Vocações

[Antonio]

Um dos meus dramas pessoais, uma das minhas angústias existenciais é nunca ter descoberto em mim nenhuma vocação especial.
Tenho jeito para isto e para aquilo, mas não sou verdadeiramente bom em coisa nenhuma.
Costumo dizer, meio a sério e meio a brincar (se calhar bem mais a sério que a brincar) que sou engenheiro por formação mas não por vocação.
E ao fim de mais de meio século de vida continuo sem saber exactamente o que gostaria de ser ou fazer.
E tenho a certeza que a maior parte das pessoas estão como eu. Isto vai-se ultrapassando com o trabalho, o estudo, o exercitar dos vários leves talentos que se possui para uma ou outras actividades mas, no fundo, bem no fundo, acho que tenho uma tremenda inveja dos que nasceram com um dom, um gift, uma dádiva.
Os que tem a vocação da escrita, das artes plásticas, da música, da representação, da dança, das matemáticas, da investigação, da destreza manual, da prática desportiva, da oratória, da argúcia argumentativa, da culinária, da inventiva, do humor, da sedução, da religiosidade, da solidariedade, da cirurgia, enfim de muitas outras coisas, inclusive o talento de não gostar de fazer nada e saber viver de expedientes, não sabem a sorte que tem.
Quasi desde a infância que tem o caminho traçado. Basta uma boa dose de dedicação àquilo para que foram fadados. Muito trabalho, também, se quiserem atingir o cume da montanha, mas sabem por onde ir.
Os outros, como eu, andamos perdidos, muitas vezes até à morte, sem sabermos nunca qual o trilho que deveríamos ter seguido ou em que actividade nos sentiríamos realizados pois, no fundo, nunca nos sentimos completamente bem com aquilo que executamos. Há sempre outra coisa que gostaríamos de ter feito ou de fazer.
Apesar de tudo, ainda espero um dia vir a descobrir qual a minha vocação. É uma ilusão, não é? Mas deixem-me viver com ela, por favor!

[Goreti Dias]

Eu acredito na vocação e acredito que um dia descobrirás a tua... talvez não a tempo de te realizares nela... O conselho que te dou é que deixes de pensar no assunto. Descobrirás quando menos esperares, e talvez nem aprecies muito o facto.
Mas é um dom, talvez ainda maior, saber viver tentando ser bons naquilo que fazemos. Aí reside a verdadeira arte do ser humano.
Uma coisa é certa, pode a escrita não ser o teu dom, mas que o fazes muito bem, fazes!
Um abraço

[Antonio]

Obrigado às duas pelos comentários e elogios.
Sabem sempre bem!
Não me vou alongar muito na resposta (assim espero...) e referirei basicamente a parte inicial do comentário da Dite Apolinário.
Antes disso, um àparte.
Tive um colega, aqui no Porto, chamado Vicente Apolinário que penso ainda continua a trabalhar como engenheiro na EDP.
Por acaso não és familiar dele?
Mas vamos lá falar sobre os meus não-comentários:
A minha produção literária original (chamemos-lhe assim, pomposamente) vai sempre para o meu blog.
Aqui vou colocando alguns textos mais antigos (outros nem tanto) de que gosto e que se enquadram, a meu ver, em quatro dos tipos em que o Forum está subdividido.
Confesso que não costumo ler o que escrevem as outras pessoas: desde logo porque não gosto de ler (ou não tenho pachorra para o fazer) e sobretudo não gosto de poesia, salvo raras excepções. É uma actividade demasiado passiva. Já li bastante em tempos, mas agora...
Mas gosto de escrever!
Parece óbvio.
Tenho alguns blogs que costumo visitar mas livros em papel já não leio há três ou quatro anos. E leio jornais, pois claro!
Cada vez mais gosto da fazer aquilo que me apetece. Se não me dá gozo, não faço! (enfim...quando se pode!)
Depois, embora tenha deixado de trabalhar, defini para mim mesmo uma série de tarefas que me permitem ter o dia todo ocupado e constato mesmo que ele deveria ter mais umas horitas para fazer tudo o que quero.
Por isso, minha amiga Judite (penso que adivinhei), não vou prometer que irei ler os teus textos (até porque já são muitos os que por aqui estão). Mas vou tentar fazê-lo em relação a alguns, em função das minhas disponibilidades temporais. Sei bem que é muito agradável ver o nosso trabalho analisado e, sobretudo, valorizado.
E por aqui me fico!
Beijinhos para as duas

[Paulo Afonso]

Revejo-me em parte do texto. Também ando á procura de um dom e perco-me por aí...

Parabéns pelo texto

Abraço

[Antonio]

Já experimentaste ir procurar o D. Duarte Nuno?
Poderias encontrar nele (salvo seja) um Dom.
Também há o Dão...mas isso é outra coisa!

Abraço

[Paulo Afonso]

Esse Dom já não o apanho e o outro Dão também não é do meu género (prefiro o da costa alentejana) mas ainda assim, obrigado pelas dicas… vou continuar perdido.

Abraço