carlossoares
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« Responder #3 em: Novembro 09, 2020, 00:10:32 » |
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Goreti,
Estou de acordo. Um poeta não tem alternativa a ser um criador. Se reproduzir simplesmente o que disse, ou outros disseram, não é poeta, ainda que diga ou reproduza os versos mais poéticos.
Geraldes, o entusiasmo ou a distracção, muitas vezes, são a morte do artista, ou o azar do patego. Mas sem entusiasmo que é que vale a pena? Os poetas não gozam de grande reputação e isso vem de longe, do tempo dos socráticos e de Platão. Estes pensadores viveram um perÃodo muito complicado e trágico da história de Atenas. O pensamento deles, aliás, parece ter surgido como resposta aos problemas do tempo que viveram. O discurso poético e a retórica e a sofÃstica eram analisados por Sócrates como linguagens, quando muito opiniões e não como saberes. Sócrates estava convencido de que ninguém sabia nada mas, segundo o oráculo de Delfus, ele era o único sábio. Então, terá concluÃdo que era o único sábio porque só ele sabia que nada sabia. Os outros nem isto sabiam. Sócrates irritou muita gente com a alegação de que assim era, porque, como eles acreditavam, o oráculo não mentia. E a filosofia, assim, parece ter nascido, da necessidade de fundamentar até à irrefutabilidade as opiniões sob pena de elas não passarem de expressão de interesses, instintos, desejos, paixões, ilusões, frustrações... Mas Sócrates não acreditava que fosse possÃvel fundamentar nada até à irrefutabilidade, nem a sua ignorância, e aqui ele parecia brincar com a "infalibilidade" do oráculo a seu respeito. Platão recusou esta saÃda derrotista de Sócrates. A filosofia, e um sábio, tinham obrigação de dar mais do que uma resposta negativa, sobretudo numa situação histórica terrÃvel e violenta como a que viviam, e Platão deu uma resposta positiva. Em meu entender, os poetas podem estar considerados naquilo que foi e é a resposta platónica aos problemas sobre as armadilhas da palavra e os discursos em que podemos confiar.
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