EscritArtes
Maio 08, 2024, 10:07:57 *
Olá, Visitante. Por favor Entre ou Registe-se se ainda não for membro.

Entrar com nome de utilizador, password e duração da sessão
Notícias: Regulamento do site
http://www.escritartes.com/forum/index.php/topic,9145.0.html
 
  Início   Fórum   Ajuda Entrar Registe-se   *
Páginas: 1 ... 5 6 [7] 8 9 10   Ir para o fundo
  Imprimir  
Autor Tópico: O Esfaqueador da Régua  (Lida 65521 vezes)
0 Membros e 8 Visitantes estão a ver este tópico.
Goreti Dias
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 18616
Convidados: 999



WWW
« Responder #90 em: Dezembro 14, 2015, 09:45:40 »

Como diz o "outro": c´um camandro!
Registado

Goretidias

 Todos os textos registados no IGAC sob o número: 358/2009 e 4659/2010
Dionísio Dinis
Moderador Global
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Masculino
Mensagens: 9797
Convidados: 0



WWW
« Responder #91 em: Dezembro 14, 2015, 13:28:12 »

Eu diria mais: c´um catano!
Registado

Pensar amar-te, é ter o acto na palavra e o coração no corpo inteiro.
http://www.escritartes.com/forum/index.php
Nação Valente
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Mensagens: 1270
Convidados: 0


outono


« Responder #92 em: Dezembro 15, 2015, 19:56:15 »

Temos o caldo entornado

Temos o caldo entornado, pensou José Ferreira, quando viu aproximar-se aquela figura esguia, enfiada num fato castanho listrado. Aproximou-se de Silveira e disse:
-Está tudo pronto, mano velho; podemos partir.
-Certo Zé, vou só fazer as despedidas. Este, disse voltando-se para José Ferreira, para Maria e para Gaby, é o José F e Silva eira, (corruptela de Silveira) meu meio irmão e meu adjunto particular. Um homem da minha total confiança.
O apresentado fez um sorriso forçado, mais parecido com um esgar. Gaby sentiu um arrepio.
O Zé, continuou Silveira, está ao meu serviço desde muito novo. Somos filhos do mesmo pai…
Gaby pensou que já tinha visto aquela cara. Agora percebia por que lhe parecera o rosto de Silveira vagamente familiar. Os dois eram muito parecidos.
o nosso pai era o que se pode chamar um sedutor obcecado por mulheres e pelos seus prazeres. Ele foi digamos o último grande “moicano†do clã Silveira. A história desta família entronca em Mouzinho, no século XIX. Depois gerou-se um grupo de fidalgotes do liberalismo, novos ricos que subiram ao baronato. Mas como costuma acontecer a primeira geração amealhou, a segunda consolidou e terceira esbanjou. O nosso pai, Frederico Ferreira de Silveira, viveu o período da decadência. Boémio e bom vivant, não conseguiu acabar o curso de medicina…
Gaby reparou que o adjunto de Silveira tinha uma cicatriz no rosto, embora se encontrasse disfarçada por uma meia-barba. Ferreira que continuava mudo, parecia desejar que aquela cena terminasse.
Para ganhar a vida empregou-se num laboratório farmacêutico. Era delegado de propaganda médica e lembro-me que estava quase sempre ausente. Nas suas viagens, de terra em terra, começou a construir residências para pernoitar. Solteiras, solteironas, viúvas, descasadas eram o seu porto de abrigo. Não havia terra que visitasse entre Douro e Minho, com incursões à Galiza, onde não o esperasse um colo aconchegante…na Régua…em S.João da Pesqueira...
Gaby puxava pela memória. Onde teria visto o meio-irmão de Silveira?
…Em Celeirós pernoitava na casa da que viria a ser a mãe do Zé, uma viúva que o recebia com carinho. Tanto carinho deu no que deu…e lá nasceu mais um bastardo. O pai sempre os aceitou e deu-lhes até os seus apelidos. Não podia dar-lhes o apoio financeiro que desejavam, já que os seus parcos rendimentos não chegavam para socorrer tantas capelas. O Zé passou muitas dificuldades. Mas o pai fazia questão de os reunir todos na consoada. Numa delas contei doze, e creio que não estavam todos. A minha mãe, uma senhora profundamente religiosa tudo aceitava com resignação. Era uma santa. (benzeu-se) Que Deus a guarde. Quando a mãe do Zé morreu de sífilis, o pai trouxe-o para o Porto. Não queria que se transformasse num moinante e já estava nesse caminho. Arranjou-lhe trabalho no laboratório e ali começou a sua vida. Uma história que abreviei, e que dava um romance, mas que um dia te contarei, disse dirigindo-se a Gaby.
Gaby observou o rosto de Zé . Correspondia ao à imagem que tinha na memória, mas com os olhos desnudos e o cabelo descoberto e acamado com gel. Não havia dúvidas o Zé F e Silva Eira era o Navalhas, numa versão revista e restaurada. OU seria o inverso? Ferreira pigarreou, e não lhe saia da mente uma frase batida “c´um carago, temos o caldo entornadoâ€.

« Última modificação: Dezembro 16, 2015, 20:04:56 por Nação Valente » Registado
Goreti Dias
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 18616
Convidados: 999



WWW
« Responder #93 em: Dezembro 16, 2015, 19:29:04 »

Pois temos mesmo! Isso é que é imaginação!
Registado
Maria Gabriela de Sá
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 1246
Convidados: 0



« Responder #94 em: Dezembro 17, 2015, 20:30:01 »

(        (Nova Corrida, nova viagem)

         “ O caldo está mais do que entornado, para mim até já azedou!
          Vejam só que agora, além de ter um pai que não é pai, chamado José Ferreira, tenho outro que é pai sem o ser, de nome Francisco Silveira! Para o quadro ficar mais garrido, tenho um tio que é José Silva Eira, mais conhecido por “Navalhasâ€, mancomunado com o Zé pai que não o é sendo, e com um que o é não sendo! E tudo para dar cabo do M. que, coitado, está lá para Luanda a recuperar do transplante ao fígado, necessário por motivos óbvios e depois do crime bárbaro de que foi vítima. Quem haviam de arranjar para o meu Heritage! Eu, que detesto armas, neta do velho Mouzinho, o meu medalhado avô general, transformado em fidalgo por privilégio do Rei D. Luís, que Deus haja lá muito tempo sem mim. E, no meio de tudo, ainda há um semi-corno, ou corno prévio, só para falar mal e depressa! Eu sei que estou a ser dura, mas também quem me quer vender como uma ovelha da Serra de Montesinho não merece outros adjectivos.
          E esta festa que nunca mais acaba! Parece um casamento de ciganos, com duração programada para uma semana! Apesar de estarmos no melhor hotel do Pinhão, lá fora devem estar latas como se isto, em vez do meu aniversário, fosse mesmo o meu casamento. Incestuoso, além do mais! Depois, esta piroseira, com a Aidinha a sair lá de dentro do bolo, parece mesmo uma festa para gajos impotentes se excitarem e fazerem a seguir o que não podem! A rapariga está semi-nua, tinha de ser, era a única forma de a manteiga do bolo não derreter com o calor dela e da roupa.
          Perdoem-me a inconfidência mas, mais do que nunca, suspeito que o os meus “pais†tenham sido toda a vida dois mulherengos frequentadores de festas de putas rasca. Que raio de “fidalguia†a minha!
          E a rapariga continua com a sua chantagem barata, a falar de M. e a arvorar-se em catedrática do conhecimento de todas a vidas, como se fosse simultaneamente a conservadora dos Registos Civis de Carrazeda de Ansiães, Porto, Celeirós, Vila Real… Sabrosa, Provesende, do país inteiro para não me alongar mais na enumeração!
          Esperem lá que já vos digo!â€
          
          Quando a festa, finalmente, acabou e os convidados se preparavam, uns para recolherem aos seus quartos no hotel e outros para irem embora, era meia hora da noite.
          O dia fora mais longo do que um comboio de guerra que, além de tudo, tinha feito grandes estragos na história da jovem, cuja vida, dali em diante, nunca mais seria a mesma. Mas, mesmo assim, depois das palavras improvisadas que teve de proferir no contexto da fatela dramatologia, agradeceu de novo aos convidados, dirigindo-se em particular a Duarte e aos amigos animadores da festa regada a vinho, a poesia e a música em proporções razoáveis. Com uma ou outra excepção,  imputáveis ao “Cabeça de Burro†e aos outros vinhos, quando algumas cabeças mais vulneráveis ao álcool tinham toldado e amochado na sala- de-estar sobre a macieza de uma almofada onde dormiram o sono da reconciliação com a sobriedade.
          Salvo o valor de uns milhares de euros do jeep que recebera de Francisco Silveira, o presente do Duarte fora um dos mais apreciados. De facto, em Ribalonga, Gaby sentia-se, um pouco como M. quando a deixara especada na Estação do Tua a olhar o fim do comboio, longe da civilização.
           No fim de tudo, com Francisco Silveira, o pai que não era pai, a dirigir-se ao melhor quarto do hotel e cada um a ir para onde devia, de posse das chaves da viatura, Gaby insistiu com Zé Ferreira e Maria para subirem.
          A seguir,  já dentro do veículo, sem laçarote e pronto a satisfazer-lhe todos os caprichos do asfalto, a jovem arrancou com destino a Ribalonga,  tão depressa quanto as apertadas curvas subindo para Alijó o permitiam. No dia seguinte, levaria os pais à Estação do Tua, ao comboio, a fim de irem buscar o carro que ficara perto do hotel. Sozinhos talvez aproveitassem a viagem, lindíssima, além de tudo, para namorar, enquanto ela iria à vila fazer a rodagem do novo brinquedo e encontrar-se com a Patrícia e as amigas. Talvez dessem também um salto a Vila Real pela IC5, uma via mais propícia a velocidades, tal como a autoestrada A4, onde ela poderia carregar um pouco mais no acelerador.
          Impunha-se, contudo, explorar um pouco melhor a bomba, examinar-lhe a tecnologia de ponta que a deixava quase parecida com um avião.
          E assim, na capital de Trás-os-Montes, Gaby tomou a decisão de fazer uma viagem mais longa, excitada com as potencialidades do motor e de todo o resto. Iria a Lisboa visitar uma colega do curso de jornalista, a trabalhar na TVI, agendando a partida para daí a uma semana. E disso informou os progenitores, mal chegou a casa.
          Oito dias após, na véspera da partida, a jovem  meteu os farrapos indispensáveis na mala de viagem e, na manhã seguinte, saiu bem cedo ao volante do brinquedo novo,  como um ás do asfalto saboreando a liberdade.
          Sete horas depois, ao fim do dia, em Ribalonga toca o telefone fixo. Maria atende:
          - Sim filha! Já chegaste? Onde estás?
          - Mamã. Vendi o Jeep. Estou a entrar para o avião, vou a caminho de Luanda…
« Última modificação: Dezembro 17, 2015, 21:58:54 por Maria Gabriela de Sá » Registado

Dizem de mim que talvez valha a pena conhecer-me.
Goreti Dias
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 18616
Convidados: 999



WWW
« Responder #95 em: Dezembro 18, 2015, 20:48:01 »

Mas que grande volta! A velocidade do jeep não chegou, há que ir de avião rsrsrsrs
Registado
Nação Valente
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Mensagens: 1270
Convidados: 0


outono


« Responder #96 em: Dezembro 19, 2015, 21:57:43 »

O azedume do caldo

O caldo está mesmo a azedar, disse Contreiras para o sub-inspector Borges, enquanto dava um murro na secretária com tampo de vidro , todo rachado de tanta pancada levar. As cicratizes na mão do inspector eram a marcas do autor. â€Pegue no computador portátil e vamos de novo a Celeirós. Precisamos de alargar os testemunhos. Estou cada vez mais baralhado. Parece que andamos em círculos como o cão a apanhar o próprio rabo.
Entraram no velho Fiat, que sem direito a revisão lá se ia arrastando pelas novas auto estradas. Para o alcatrão não faltou dinheiro, mas para modernizar a frota da PJ “niclesâ€, desabafou Borges que chupava uma pastilha e tentava espicaçar a infeliz viatura sem sucesso. A má carburação deixava tal rasto de fumo, que intoxicava os outros condutores.
-Se a brigada de trânsito nos manda parar ficamos com o carro retido, continuou Borges, que aproveitava para malhar no Governo, que lhe tirara fatias do magro sustento.
-Acalme-se Borges, replicou Contreiras. Se nos abordarem puxamos dos galões. Os parolos borram-se todos. Vêem muitos filmes e acham que nós somos uma espécie de CSI, cheios de tecnologia e gajas boas.
A muitos custos e penas chegaram a Celeirós. Estacionaram junto ao casebre onde o investigado tinha visto a luz do dia pela primeira vez. De uma casa modesta, como as daquela rua, saiu uma personagem tão velha e tão degradada como a habitação de onde saíu. Contreiras aproximou-se e perguntou:
-Bom dia. Somos da PJ. Sabe-me dizer se ainda vive nesta casa o Silva Eira?
-Qual deles, respondeu o ancião, algo desconfiado. É que são dois, dois gémeos. Procuram o gémeo bom ou o gémeo mau, o Zé ou o António?
-Ah…os …do..is, disse Contreiras, algo atrapalhado e surpreso.
-Nenhum vive aqui. Em pequenos passaram muita fome. Foi difícil pari-los. Tiveram  que ser puxados com ferros e ficaram marcados na cara. O que lhes valia era haver muitas capoeiras para assaltar. A mãe que tinha sete bocas para alimentar, vivia de biscates. De vez em quando recebia homens, não sei se me entendem. Ela nem devia saber quem era o pai dos filhos. Quando a senhora morreu, um figurão que frequentava a casa, diziam que era do Porto, veio buscar o Zé, o gémeo bom. E deixou ficar o António, um moinante e mau activo, que já tinha folha na polícia. Mas se quiserem saber mais falem com a Gestrudes, a única fêmea da irmandade. Continua a morar na mesma casa.
Contreiras anotou a identidade do informador, agradeceu e despediu-se.
Uma mulher de meia  idade, com o rosto enrugado e os cabelos embranquecidos, abriu-lhes a porta. Depois de se apresentarem mandou-os entrar.
Borges ligou o portátil. Sentaram-se numa mesa de plástico, no meia de uma sala que também servia de cozinha. Contreiras começou o interrogatório. Gestrudes foi desbobinando a ladainha de desgraças que fora a vida da sua família. Afirmou que os irmãos se foram para ganhar a vida por esse mundo de Deus, que ali parecia que nunca tinha chegado. Ela tinha ficado e vivia com Arménio, um pedreiro da Areosa que por ali assentara arraiais, para fugir à popularidade que ganhara por causa de uma cantiga, no velho tempo dos comunas. O único que de vez em quando aparecia era o António, que os ajudava, já que o marido passava muito tempo desempregado por causa da crise. O António nunca lhe dissera o que fazia. Acrescentou que lhe telefonara a dizer que ia estar uns tempos longe. Tinha que ir para o estrangeiro, acabar um trabalho., mas não deu mais pormenores.
Contreiras atendeu o telemóvel. Malange pediu-lhe para regressarem ao Porto rapidamente. Tinha sido informado que Gabriela Ferreira partira para Luanda à revelia da família. Borges limitou-se a dizer:
-Vamos lá chefe. Não sei é se o calhambeque ainda tem forças para nos levar, massacrando sem piedade a pastilha.
…
Gabriela estava no aeroporto a fazer o check-in. Recebeu duas mensagens no telemóvel:
“És mais teimosa que uma mula. Já te mandei duas cartas para te avisar que tens que te afastar de M e tu estás a fazer tudo ao contrário. Deves gostar de sarilhos. Não te metas nesse avião.â€
“O que se passa filha? Perdeste o juízo ? Que vais fazer para Angola? Pensa bem. Não te metas nesse avião.â€
Gaby, pela primeira  vez na vida, não hesitou. Estava determinada a ir procurar M e a usar toda a sua sedução para concluir o que fora começado, numa noite fria na velha estação da Régua. Estava  disposta a ir muito além daqueles beijos chochos que M lhe dera quando subiu para o comboio. Até tinha comprado na Avenida da Liberdade, uma lingerie de acordar um morto e que lhe custara os faróis do jipe. Assim M correspondesse.
O avião da TAP chegou ao aeroporto de Luanda à hora prevista. Quando procurava um táxi que a levasse ao hotel, Gaby ,pareceu-lhe estar a ser seguida. Pelo retrovisor viu uma figura esguia com óculos escuros e boné. “O caldo está mesmo azedo†pensou.
Contreiras mandou um ofício para a polícia angolana onde pedia protecção especial para o cidadão português Matias Azevedo.
« Última modificação: Dezembro 20, 2015, 16:24:44 por Nação Valente » Registado
Goreti Dias
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 18616
Convidados: 999



WWW
« Responder #97 em: Dezembro 20, 2015, 17:23:31 »

A proteção consistirá também em manter afastada a Gaby? É que, a ser assim, mais valia ter guardado os faróis do jeep rsrsr
Registado
Nação Valente
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Mensagens: 1270
Convidados: 0


outono


« Responder #98 em: Dezembro 29, 2015, 17:35:07 »

O mau, o bom e o vilão

António F. Silva Eira, mais conhecido como Navalhas, estava em Angola como empresário da construção. Sentado numa explanada da marginal a observar a baía e a descascar uma apetitosa lagosta, não passou despercebido ao empregado do restaurante, a destreza com que a descascava com uma navalha de ponta e mola. Depois de degustar o crustáceo limpou as mãos pegou no telemóvel e digitou “dificuldade em concretizar operação. M é uma ilha rodeada de seguranças. G entrou para essa fortaleza. Nada mais sei. Só ela poderá dar notícias†A resposta chegou célere: “mudança de planos; regresse de imediato, via Maputo, de forma natural e discreta; quando chegar receberá novas ordensâ€.
Às três da tarde do dia seguinte, Navalhas desembarcou no aeroporto Sá Carneiro. Após anunciar a chegada ao seu interlocutor, recebeu nova mensagem “solução final; siga para o laboratório do Silveira. Chegou a hora do traste.†Silva Eira apanhou um táxi e dirigiu-se ao laboratório no seu papel de executivo. Conseguiu ludibriar a segurança e dirigiu-se ao gabinete de Silveira, com a sua mala de executivo. Abriu a porta e entrou.
Silveira confundiu-o com o seu secretário e continuou debruçado sobre os relatórios que estava a consultar, embora achasse estranho que ele entrasse sem se anunciar.
-Que se passa Zé?
Como resposta sentiu a frieza do aço encostada ao pescoço.
-Zé, que te deu, isto não é altura de brincadeiras.
Isto não é uma brincadeira. Navalhas não brinca em serviço. Aproveita este breve instante para encomendares a tua alma. A lâmina começou a escorregar lentamente. Silveira percebeu o que estava a acontecer. Tentou ganhar tempo. Discretamente carregou num botão. Balbuciuou:
-Se queres dinheiro diz quanto. Cubro a parada do mandante.
-Sou um profissional, não sirvo a dois senhores.
Navalhas  sentiu um forte puxão no braço, que se afastou de Silveira, mas não largou a navalha, procurando atingir o seu agressor, mas este consegui torcer-lhe o braço e imobilizá-lo.
-Que estás a fazer louco? Disse Zé F Silva Eira. Queres matar o teu próprio irmão?
-Meu irmão este embusteiro? Quem te meteu essa peta na cachimónia: Foi ele quando te foi buscar a Celeirós  para esconder a sua verdadeira origem, para usurpar um apelido que não lhe pertence? Esse aldrabão  não é filho do Silveira, mas provem da família  Ferreira, do alto Douro.
Alto e pára o baile. Este Navalhas saiu-me pior que a encomenda. Então agora um personagem toma a rédea nos dentes e quer-se substituir ao narrador. Mas que é isto? Tem que seguir o papel que lhe foi atribuído, em vez de procurar alterar o rumo dos acontecimentos. Vamos lá pôr os pontos nos is ou colocar o comboio nos carris.
.
-Para que é que estás a armar ao pingarelho? disse Zé Silva Eira. Não baralhes mais as coisas, nem faças descarrilar o comboio que era o teu plano para liquidar o M.  Nasceste para ser o mau, fizeste o teu currículo e agora vais assumir até ao fim. Foste colocado no lado negro da história e aí que tens que estar. Se assim não fosse, não tinhas esfaqueado o M, a Gaby já estava há muito de cama e pucarinho com ele, não tinha havido novela e tu passavas pela vida numa não-existência. Assume e confessa para quem trabalhas. Além de mais, sabes bem, que a mãe de Francisco, a dona Perpétua, era uma senhora acima de qualquer suspeita.
-Não me venhas com essa conversa mole, disse o Silva Eira mau. A mãe de Francisco não passava de uma beata, sempre metida nas sacristias e debaixo da batina dos padres. Também com o marido sempre ausente e tão ocupado como querias que fosse? Foi assim que nas festas de Celeirós do Douro se envolveu com um padre do ramo dos Ferreira e emprenhou do Francisco.
Francisco que se mantivera calado e expectante, abriu uma gaveta da secretária e agarrou uma pistola, levantou-se e apontou-a a Navalhas.
-Eu enfio um balázio nos cornos desse energúmeno. Se há coisa que não tolero é que insultem a memória da minha mãe-uma santa- e a honra do meu pai, um cavalheiro, mulherengo, é certo, mas cavalheiro.
-Calma mano, calma mano velho, não te precepites, nem estragues a tua vida por causa deste meliante. A justiça será feita pela justiça.
Silveira pousou a pistola, pegou no telefone para chamar a polícia. Navalhas aproveitou a distracção, deu encontrão ao Zé e fugiu.  Este levantou-se e ia persegui-lo, mas Francisco disse:
-Deixa-o ir. Vamos segui-lo. Vai levar-nos até ao vilão. Segue no meu carro com a Aida . Eu vou no carro da empresa com os inspectores Malange e Contreiras.
Ufa! estava a ver que esta história estava em rédea solta e nunca mais entrava nos eixos. Não é fácil ser narrador com estes personagens. Afinal tudo farinha do mesmo saco. Vamos lá seguí-los pelas margens do Douro. O drama acentua-se. Talvez haja mais surpresas.
« Última modificação: Janeiro 28, 2016, 22:29:44 por Nação Valente » Registado
Goreti Dias
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 18616
Convidados: 999



WWW
« Responder #99 em: Dezembro 30, 2015, 20:19:28 »

Mas que rebeldes! rsrsr
Registado
Dionísio Dinis
Moderador Global
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Masculino
Mensagens: 9797
Convidados: 0



WWW
« Responder #100 em: Janeiro 13, 2016, 06:46:25 »

Estou à espera de mais...
Registado
Alice Santos
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 1142
Convidados: 0


De mãos dadas pela poesia.


« Responder #101 em: Janeiro 14, 2016, 16:43:58 »

Os carros das empresas dão para tudo!...  Cheesy
Gostei!
Registado
Goreti Dias
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 18616
Convidados: 999



WWW
« Responder #102 em: Janeiro 18, 2016, 20:31:03 »

Quem continua?
Registado
Nação Valente
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Mensagens: 1270
Convidados: 0


outono


« Responder #103 em: Janeiro 18, 2016, 21:21:52 »

Estou pronto para continuar, mas tenho estado à espera dos  outros autores. Será que estão sequestrados?
Registado
Goreti Dias
Contribuinte Activo
*****
Offline Offline

Sexo: Feminino
Mensagens: 18616
Convidados: 999



WWW
« Responder #104 em: Janeiro 19, 2016, 15:59:23 »

Pode escrever sobre isso rsrsrs
Registado
Páginas: 1 ... 5 6 [7] 8 9 10   Ir para o topo
  Imprimir  
 
Ir para:  

Recentemente
[Maio 02, 2024, 23:01:07 ]

[Maio 02, 2024, 22:33:10 ]

[Maio 02, 2024, 22:32:40 ]

[Abril 30, 2024, 14:23:56 ]

[Abril 03, 2024, 19:27:07 ]

[Março 30, 2024, 19:58:02 ]

[Março 30, 2024, 19:40:23 ]

[Março 17, 2024, 22:16:43 ]

[Março 12, 2024, 00:13:37 ]

[Março 11, 2024, 23:55:47 ]
Membros
Total de Membros: 792
Ultimo: Leonardrox
Estatísticas
Total de Mensagens: 130136
Total de Tópicos: 26760
Online hoje: 536
Máximo Online: 964
(Março 18, 2024, 08:06:43 )
Utilizadores Online
Users: 0
Convidados: 509
Total: 509
Últimas 30 mensagens:
Novembro 30, 2023, 09:31:54
Bom dia. Para todos um FigasAbraço
Agosto 14, 2023, 16:53:06
Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Setembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Setembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Setembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
Março 10, 2021, 20:33:13
Boa feliz noite para todos.
Março 05, 2021, 20:17:07
Bom fim de semana para todos
Março 04, 2021, 20:58:41
Boa quinta para todos.
Março 03, 2021, 19:28:19
Boa noite para todos.
Março 02, 2021, 20:10:50
Boa noite feliz para todos.
Fevereiro 28, 2021, 17:12:44
Bom domingo para todos.
Powered by MySQL 5 Powered by PHP 5 CSS Valid
Powered by SMF 1.1.20 | SMF © 2006-2007, Simple Machines
TinyPortal v0.9.8 © Bloc
Página criada em 0.241 segundos com 28 procedimentos.