Antonio
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« em: Outubro 12, 2007, 11:59:58 » |
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Ano lectivo 1960/61. Liceu de Alexandre Herculano, no Porto. Turma B do 2º ano. No intervalo que precedeu uma aula de português, o Bolinhas, alcunha pela qual era conhecido um dos colegas (hoje, psiquiatra e poeta) devido ao seu porte anafado, teve um problema intestinal mesmo, mesmo quando estava a tocar para a entrada. O pobre do rapaz tinha de decidir rapidamente correr para uma casa de banho e chegar atrasado à aula o que, dada a severidade que reinava nas escolas daquele tempo, lhe acarretaria uma falta e alguns dissabores, ou aguentar. O facto é que não aguentou! Mas, mesmo todo borrado, estoicamente foi assistir à aula. Ao contrário do que se poderia pensar, não houve grande alastramento de cheiro. Mas o desgraçado do Pinduca, o colega que estava atrás dele (hoje engenheiro e presidente de uma importante Câmara Municipal) é que se sentiu fortemente afectado. E não deixou de o dizer várias vezes ao professor Cruz Lopes: - Sr. Doutor. Aqui cheira muito mal! - Sr. Doutor. Este menino cheira mal! (reparem que naquele tempo não havia Setôr nem meio Setôr) Mas recebia invariavelmente a resposta: - Cale-se, e preste atenção à aula! O fedor devia ser imenso pois a cara do Pinduca metia dó, apesar de tentar afastar o cheirete com a mão a funcionar como um leque. E o Bolinhas, mais vermelho do que nunca, caladinho. E a aula terminou, 50 minutos depois, ao toque da campaÃnha. Seguia-se a aula de francês com uma senhora já velhota, a Dr.ª Florisa Costa. Começa a aula e pasme-se, o Bolinhas estava exactamente na mesma. Só que ainda mais vermelho pois no intervalo tinha sido bem "cheirado" e bem "gozado" pela malta. Talvez por isso nem tenha tido o discernimento de resolver o problema. E no Francês, o Pinduca continuou: - Sr.ª. Doutora. Aqui cheira muito mal! - Sr.ª. Doutora. Este menino cheira mal! Mas, talvez porque agora o odor estivesse mais disseminado, ao fim de alguns minutos a professora aproximou-se dos dois. Fez uma careta e perguntou o que se tinha passado. Foi o Pinduca, já um bocado amarelo, quem lhe explicou a situação. E a Dr.ª Florisa lá disse ao Bolinhas para se ir lavar, tendo tido o cuidado maternal de chamar um contÃnuo para dar uma ajuda ao moço. A aula continuou, naturalmente, mas o Pinduca só na hora seguinte voltaria à sua cara normal. Ao fim de uns 15 ou 20 minutos, lá entrou o Bolinhas com as cuecas embrulhadas em papel de jornal que colocou junto aos pés. Não sei se tinham sido lavadas ou perfumadas, mas o Pinduca não se queixou mais. Juro que esta história é rigorosamente verÃdica, com alcunhas e tudo. Eu, que gosto de meditar nas coisas, ainda hoje me pergunto se não terá sido este episódio quem deu o "empurrão" ao Bolinhas para a Psiquiatria!
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