Todos os dias

[carlossoares]

Espelho interior de uma vaga
À solta se fosse livre
No escuro
Uma face com um ponteiro
Conta-quilómetros
Da grade invisível
Se não existisse
Um espinho
Uma luxúria normalizada
Se fosse normal
A morte anunciada
Sem animal
Uma máscara às moscas
De porcelana mole
Enquanto não quebrar
Voz de demónio
A sangrar pelo freio
Pêlos eriçados
Na noite do meio
Dos cães exaustos.

[Goreti Dias]

Temos um conta quilómetros visível na nossa face ou, pelo menos, no nosso olhar. Aí se podem ler, a cada dia, os espinhos acerados que nas bordas da vida vamos deixando que se espetem. De vez em quando, arrancamos alguns, mas ficam sempre as cicatrizes. O freio que nos marca a marcha nem sempre ajuda. Se a mão que o prende puxa demais para um dos lados do caminho, forçosamente nos esbarramos contra os cardos que o ladeiam. Melhor mesmo é sem freio. Pode-se correr até à exaustão, mas cai-se livre e sem ferimentos. E o vento que nos zune na corrida desenfreada não deixa ouvir essa voz de demónio.
As minhas desculpas pelo abuso de interpretação mas, a esta hora da manhã, sinceramente, só faço mesmo o que me apetece. E apeteceu-me comentar este texto... assim... Porque gostei do que escreveu. Muito!
Beijo

[carlossoares]

Goreti,

este poema presta-se a todo o tipo de interpretações e é assim que eu prefiro.
A sua leitura é como uma paráfrase, mas é mais do que isso: uma deliciosa e desinibida reflexão sobre a ambiguidade, reorganizando emoções.
Beijo

[CAMPISTA CABRAL]

O tempo e o caminho ou os descaminhos... Como disse muito bem Goreti, temos em nós a marcação desse tempo. Um tempo que parece invisível, mas não o é! E seguimos e avançamos, ora rápidos, ora lentos, prosseguimos. Mas a aventura não é mesmo essa?
Um grande abraço!

[josé antonio]

Carlos,
Não comento porque fui posto fora de jogo pela Goreti!
Abraço
José António

[Tere Tavares]

Carlos,
Empatei com o José Antonio!

[margarida]

Isso é no que dá ler de manhã cedo, Goretidias...
Mas a esta hora também gostei!

[carlossoares]

Campista ,
José António,
Tere
e
Margarida,

obrigado pela vossa presença e pela pertinácia dos comentários.
Abraços

[Dionísio Dinis]

Forte e imponente.Um fraseado que nos atravessa os sentidos.
Grato pela partilha.

[carlossoares]

Obrigado D. Dinis pela leitura e pelo comentário construtivo.
Abraço