vitor
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Olá amigos.
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« em: Dezembro 17, 2008, 17:45:02 » |
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Agora tu, na esmola de mais um silêncio, como quem se despoja nos dias um meticuloso esbanjamento de tempo, diante retóricas evasivas aninhar a alma, agora tu, como sempre serias, tu, como se contigo tudo se plantasse e novamente a euforia levasse a átrios descobertos, um clima de céu aberto a deglutir os instantes de nuvens subfretadas ao delicioso chuvisco, contigo, nesta esplanada de jardim do delÃrio, de charcos frios e ventos sem rumo, ou sem destino, desenfreados os dois, e como gostaria eu de extravasar aos rebuliços este sangue no ventre, este desapossado sentimento de estar aqui, como eu, inventando cadeiras soltas e nelas saltar como um vagabundo a solta e arreliar o vendedor de cafés a um preço chorudo. Casais presos ao relento fazem-me vê-los, agitam-se bruscamente molhados de saudades, como eu, sem saudades de coisa alguma apenas me misturo, por não ter saudades, sim, a minha vida legionária vem vazia de conceitos e definições, penso como os pés descalços a arrastarem-se pela calçada deteriorada, num rebuliço de estirpes vagas a aguçarem-me o frio que me veste o olhar, nestas paisagens urbanas de cidade antiga ainda, pela praça do comercio e engolir distantes os navios suburbanos como velhos cacilheiros, - ah, esse vaivém nauseabundo que se esfrega pela água turva do rio Tejo à s vezes deixa-me na pele um arrepio nervoso, entre o lugar onde estou e o Cristo-Rei, - lá vem ou lá vai, levando ou trazendo consigo o tempo que as almas agasalhadas desfrutam esmerados de ânsias e raivas. E sob este tecto ensolarado jaz a petulância oca dos meus psicológicos desejos, aguados num temperamento precoce e lento, de ravinas adormecidas o horizonte a aproximar-se pelas paredes brancas do meu templo imaginado, frio e desolado, enfatizado em mim, crispam-me com os olhos redondos as matérias inertes do meu corpo. Almagras magras de uma distância gorda despenha-se vertiginosamente por este despertar vagaroso, com a lentidão submissa dos instantes provavelmente reais, de escritos obtusos e rasgados na tela branca da alucinação, o volume molhado nesta argamassa nua, de cheiros pendulares numa impedância pendente nos varões despidos da rua dos arcos, dos acres jardins, sem folhagem, pelugem, vertigem, e quem sabe o vento ali esteja entrincheirado no estrebuchar atento das alquimias? Assim jaz, opulento crepúsculo o refrão repetitivo deste piano solitário de volumes egocêntricos, na impedância voraz e pendente do seu som que plana intocável por todas as orlas da sala, que, sem me aperceber sequer, sou-o na subtil e aparente existência, como se ambos existÃssemos na sua iniquidade desnecessária, nos seus reflexos ainda obtusos do metal rarefeito de versos sem rima, deglutir neles a passageira sensação de halo vazio, de alma dÃspar, desgrenhando-se no sibilante vazio real e aparente de mãos que me prometem, defecam, inalam também, proscrito filho de mim mesmo nesta heresia funesta de quantos sons me aniquilam, os olhos nus escutam dos seus lábios palavras em poesia rasurada, deslocada, avarenta. E quando me acredito nelas, logo desperto deste hibernar atónito, deste vão fundo para onde despejo os meus delÃrios. Bebo desenfreadamente resquÃcios quentes neste bar de esquina, ao fundo a noite longa já, tarde e é tarde que ficam melhor coisas destas, perder a razão perante mim mesmo com simples mergulhos em imensos cálices. A jorrar sobre si os meus tormentos de histórias funestas, mostro-lhe como tenho dedos, trémulos de vazio, magros em mais esta solidão absorvendo-me embriagado e distante do que alcançam os olhos, e no horizonte focalizo o delÃrio metálico destas mesas de bar de ferro fundido, como se nelas existisse o cais para umas breves lágrimas, o gotejar que acompanha o ritmo de cada soluço, sobre a mesa, de uÃsque entornado, de vÃsceras ali coladas, o sepulcro vago de anos e anos sem a tua mão, sem a tua voz nestas hostes comigo, onde porta sim, porta sim, mergulham como eu, diversos marinheiros da capa branca na pele, o enjoo nocturno de tantas viagens. O decote obtuso das suas falanges raras, testa com Ãcones belos e pelo ombro, a sombra clara do seu cabelo a badalos nus e sensuais, por cada passada, cada desvio pelos obstáculos sazonais do caminho, a calçada por onde caminha levando na sua alma o temperamento da esperança, voos de busca recÃproca, o tacão alto e a pele seca do cabedal castanho a moldar-lhe os pés, resiste ao atrito do chão, dos seus pés de anjo lúdico na escrivaninha distante do meu presságio, vejo imaginando como segue, como se atropela desenfreada de vontade e em mim o cheiro ainda refrescado e doce das palavras perdidas pela noite a fundo, largado de beijos e sono num enroscar frenético pelo seu amor, o tambor interior do meu esófago rosna sobre a cama, o intervalo deixado pela sua partida e eu, quase consigo sem me despir deste lugar onde se observam as histórias que a nossa carne constrói.
Sinto na pele olhos de forasteiro, sabes, uma impressão amarga que se alonga como o arrastar a vento, levado pelas estradas do momento, o olhar difuso nele, este limiar tridente de gestos por onde as eclusas se fecham num repente, sabes, num frio cintilante, na iluminação obstipada dos candeeiros do fim de dia, ou como brócolos oxidados e excluÃdos, num silêncio de cristal. Extravagante silêncio nos limites da vontade, pedir ao corpo um êxtase vago que refute a verdade, a clemência à vida e seguir, sabes, seguir, como se as ruas fizessem parte deste lugar de ninguém e é nele que aplano por longos decotes as bainhas da minha pele, com cáusticos gestos me movo e o descoso indecorosamente, rasgar sem impressão, com movimentos vindos da insónia, a vontade de me despir de mim e jogar-me sem pele aos compêndios meus de lugar nenhum, de ninguém, de nó travado na garganta, sentir a bem, descosida a pele, como me arrepiarão sobre mim estes sentimentos de ninguém, presenciar-me estanque no horizonte inócuo dos meus desejos. Estranhamente felizes os olhos arribam com o alvorecer, esta impressão na pele remonta a saudade, sabes, trás o que desvendo futilmente com o sol a espoliar-se calmo sobre o horizonte e com ele renasce a saudade do frio, o desejo de me embrulhar nas areias vandalizadas e rebuliços neste quintal da vida, como se nele eu nascesse a cada instante. Um sol por ventura eterno, recados de caminhos desvendados na dor etérea do silêncio, o sepulcro de cada voz no que opina desconhecendo o que sinto, sabes Pandora, como foi quem fui quando te disse quem queria, como era, como te nasci desenvolto das tumultuosas tempestades do meu quarto sem janelas, como caminhava quando aqui cheguei, sabes, havia um silêncio sem vozes e nunca inócuo, havia o marasmo dormente dos meus delÃrios livres e não sei quem era, quando aqui cheguei, vim na orla do recado da tua voz, no embrião solto do silêncio prometido, como quem busca a liberdade proibida, como quem se busca neste ofuscante mundo de delÃrios pardos, por isso aqui estou, entre ti e este lençol desventrado de noites sem murmúrios contigo, por isso, creio saberes como sempre te dizia, mais que a fantasia do real o real da fantasia, é nela certamente, o lugar ausente do presente, o luar moribundo dos meus cadafalsos sonos, do relento inebriado e fantástico lençol de flanela, sem o concavo vão do colchão, sem a corrente de ar falsa a tresmalhar-me o penteado, sabes Pandora, sabes que sei que sabes que o que dizes, não é como dizias quando te busquei, não, hoje durmo apenas e nesse sono, o pendular soletrar das minhas inconstâncias avulsas de capa preta, disfarce de vida, semblante vagabundo na alma atónita, eu, neste gradeado fumo de olhares que me buscam nas palavras ressarcidas pelo meu fundo de nós voluntários, esta casa abrange, sei, o destino discreto dos meus inconcretos devaneios e é nela, nela, sabes, que me guio estridente como um delÃrio me catapulta para dentro e dentro, um suave coice de ave de rapina das minhas próprias convicções, das minhas verdadeiras insipiências, o caudal bruto e desventrado do que na alma trago e não delineio em papel de merceeiro, papel manteiga onde embrulho o meu destino sem regras, sem leis, sem foices, nele, o recado incipiente e permanente de fugazes decisões, vorazes como me destinam os teus apelos de amor, os teus ressentimentos de gente com voz na alma do sono. Guio-me por uma lamparina ténue, através dela, penetram os meus olhos rasurados de vida e certeza, guio-me na certeza certa de tanta incerteza, como um mar de mergulhos ignóbeis este estrebuchar de nadador em sofrimento, como se soubesse eu nadar, como se soubesse eu contornar as intempéries enfadonhas dum mar no meu quarto, completamente sobre todas as incertezas do meu olhar, guiado apenas pela luz certa de uma lamparina sem carburante, ou certo o fim do percurso sem horizontes, o fim certo da noite numa lata de vento, numa lata de morte, de fim, de mim, sabes, de mim, a voz, ainda que no fundo dum túnel sem eco, ainda que no infinito de qualquer certeza, ainda que na margem de todos os limites, a minha voz gorada, colada ao peito com a coragem aos meus propósitos sem rumo, aÃ, creio que saibas, acredito que te tenha dito tantas vezes nas tantas vezes que falamos, tantas as vezes tudo foi dito com a mesma abertura sã de um silêncio desgarrado, desbravei de mim a mais sapiente dor e a mais concreta relutância sobre os meus dias, sabes, doei-me e findei-me por esse entretanto vulgar e voraz, por onde passei dias sobre a tábua do espectro, decorando de metais cintilantes o próximo destino perdido na alma. Quando não morro, sinto embargar comigo o navio que refutará até mim uma certeza cada vez mais minha, numa caminhada concêntrica nos limites do sorriso, sempre como viagens apenas, ritmos que me gelam e eu, na fila de segunda classe caminhando como ele entre tantos que como eu, apenas olham para os lados com a mesma intenção, ou sem alguma sequer, de palpite em palpite, o azul estridente da viagem alojado no tempo da viagem e eu, nela, viagem com destino concreto.
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