Corpo cheio de nada

[gdec2001]

Corpo cheio de nada


Minha cabeça está cheia de ideias
tenho a cabeça quase a trasbordar
mas a porta é estreita
e elas são selvagens
não as posso ordenar
E assim se atropelam
-entalar-se-ão?-
E
não sai nenhuma.
E a minha cabeça
está a abarrotar.
Se me esforço muito
ainda morre alguma .
Ai, ai, ai
ainda morre alguma.
E a minha cabeça
quase a trasbordar.

Tenho os meus dedos
cheiinhos de imagens
imagens dos dedos
para apresentar
Mas os dedos tremem
como
falua no mar.
Imagem tremida
não posso mostrar.

Tenho os meus olhos
cheiinhos de cores
São cores dos olhos
para admirar.
Vieram as moscas
vieram voantes
comeram-me as cores
que
não posso exibir
não posso mostrar.

Tenho os meus ouvidos
cheiinhos de sons
-já se estava a ver-
Vieram-
me os fungos
viver nos ouvidos
que encheram
de sucos
sucos e fluidos
comeram os sons
que eu queria mostrar.

E tenho os meus dedos
-outra vez os dedos?
-estes
são dos pés
-ou serão das mãos
ou de todo o corpo?-
cheios
de tácteis
sensações
Vieram as dores
nas articulações
-não são um barato-
Esqueci todas as outras
sensações
Não posso mostrar-vos
as que são do tacto.

Tenho o corpo todo
cheiinho de ideias
cheiinho de imagens
cheiinho de cores
cheiinho de sons
cheiinho de tácteis
sensações
Mas como nada
eu posso mostrar
tenho o meu corpo
cheiinho de nada,
cheiinho
de
todas
as
imperfeições.

Ele é
um grande balão
cheiinho
de
imperfeição.

Geraldes de Carvalho

Ps :
O que é uma chatice
pois então.


OU NÃO ?
gdec

[Goreti Dias]

Não é chatice! Aos poucos, as ideias vão dando poemas assim. Muito bom!
Boas Festas!

[gdec2001]

Muito obrigado, minha amiga.
Boas Festas para si, também .
Geraldes

[Dionísio Dinis]

Ou não! Quando podemos fazer viver as palavras desta forma não há chatice que importune.

[gdec2001]

Por vezes perante uma grande chatice há uma grande paciência.
Obrigado amigos.
Abr.
geraldes

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Meu caro Geraldes!

Eu não havia lido esse poema! Ele trás a nós o pensar sobre o processo criativo e o nascimento da poesia.
Gostei imenso.

[gdec2001]

 Nem sabe, meu caro Oswaldo Rodrigues, como valorizou o poema o que dele pensou...
Abr.
geraldes