Confesso a minha maldade

[leonoreta]

Na escola primária, a partir do 2º ano, já circulam pelos alunos os bilhetinhos de amor. Quando vejo algum a atravessar a sala de lés a lés, passando de mão em mão – os cúmplices – tento apanhá-lo, muito sorrateiramente.

Há-os lindos, desde os mais perifrásticos até aos de pergunta americana com um quadradinho à frente para colocar uma cruz a dizer sim ou não à inevitável pergunta: queres namorar comigo?

Levo o bilhete para a sala de professores. mostro-o a todas as colegas. rimos, gracejamos numa festa ruidosa e alegre numa aprovação satisfeita: os afectos funcionam.

Apago os nomes do bilhete para não comprometer ninguém. Fotocopio-o e entrego-o  a todos os alunos da sala. Riem. À excepção do remetente e do destinatário que reconhecem o manuscrito mas que depressa percebem a minha discrição selada num segredo.

Lemos o texto. Corrigimos a ortografia. E já agora vemos qual a melhor pontuação a ser usada. Decoramos a folha com cúpidos de sorriso matreiro armados de arco e flecha e corações trespassados por setas a pingar gotas de sangue vermelho vivo de amores sofridos.

Trabalho a língua portuguesa e a expressão plástica a partir de experiências vivenciais dos alunos. Cumpro o programa educativo. Mas, sobretudo, estimulo a expressão de emoções e sentimentos que não devem ficar envergonhados em futuros adultos.

Confesso a minha maldade.


Leonoreta

[Inês]

Que menina danada hein Leonoreta, mas olha querida,
brincar de amor não é pecado, ao contrário,
é ensaiar o amor com alegria e energia.
Por isso te aplaudo os versos bem humorados.
Um beijo.

[Goreti Dias]

Aí está a criatividade de todos... e bem aproveitada!
Aplaudo!
Um beijo

[leonoreta]

inês e goreti
obrigado. adoro que me leiam. confesso a minha presunção.
fora de brincadeiras. tenho lido alguns textos, ao acaso, e penso que é de louvar a criatividade de todos os que participam neste site.
beijinhos ás duas

[Marília]

gostei de saber do seu trabalho com expressão plástica e da sua maldade não maldade propriamente dita. Um abraço!