA. AQUILO É VAI SER ESCREVER, PESSOAL...  

[Goreti Dias]

Assim até eu escrevo e faço orçamentos rectificativos...

[josé antonio]

E os truques?
O malabarismo?
A travessia sem rede visível?

Pois, pois, Dona Escritora...

Por isso o país está encravado ali para S. Bento, está a ver a farmácia, nada tem a ver, siga sempre em frente, Goreti...

[josé antonio]

Decidam-se isto já parece a AR, amigas!

[Nina Araujo]

Belo texto! Com a qualidade e o humor sutil do amigo Contabilista jose antonio! Sabes que por aqui a crise nao vem... disse o nosso presidente!hahahahahahaha

[josé antonio]

Boa noite Nina,

Graças ao Garcia! Não?